Entrevista com Dom Carlos Humberto Malfa, bispo de Chascomús
CHASCOMÚS, terça-feira, 27 de setembro de 2011 (ZENIT.org)
– Na Argentina, a Comissão de Legislação Penal discutiria hoje sete
projetos a favor do aborto. No entanto, este debate foi adiado para o
dia 1º de novembro.
Os líderes de algumas confissões cristãs
quiseram e unir para pronunciar-se a favor da vida, com o documento
intitulado “Compromisso pela vida”.
ZENIT entrevistou, a propósito do tema, Dom Carlos Humberto Malfa,
bispo de Chascomús e presidente da Comissão de Ecumenismo, Relações com o
Judaísmo, Islã e Religiões, da Conferência Episcopal Argentina.
ZENIT: Antes desta iniciativa, os líderes de diversos credos na Argentina tiveram outros diálogos ecumênicos?
Dom Malfa: Certamente. Na Argentina, desde o Concílio Vaticano II,
aprofundou-se em um trabalho pela oração, o diálogo e o testemunho comum
de todos os que cremos em Cristo. Na última década, a Igreja Católica
na Argentina encontrou a possibilidade de relacionar-se com comunidades
evangélicas livres, batistas e pentecostais, com alguns de cujos grupos
se realizaram encontros de oração em torno da Palavra de Deus. A relação
é muito fraterna e cálida com os bispos ortodoxos do Patriarcado
Ecumênico, Antioquia, Moscou, os das antigas igrejas orientais, o bispo
siro-ortodoxo de Antioquia e da Igreja Apostólica Armênia.
ZENIT: O senhor acha que isso representa um passo adiante no processo de diálogo e aproximação com relação a outros credos?
Dom Malfa: O documento “Compromisso pela vida”, que elaboramos,
exigiu a docilidade de todos à ação do Espírito, encontrar-se, dialogar,
escutar-se, coordenar esforços e, nesse processo, nós nos sentimos
muito próximos, trabalhando como irmãos. Sim, fortaleceram-se os laços
de comunhão. Recebemos significativas adesões posteriores e outras ainda
chegarão. Como católicos, alegra-nos muito o caminho realizado com
batistas e pentecostais, que também assinam o documento.
ZENIT: Como o senhor vê, em geral, a situação do diálogo inter-religioso na Argentina?
Dom Malfa: Estamos agradecidos e esperançosos com relação ao que se
conseguiu na relação com o judaísmo e no diálogo inter-religioso, em
particular com os muçulmanos. Esta relação de amizade e fraternidade se
reproduz em muitos lugares da Argentina, país pluralista em sua
composição, ainda que majoritariamente católico, pela riqueza da
contribuição da imigração, de diversas religiões e procedências; então, o
diálogo da vida na convivência cotidiana precedeu e abriu quase
naturalmente o diálogo entre culturas e religiões.
Nossa comissão episcopal, por exemplo, inclui em seu título as
“relações com o judaísmo, o islã e as religiões”, sinal da amplitude do
nosso compromisso, que se refletirá no dia 11 de outubro, quando, no
claustro do histórico Convento de São Francisco, nos reuniremos para
comemorar, com espírito de “Peregrinos da Verdade, Peregrinos da Paz”,
os 25 anos do profético e histórico Encontro de Assis, convocado pelo
inesquecível Beato João Paulo II em 1986.
ZENIT: O senhor acha que, com outras igrejas cristãs, existem pontos em comum sobre os quais se pode continuar dialogando?
Dom Malfa: Antes de concluir a sua missão como presidente do Conselho
Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal Kasper,
que visitou a Argentina em três oportunidades, publicou o livro “Colher
os frutos”, no qual aborda os resultados do esforço de quatro décadas do
diálogo da Igreja Católica com a Comunhão Anglicana, luteranos,
metodistas e reformados, com o compromisso de prosseguir o diálogo com
essas e outras confissões, com o acento colocado no ecumenismo
espiritual, alma de todo o movimento ecumênico: sem conversão do
coração, sem oração, sem purificação da memória, não estaríamos semeando
em terra boa.
ZENIT: E quais são estes pontos?
Dom Malfa: O primeiro e fundamental é anunciar Cristo, nosso Senhor e
Salvador, em um mundo tentado pelo esquecimento de Deus, pela perda de
valores e sentido da vida. A Palavra de Deus é lugar de encontro dos
cristãos, como se manifestou no último sínodo e na posterior exortação
apostólica, Verbum Domini; examinar-nos juntos, na nossa fidelidade à Palavra, abre ao diálogo da caridade e da verdade.
ZENIT: De que outras maneiras os líderes religiosos podem, na Argentina, continuar lutando contra as manifestações da “cultura da morte”?
Dom Malfa: Remito-me à declaração “Não uma vida, mas duas”, da
Comissão Permanente do Episcopado Argentino, do último dia 18 de agosto.
Lá se proclama que a vida é um presente que recebemos de Deus e que
torna possível todos os outros bens humanos. Mais adiante, lemos: “Uma
decisão legislativa que favorecesse a despenalização do aborto teria
consequências jurídicas, culturais e éticas. As leis vão configurando a
cultura dos povos e uma legislação que não protege a vida favorece uma
cultura da morte. A lei, enquanto base de um ordenamento jurídico, tem
um sentido pedagógico para a vida da sociedade”.
Depois, os bispos dizem: “Convidamos os nossos fiéis leigos e todos
os cidadãos a refletirem e expressar-se com clareza a favor do direito à
vida humana”. E no parágrafo conclusivo: “Longe estamos de desejar que
este debate provoque mais divisões na sociedade argentina. Solicitamos,
por isso, que as expressões vertidas sobre este tema se realizem com o
máximo respeito, eliminando toda forma de violência e agressividade, já
que estas atitudes não estão à altura do valor e da dignidade que
promovemos”.
Para terminar, eu diria que, como discípulos de Cristo, católicos e
cristãos de outras confissões têm uma boa notícia para transmitir, que
provém do próprio Deus e que Ele semeou em todos os corações: “O
Evangelho da Vida”.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.