Será que a religião que não crê na Trindade ela pode ser
considerada herege? Por que que eu tenho que crer na Trindade para dizer
que sou um cristão? Um assunto tão complicado que Berkhof diz:
A controvérsia trinitariana, que chegou ao clímax no conflito entre Ário e Atanásio, teve suas raízes no passado. Os Pais da Igreja Primitiva, [...], não tinham idéias claras sobre a Trindade. Alguns deles concebiam o Logos como razão impessoal, que se tornara pessoal quando da criação; outros, porém, reputavam-lO pessoal e co-eterno com o Pai, participante da essência divina, embora Lhe atribuíssem certa subordinação ao Pai. O Espírito Santo não ocupava lugar importante nas discussões deles. [...]. Tertuliano foi o primeiro a declarar claramente a tri-personalidade de Deus e a manter a unidade substancial das três Pessoas. Mas não chegou a exprimir de forma clara a doutrina da Trindade. (História das Doutrinas Cristãs, p.77. – Ed. PES)
- Arianos: negavam a divindade do Filho e do Espirito Santo, apresentando o Filho como a primeira criatura do Pai e o Espirito Santo como a primeira criatura do Filho.
- Monarquismo dinâmico: via em Jesus apenas o homem e no Espirito Santo, uma influência divina.
- Monarquismo modalista: considerava o Pai, o Filho e o Espirito Santo meramente como três modos de manifestações assumidos sucessivamente pela Divindade.
- Socinianos: é da época da Reforma e seguiam as linhas arianas, mas foram além de Ario, pois para eles Cristo era simples homem e o Espirito Santo apenas um poder ou influência.
O Credo de Niceia diz que aquele que afirma “que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia, ou
que antes que fosse gerado ele não existia, ou que ele foi criado
daquilo que não existia, ou que ele é de uma substância ou essência
diferente (do Pai), ou que ele é uma criatura, ou sujeito à mudança ou
transformação, todos os que falem assim, são anatemizados (grifo meu) pela Igreja Católica e Apostólica.”
Ou seja, o Credo relata que aquele que diz que Jesus não é Deus ou que
foi gerado por Deus ou é menor que Deus, seja este, anátema
(amaldiçoado). O Credo de Nicéia, revisado em Constantinopla em 382d.c,
(com pequenas modificações efetuadas pelo Concílio de Calcedônia (451
AD) e pelo Concílio de Toledo (Espanha, 589 AD)) mostra agora o Espírito
Santo com igualdade com o Pai e o Filho chamando-o de Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado.
Para finalizar o argumento de que aqueles que não creem na Trindade não
são salvos e nem professam uma fé verdadeira, o Credo Atanasiano reza
assim:
Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória e coeterna a majestade. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E contudo não são três eternos, mas um só eterno. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso. Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si. De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
Em rápidas palavras o Credo diz que aquele que não crer na Trindade
não pode ser salvo. Mas como eu posso aceitar tal doutrina, que foi
posta como um fundamento da fé cristã pelos os pais da igreja, como
regra de fé? Não estou dizendo que a Bíblia não ensina sobre a Trindade.
Mas não encontramos relatos diretos na Sagrada Escritura que diz sobre a
descrença na Trindade possa implicar na nossa fé em Cristo, para ser
salvo.
Por fim, eu entendo que os Pais apostólicos estão certos. A crença
na Trindade implicará em alguns fundamentos da fé Cristã. Como:
1 – Implicará na criação do universo e principalmente na criação do Homem. “E
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança
[...] E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:26,27). O texto é claro em mostrar uma pluralidade no “façamos” e o contexto não afirma que este “façamos” são anjos, porque o verso 27 diz que foi criado à imagem de Deus.
2 – Implicará na crença no nascimento de Cristo, sendo ele Filho de Deus.
“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua
mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido
do Espírito Santo.” (Mateus 1.18) O texto relata que Maria se acha grávida do Espírito Santo, mas é chamado “Filho de Deus” como disseram os endemoninhados: “Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus 8:29).
3 – Implicará na crença da obra de salvação.
Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do
Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e
paz vos sejam multiplicadas. (1 Pedro 1:2). Veja que na obra de
salvação a Trindade está presente. Deus elege, o Espírito Santo
santifica e o Filho asperge o seu sangue precioso. Como também relata
Paulo na obra da salvação: “Como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante
dele em amor;[...] tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa.” (Efésios 1:4,13). Deus elege em Cristo e somos selados com o Santo Espírito “o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.” (Efésios 1:14 – itálico meu). Mas “devemos
sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter
Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do
Espírito, e fé da verdade;” (2 Tessalonicenses 2:13). Veja que mais uma vez a Trindade age, também, na salvação do pecador.
4 – Implicará na proclamação do Evangelho, sendo que, é a confirmação visível daquilo que foi aceito pela fé, o batismo.
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” (Mateus 28:19) A formula de ministrar o batismo é em nome da Santíssima Trindade, como diz a CFW 28.2 “batizar o candidato em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”.
5 – Implicará na perseveração do cristão até que Cristo o leve para a vida eterna.
“Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm,
orando no Espírito Santo. Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam
que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida
eterna.” (Judas 1:20-21). “E sabemos que já o Filho de Deus é
vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no
que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna.” (1 João 5:20)
Portanto, fico com o que diz o Credo de Atanásio:
Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
Como diz Fançois Turretini:
Assim, aquele que não reconhece e não crê na Trindade não tem o Deus verdadeiro, porém erigiu para sim um ídolo no lugar de Deus. (Compêndio de Teologia e Apologética. Vol 1. Livro: 3; Pergunta 24; p. 347).

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.