22 janeiro 2011
A educação sexual em grupo exige cautelas especiais, visto que nem todos os membros de um grupo estão no mesmo grau de desenvolvimento psicológico e experimentam os mesmos problemas. Em particular, os grupos mistos de meninos e meninas hão de ser abordados com grande cuidado (nº 72). Pais, professores e peritos procurem colaborar entre si (n.os 73-75).Além da família e da escola, exercem influência na formação da personalidade os grupos de jovens, nos quais os adolescentes e jovens exercem atividades do seu tempo livre. Na verdade, “a maturação da personalidade não é possível sem relações interpessoais eficientes” (nº 77).
III. Condições e modalidades da educação sexual
Visto ser complexa e delicada, a tarefa da educação sexual requer
- educadores à altura da tarefa, que gozem de maturidade afetiva, possuam boa formação profissional, religiosa e espiritual, recorram aos princípios cristãos e aos canais da graça (n.os 78-82).
- métodos adaptados a cada situação, ao tipo pessoal do educando e aos objetivos a ser atingidos (nº 83); tais métodos respeitem a gradualidade ou o ritmo de evolução física e psicológica do educando (nº 84s).
Informação progressiva significa informação parcelada, mas sempre correspondente à verdade; esta nunca seja deformada por reticências enganadoras ou por falta de franqueza. Doutro lado, leve sempre em conta o pudor da criança (nº 87). Além do mais, requer-se que o educador transmita sempre o conhecimento dos valores que dão sentido às informações biológicas, psicológicas e sociais; “Ao apresentarem as regras morais, é necessário que dêem a compreender qual a sua razão de ser e que valores elas implicam” (nº 89).
O pudor, componente fundamental da personalidade, pode ser considerado como a consciência que defende a dignidade do ser humano e o autêntico amor. Reage diante de certas atitudes e freia certos comportamentos que afetam a dignidade da pessoa. É meio necessário para dominar os instintos, incentivar o amor genuíno e integrar a vida afetivo-sexual na harmonia da personalidade (nº 90).
Os laços de amizade entre jovens de sexos diferentes contribuem para a mútua compreensão, se mantidos dentro dos limites do normal. Caso, porém, se concretizem em manifestações de tipo genital, já deixa de ser amizade madura e põe em perigo tanto um eventual casamento quanto um possível chamado à vida consagrada (nº 93).
IV. Alguns problemas particulares
1) No tocante às relações pré-matrimoniais, a educação sexual deve levar a compreender que o verdadeiro amor é abertura para o outro, com respeito do mesmo, ou sem egoísmo; é amor que não procura a si mesmo, mas se faz oblativo, não possessivo. O instinto sexual, entregue a si mesmo, tente à prática da genitalidade e à procura de imediato prazer” (nº 94).
2) As relações de intimidade só têm sentido no contexto do casamento, porque somente esta garante a comunhão de vida necessária à fecundidade ou à prole. É por isto que relações sexuais fora do matrimônio vêm a ser “grave desordem, porque são expressão reservada a uma realidade que ainda não existe: constituem uma linguagem que não se verifica na realidade de vida das duas pessoas que ainda não criaram entre si uma comunhão definitiva” (nº 95).
3) O autoerotismo ou a masturbação é outra grave desordem moral, pois vem a ser o uso da genitalidade de maneira que contradiz à finalidade desta; ela não é serviço do amor e à vida conforme o desígnio de Deus (nº 98).
Do ponto de vista educativo, é preciso levar em conta que “a masturbação e as outras formas de autoerotismo são os sintomas de problemas muito mais profundos, que provocam uma tensão sexual que o sujeito procura resolver recorrendo a esse comportamento”.
“Ao mesmo tempo que se leva em conta a gravidade objetiva da masturbação, o educador deve ter a prudência necessária na avaliação da responsabilidade subjetiva das pessoas” (nº 99).
Para ajudar a libertar alguém da homossexualidade, o educador deverá procurar que se integre na sociedade, se abra aos outros e se interesse por eles, para poder emancipar-se do autoerotismo e cultivar o amor oblativo. Exortá-lo-á também a recorrer aos meios ascéticos cristãos, como a oração e os sacramentos, a prática da justiça e da caridade (nº 100).
4) A homossexualidade não pode ser justificada, pois as relações homossexuais. Objetivamente falando, carecem de uma dimensão essencial e indispensável ao verdadeiro amor (nº 101).
A tarefa da família e do educador consistirá em procurar, antes do mais, as causas que levam à homossexualidade; será devida a fatores psicológicos ou fisiológicos? Será o resultado de falsa educação ou da ausência de evolução sexual normal? Provém de costumes adquiridos ou de maus exemplos ou de outros fatores?… “Será preciso também levar em conta elementos de ordem diversa: falta de afeição, imaturidade, impulsos obsessivos, sedução, isolamento social, depravação de costumes, licenciosidade dos espetáculos e das publicações. No fundo de tudo, descobre-se a fraqueza congênita do homem, consequência do pecado original; pode levar à perda do sentido de Deus e ter repercussões no setor da sexualidade” (nº 102).
Depois de haver descoberto as causas, a família e o educador procurarão promover o crescimento integral do indivíduo homossexual: criarão um clima de confiança, provocarão a sua capacidade de autodomínio e de conversão ao amor de Deus e do próximo, “sugerindo – se necessário – o recurso à assistência médico-psicológica de pessoas conscientes e respeitosas do que a Igreja ensina” (nº 103).
