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A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 27-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um "caos" alimentado também por aqueles que, nas fileiras do
episcopado mundial, disseram que o ensino da Igreja Católica em matéria
de moral não é mais adequado aos tempos e que agora só cria confusão
entre os fiéis, mais ou menos assíduos às missas dominicais e à
confissão.
É o caso, por exemplo, do jovem bispo de Trier, Dom Stephan Ackermann. "Mas o que isso significa?", interroga-se, perplexo, o cardeal Brandmüller: "A afirmação do excelentíssimo bispo de Trier
levanta questões, e me parece que é preciso fazer uma distinção. O
prelado fala simplesmente de 'ensino', e ele poderia ter razão se
estivesse se referindo ao modo de motivar, explicar e ensinar a doutrina
da Igreja. No entanto, ele teria se equivocado se tivesse querido dizer
que a doutrina da Igreja não é mais adequada aos tempos. De fato, mudam
as perguntas e as questões de acordo com as mudanças socioculturais,
mas a resposta da Igreja em todos os momentos da história não pode tocar
o depositum fidei válido uma vez e para sempre". Afinal, trata-se do "tesouro do qual o bom chefe de família tira coisas nova et vetera".
Para responder às "fortes expectativas enraizadas entre os fiéis" que
desejam atualizações em matéria de ensino moral católico, o cardeal Walter Kasper
propôs uma solução que reafirme a intangibilidade da doutrina, mas que
permita intervenções sobre a práxis pastoral. Doutrina e práxis sobre
dois trilhos separados, portanto, esquema já criticado pelo prefeito do
ex-Santo Ofício, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, e com o qual o nosso interlocutor também não concorda.
Certamente, "é necessário distinguir entre a doutrina de fé e a
práxis pastoral. Distinguir sim, mas não dividir. Toda práxis pastoral
que queira ser autêntica deve se inspirar e se sustentar sobre a verdade
de fé. É verdade – observa ainda o estudioso criado cardeal por Bento XVI
em 2010 – que a realidade sociológica da família não é mais a dos
nossos avós. Mas o que nunca pode ser submetido à mudança histórica é a
própria natureza, a substância da família que nasce do matrimônio
sacramental entre homem e mulher."
A pastoral, diz ainda Brandmüller, "deve responder à
pergunta sobre como explicar melhor essa realidade para fazer com que
ela seja vivida mais autenticamente nas circunstâncias de hoje".
Também há dúvidas sobre a corrente de pensamento segundo a qual a
Igreja, ao longo da sua história, sempre defendeu que, mantendo firme o
princípio una fides, há muitos modos de vivê-la e experimentá-la: é verdade, explica o presidente emérito do Pontifício Comitê de Ciências Históricas,
"existem muitos modos de viver e experimentar a fé. Mas estes são
legítimos apenas na medida em que não contradizem a doutrina da fé
formulada pela Igreja. É sempre essencial a convergência entre doutrina e
vida".
O problema é a falta de clareza sobre o significado do ensino
católico, observa o purpurado: "Em mais de 25 anos de trabalho pastoral –
paralelamente à minha carreira universitária – eu fui pároco no
interior". Pois bem, "depois do fatídico ano de 1968, eu não tive mais
que pronunciar a até então costumeira carta pastoral sobre o 'sagrado
sacramento do matrimônio' prescrita para o segundo domingo depois da
Epifania". Ela não estava mais prevista, não foi mais preparada, "e isso
é emblemático para compreender a situação".

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