[IHU]
27/9/2011
“O balanço
da visita do Papa à Alemanha pode ser qualificado como triunfante,
diferente e esperançosa, mas também como decepcionante em boa medida”, escreve José
Manuel Vidal, em artigo publicado no sítio espanhol Religión Digital,
25-09-2011. A tradução é do Cepat.
Eis o
artigo.
As viagens
do Papa sempre são anunciadas como difíceis. Sobretudo, aquelas que
realiza para a descrente Europa secularizada. E apesar das dificuldades, Bento XVI é capaz de
transformar a agonia da vindima em suave vinho, como ele mesmo disse em seu
país natal. Por isso, o balanço da visita do Papa à Alemanha pode ser
qualificado como triunfante, diferente e esperançosa, mas também como
decepcionante em boa medida.
Triunfante. Primeiro, por ser a viagem de um Papa. A túnica muda tudo e,
neste mundo globalizado, se converteu em um ícone planetário e em uma
referência de autoridade moral. Sobretudo, ad extra. Segundo, por ser um
Papa alemão em visita ao seu país natal. O orgulho alemão se impôs
inclusive ao ateísmo rebelde de Berlim. O Papa jogou em casa. Os
alemães, neste momento, dominam o mundo. E não apenas economicamente, mas
também espiritualmente. Um alemão no trono de Pedro. E, além de Papa e
de alemão, Bento XVI é um intelectual. Dos poucos que restam. E isso é
um convite para escutá-lo. Sempre se aprende de um Papa sábio e ancião
e, portanto, livre. E, se a isso acrescentarmos a doçura que transmite e a
humildade de sua desenvoltura, o sucesso está garantido. O Papa de Roma
não impõe (nem sequer por seu porte externo); ele propõe, oferece e sorri.
Diferente. Uma visita simples, sóbria, austera, mas sempre eficaz. Ao estilo
alemão. Algo que se notou especialmente nos ambientes que, de tão simples,
convidavam para se centrar no Papa. Sem árvores da vida, como em Madri,
nem parafernálias adjacentes. Decorados, na maioria dos casos, com uma simples
cruz. E alguma imagem da Virgem. Cristo, a Virgem e o Papa. E música,
muita música clássica.
Uma visita
diferente, sobretudo, pelo comportamento de suas autoridades políticas máximas.
É verdade que também era uma visita de Estado. E os
políticos, nestes casos, têm que seguir protocolos mínimos. O que Zapatero
fez na visita do Papa a Madri, por exemplo. Mas, na Alemanha, tanto o presidente
da República como a chanceler, Angela Merkel, foram muito além do
protocolo. Não apenas receberam e despediram o Papa, mas participaram de
várias celebrações religiosas. Entre elas, uma missa católica e uma celebração
ecumênica. Chama fortemente a atenção o fato de que Angela Merkel,
protestante e filha de pastor protestante, participasse da missa no Estádio
Olímpico de Berlim. E até cantasse os cânticos católicos. Ecumenismo em
ação. Laicismo bem entendido. Reconhecimento político da religião como fator
social essencial das sociedades democráticas. Orgulho de raízes cristãs
compartilhadas.
Decepcionante. Os alemães, sobretudo os protestantes, mas também os
católicos, esperavam mais do Papa na questão ecumênica. Pediam e queriam passos
concretos de aproximação. E o Papa ficou pela metade. Por um lado, reabilitou Lutero,
visitando seu mosteiro e proclamando-o um “apaixonado de Deus”. Nada mais. Sem
ir além disso. Sem passar do ecumenismo teórico ao prático. E isso frustrou e
decepcionou os seus conterrâneos e muitos outros crentes de ambas as confissões
irmãs. A unidade segue sendo uma questão pendente. E, pelo que tudo indica, a
Igreja de Roma segue com a pretensão de querer impor o ecumenismo do lobo que,
para conseguir a unidade, come as ovelhas que se encontram fora do redil.
E
decepcionante, porque seu último discurso às “forças vivas”
da Igreja alemã soou como puxão de orelha, como clara repreensão. Um convite
para fechar fileiras no caminho
restauracionista marcado pelo Papa Ratzinger. Tudo muito bem
explicado, como corresponde a um grande teólogo, mas com uma mensagem clara: é
preciso desmundanizar a Igreja. O que, na linguagem clerical, quer dizer que é
preciso seguir o caminho da involução. Nem janelas nem portas abertas. A Igreja
de Bento se petrifica. À espera de um novo Papa? No momento em
que Bento XVI dizia isto na Alemanha, na Itália tornava-se público a
informação de que o Papa estaria pensando em apresentar sua renúncia em
2012, quando vai completar 85 anos.
Esperançosa. Mais prós que contras na viagem, evidentemente. E uma conclusão
esperançosa: a fé tem presente e futuro inclusive nos países mais ricos e
secularizados do Ocidente. Deus não morreu. Volta (talvez nas asas da crise) a
sede de Deus às consciências das pessoas. A Igreja, que havia vencido o
comunismo e havia sobrevivido ao nazismo e a todas as demais ideologias da
História, parecia destinada a sucumbir diante do capitalismo comunista e do
hedonismo mais descontrolado das sociedades opulentas. Mas Roma, mais uma vez,
acaba ganhando a batalha. A fé já não será majoritária, mas continuará sendo
relevante. Uma minoria influente, qual fermento na massa. Como queria o próprio
Cristo.

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