5) Drogas (…) “Uma sociedade permissiva, que não ofereça verdadeiros valores…, favorece evasões alienante às quais os jovens estão sujeitos de modo particular. A carga de idealismo destes choca-se com a dureza da vida – o que cria uma tensão que pode provocar, por causa da fraqueza da vontade, uma destruidora evasão para a droga (…).
Certas substâncias psicotrópicas aumentam a sensibilidade ao prazer sexual e diminuem de modo geral a capacidade de autocontrole… O prolongado abuso da droga leva à destruição física e psíquica (…). A situação psicológica e o contexto humano de isolamento, de abandono, de revolta no qual vivem os drogados, criam condições tais que levam facilmente a abusos sexuais” (nº 104).
6) Reeducação e ação preventiva. A reeducação que exige transformação interna e externa do indivíduo, é dolorosa e longa, porque deve ajudar a reconstruir a personalidade e suas relações com o mundo dos homens e dos valores.
A ação preventiva é mais eficaz. Permite evitar as carências afetivas profundas.
Em particular, “o esporte ao serviço do homem possui grande valor educativo, não só como disciplina corporal, mas também como ocasião de sadia distensão, na qual o sujeito se exercita a renunciar ao egoísmo e a se confrontar com os outros. Somente uma liberdade autêntica, educada e sustentada, defende o indivíduo contra a procura das liberdades ilusórias, da droga e do sexo” (nº 105).
Conclusão
“É urgente ministrar às crianças, aos adolescentes e aos jovens uma educação afetivo-sexual positiva e progressiva, conforme as disposições do Concílio. O silêncio não é regra válida de conduta nesta matéria, principalmente se pensamos nos muitos “pregadores ocultos”, que utilizam uma linguagem insinuante. A sua influência atualmente é inegável; toca aos genitores vigiar não só para reparar os danos causados pelas intervenções inoportunas e nocivas, mas principalmente para imunizar a tempo os seus filhos oferecendo-lhes uma educação positiva e convincente” (nº 106).
II. COMENTÁRIO
Poderíamos resumir em oito proposições o conteúdo do valioso documento da Santa Sé:
1) A educação sexual é indispensável para promover a maturidade afetiva dos adolescentes e jovens e integrar amor, sexualidade e genitalidade na harmonia de uma personalidade bem formada.
Esta afirmação é o ponto de chegada de uma abertura crescente da Igreja para a problemática em foco. Com efeito,
- em 31/12/1929, pio XI na encíclica “Divini Illius Magistri” declarava errônea a educação sexual tal como se apresentava naquela época, ou seja, como informação naturalista, ministrada precocemente e sem discernimento. Cf. “Acta Apostolicae Sedis” 22, 1030, p. 49-86;
- nesta perspectiva deve ser lido o decreto do S. Ofício de 21/03/1931. Todavia Pio XI aceitava a possibilidade de uma educação sexual positiva, individual, “dada por aqueles que receberam de Deus uma missão de educadores e a graça de estado” (ib., p. 71);
- a valorização positiva da educação sexual assinalada por Pio XI foi gradualmente desenvolvida pelos Papas seguintes. Pio XII, em seu discurso ao V Congresso Internacional de Psicoterapia e de psicologia Clínica, de 13/04/1953, e na alocução aos membros da Ação Católica Feminina de 26 de outubro de 1941, determina como há de ser conduzida a educação sexual no quadro da família. Vejam-se também os discursos aos Carmelitas (AAS 43, 1951, pp. 734-738), e a casais franceses (AAS 43, 1951, pp. 730-734). O magistério de Pio XII abriu o caminho à Declaração (Gravissimum Ecucationes” nº 7 do Concílio do Vaticano II e a posteriores pronunciamentos da Igreja.
2) Educação sexual não é apenas instrução sexual, anatômica e fisiológica, mas é também apresentação dos valores morais que se prendem à sexualidade, transmissão do sentido da vida e do amor, assim como despertar de sólidos hábitos virtuosos.
3) A educação sexual há de ser oferecida gradativamente, de acordo com a evolução e as necessidades do educando, de modo a não antecipar problemas, mas, antes, favorecer o desabrochamento tranqüilo dos afetos.
4) Por isto a educação sexual deve ser, de preferência, ministrada individualmente e só com muita cautela em grupos. É preciso que o educador leve em conta as peculiaridades de cada um dos educandos, o que mais dificilmente se faz em grupo.
5) Os primeiros ministros da educação sexual são os genitores ou a família, que, mais do que ninguém, é apta a conhecer a psicologia e a individualidade dos respectivos filhos.
6) À escola toca continuar e complementar a função educadora dos pais, procurando manter diálogo e colaboração estrita com estes.
7) É necessário que o educador, no caso, seja pessoa habilitada para tanto. isto exige dos noivos e dos genitores certo preparo para transmitirem a seus filhos sólida formação moral e sexual. Exige também dos profissionais da escola competência específica. E de todos requer a prática do autodomínio, da maturidade afetiva, da oração e da vida sacramental para que possam comunicar, como cristãos, os autênticos princípios da formação da personalidade.
Em síntese, o documento em pauta é mais um pronunciamento da Igreja que visa a despertar ou avisar no homem a consciência da sua dignidade, ameaçada pelo materialismo e hedonismo de nossos dias. A atitude assumida pela Igreja é um serviço à humanidade, prestado com espírito de abnegada dedicação.
fonte:http://www.cleofas.com.br/ver_conteudo.aspx?m=doc&cat=92&scat=185&id=1971

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