Reflexões à margem da "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos"
ROMA, quarta-feira 25 de janeiro de 2012 (ZENIT.org)
.- Uma leitura da figura de Maria Santíssima, sem dúvida interessante,
pelas ricas e articuladas implicações que inevitavelmente sugere, é
aquela “eclesial”. Também atendo-nos estritamente ao dado bíblico, é
evidente como a sua experiência, única, de Deus, a sua particularíssima
relação com o Altíssimo – cuja Palavra, expressão da Vontade divina, se
torna o critério fundamental da sua vida e das suas escolhas – nunca se
resolvem somente no mistério do seu Coração, mas se expandem, envolvendo
o seu “próximo”: seja o esposo, São José; Isabel e a sua família; os
Pastores; os anciãos Simeão e Ana; os esposos de Caná.
O
"Evangelho da Infância", como nos foi narrado por Mateus e Lucas,
insiste neste caráter “eclesial” da Virgem, que, quase por instinto
espiritual, por uma particular moção do Espírito, é levada sempre à
unidade, a buscar constantemente novos motivos e canais de diálogo na
Fé, estendendo os confins da sua caridade a todos aqueles que Jahweh faz
entrar no seu caminho. É Mulher de comunhão, promotora infatigável
daqueles laços no Espírito que não remontam nem à carne e nem ao sangue,
mas que encontram somente em Deus a sua origem e a sua fonte (cf. Jo
1,13).
A Mãe de Deus, em toda parte, promove a realização daquela dimensão
nova, inaugurada pela Encarnação e oficialmente promovida pelo mesmo
Cristo, que chama os seus discípulos antes de mais nada a estar com Ele
(cf. Mc 3,14), para compartilhar sua vida num seguimento sempre mais
exigente e radical. Nesta nova “geração no Espírito” é colocada a Virgem
Santa. Cada ícone Evangélico mariano oferece como uma nova perspectiva
para compreender o mistério de Cristo e da Igreja, contemplado por
ângulos diferentes.
Na anunciação o cenário não se restringe somente ao colóquio com o
Anjo, mas rapidamente abre-se a dimensões universais: Aquele que nascerá
será portanto santo e chamado Filho do Altíssimo. O que acontece no
segredo do Coração e na reserva dos muros domésticos tem imediatamente
um reflexo universal, que transcende os limites estreitos da
"privacidade", para tornar-se património de todos, referência perene e
paradigma para o discípulo do Senhor. Cada gesto, cada moção, cada
desejo do Coração Imaculado são por isso “eclesiais”, contribuem para
fazer crescer na Fé o povo de Deus, que, de geração em geração, teria
atraído luz e Graça dos mistérios vividos pela Virgem. A visitação nos
oferece uma imagem vivaz, concreta e "famíliar" de Igreja, que parece
realizar plenamente as palavras de Jesus: onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles (cf. Mt 18,20 ). No meio,
entre as duas mulheres, está o Filho de Deus, cuja presença é sentida
por Isabel – donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? –
E de João que exulta de alegria messiânica no seio materno.
Este não é certamente o lugar para rever todos os inumeráveis passos
do Evangelho, que testemunham, numa luz sempre nova, a relação
inseparável entre o mistério da Virgem e o mistério da Igreja: basta
pensar em Caná, na Cruz, na "vida pública" do Senhor. Qualquer
referência evangélica – que identifica Maria como a discípula por
excelência, a Filha de Sião, a Arca da Aliança – confirma a riqueza
surpreendente de temas e de tons, que ajudam a esclarecer e aprofundar o
nexo vital e indispensável de Maria com a comunidade cristã.
Com base nestas observações simples, a pessoa de Maria Santíssima, ao
invés de ser quase um obstáculo ao diálogo ecuménico, pelo contrário
parece abrir novos caminhos de coesão e de comunhão entre os crentes em
Cristo.
Outra razão parece confirmar essa "descoberta" elementar: a
descoberta, no coração e na vida, de uma sincera "paixão ecuménica",
sobretudo naqueles que cultivaram uma especial devoção mariana. Vem
imediatamente à mente o exemplo de João Paulo II, apóstolo incansável do
diálogo, promotor de encontro e de relação com todas as Igrejas e
consagrado a Deus pelas mãos de Maria Santíssima. O amor filial por Ela
aumentou a sensibilidade ecumênica do Pontífice, que percorreu caminhos
sempre novos de comunhão e reconciliação, oferecendo gestos de amizade,
de disponibilidade, de perdão. A expressão "Totus tuus" significa a
total adesão aos desejos da Virgem Maria, não menos importante, da
unidade de todos os discípulos de Cristo, ou seja de todos os seus
filhos.
Os atos dos Apóstolos começam com o famoso ícone da Virgem Maria,
assídua na oração com os apóstolos e com os "irmãos" de Jesus (cf. At
1,14). Parafraseando a expressão e estendendo-a para além dos limites do
estreito “parentesco” carnal de Cristo, podemos tomá-la como um
renovado desejo de plena comunhão entre os crentes: apesar de
"separados", permanecem irmãos do Senhor, em virtude da mesma fé no
Ressuscitado e daquela original participação na Igreja nascente, cuja
Mãe está presente, com a missão particular de favorecer a caridade e de
interceder sem cessar o dom do Espírito.
É claro, os passos a serem dados ainda são muitos: por isso mesmo,
mais ainda, nós confiamos naquela materna intercessão, que reconduza a
Igreja à primitiva unidade e faça realmente dos cristãos "um só coração e
uma só alma" (cf. Atos 4, 32), como a comunidade de Jerusalém há 2000
anos atrás.
Pe Mario Piatti, icms

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