Homilia da noite de natal: Bento XVI reza pela paz no Oriente Médio
Por Luca Marcolivio
ROMA, 26 de Dezembro de 2012 (Zenit.org)
- O esplendor de Deus pode nos assustar, mas a realidade de um Deus que
se torna bebê e "se confia às nossas mãos" para que "ousemos amá-lo"
continua a nos comover. Com estas palavras, o papa Bento XVI abriu a
homilia da missa da véspera de natal na basílica vaticana.
Assim
como Maria e José procuraram abrigo para dar à luz o filho e não
encontraram, também pode ser que o nosso coração se veja muitas vezes
despreparado para receber a Deus. "Temos tempo e espaço para ele? Não
será que rejeitamos nós também o próprio Deus?", perguntou o Santo
Padre.
A resposta é paradoxal: "Quanto mais rápido nos movemos, quanto mais
eficazes são as ferramentas que nos ajudam a economizar tempo, menos
tempo temos à nossa disposição" para dedicar a Deus. E mesmo quando Ele
"parece bater à porta do nosso pensamento", tendemos a afastá-lo.
Estamos "cheios de nós mesmos", disse o papa, a ponto de não deixar
espaço para Nosso Senhor. "Queremos nós mesmos, queremos as coisas que
podemos tocar, a felicidade experimentável, o sucesso dos nossos
projetos pessoais e das nossas intenções".
Da mesma forma, não há espaço em nossas vidas "para o outro, para as
crianças, para os pobres, para os estranhos". A nossa oração deve nos
deixar "alertas para captar a sua presença", para que "em nossos
corações surja um espaço para ele" e "possamos reconhecê-lo naqueles por
trás de quem ele se apresenta para nós: nas crianças, nos que sofrem,
nos abandonados, nos marginalizados e nos pobres deste mundo".
Bento XVI destacou ainda outro aspecto importante das leituras de
natal: o hino de louvor cantado pelos anjos, que entoam "Glória a Deus
nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados".
A alegria dos anjos no céu indica que Deus é "luz pura", é "o bem por
excelência", e, por esta alegria, "todos queremos ser tocados". "Deus é
bom. Ele é o poder supremo, acima de todos os poderes. Este fato deve
nos levar a desfrutar desta noite, juntamente com os anjos e com os
pastores".
Se não se der glória a Deus, se Ele for "esquecido e até mesmo
negado," será negada também a paz. Permanecem hoje, no entanto,
correntes de pensamento que consideram as religiões, especialmente as
monoteístas, como portadoras de "intolerância" e de "violência".
É verdade que, ao longo da história, vimos "deturpações do sagrado" e
"mau uso da religião", o que ocorre "quando um homem acredita que deve
assumir ele mesmo a causa de Deus, tornando Deus sua propriedade
privada".
A rejeição de Deus, porém, levou a resultados ainda piores, não só
contra a paz, mas contra a própria dignidade do homem. "Somente se a luz
de Deus brilhar no homem e sobre o homem, somente se cada homem foi
querido, conhecido e amado por Deus, só então, por mais miserável que
seja a sua situação, a sua dignidade será inviolável", disse o papa.
É graças à encarnação de Deus no Menino de Belém que, ao longo dos
séculos, houve sempre "novas forças de reconciliação e de bondade. Na
escuridão do pecado e da violência, esta fé trouxe um raio luminoso de
paz e de bondade que continua a brilhar".
A oração do papa pediu também o presente da paz: "Que, em vez de
armas para a guerra, haja auxílios para quem sofre. Iluminai as pessoas
que acreditam que têm de exercer a violência em vosso nome, para que
aprendam a entender o absurdo da violência e a reconhecerem a vossa face
verdadeira".
Quando os anjos se retiraram de Belém, os pastores exortaram uns aos
outros a irem até lá. "Vamos a Belém", dizem eles. Na versão latina, o
verbo é trans-eamus: um "ultrapassar", explicou o papa, "com
que saímos dos nossos hábitos de pensamento e de vida e ultrapassamos o
mundo puramente material para chegar ao essencial, rumo àquele Deus,
que, por sua vez, veio até aqui, rumo a nós".
Belém faz parte da nossa oração não somente como o lugar de
nascimento de Nosso Senhor, mas também para que naquela terra "os
israelenses e os palestinos possam viver na paz do único Deus e na
liberdade". A mesma oração se volta ainda a países como o Líbano, a
Síria e o Iraque, para que os cristãos naquelas nações "conservem o lar"
e, com os muçulmanos, convivam "na paz de Deus".
Os pastores "se apressaram", disse o Santo Padre. Uma solicitude
motivada pela "santa curiosidade e pela santa alegria", que hoje,
talvez, "ocorre muito raramente", porque Deus não faz mais parte das
"realidades urgentes".
Apesar de tudo, ele é "a realidade mais importante" e devemos orar
"para que a santa curiosidade e a santa alegria dos pastores toquem
também a nós", concluiu Bento XVI.
(Trad.ZENIT)

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