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“A
Adoração dos Reis Magos” (1445) — Galeria Nacional de Arte de Washington. A pintura sobre madeira apresenta os três reis magos à
frente a uma magnífica procissão (simbolizando todas as raças da
humanidade) que espera sua vez para adorar o Menino Jesus. O pavão-real
simboliza a Ressurreição de Cristo. Alguns especialistas afirmam que Fra
Angélico (1387-1455) pintou as figuras principais e um de seus
discípulos (provavelmente o monge Filippo Lippi) completou a obra.
Pe. David Francisquini
O
Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo nos faz entrar na atmosfera
encantadora e sublime das harmonias de um rei que assume a natureza
humana no ventre virginal de Maria Santíssima por obra do Espírito Santo
para redimir o gênero humano.
O que nos
diz a singela, ordenada, pura e virginal cena de uma mãe que contempla seu filho que é ao mesmo tempo Deus e homem?
Que olhar, que esplendor, no qual se reflete um interesse pelas mais sublimes virtudes de um brilho fulgurante!
Aquele Menino recém-nascido constitui-se o herdeiro universal de
todas as coisas. Ao mesmo tempo em que é Filho do Eterno Pai, torna-se
Filho da Virgem Maria.
Aquele que é o esplendor, o reflexo, a imagem do Padre Eterno, recebe
a carne e o sangue, ou melhor, a vida aqui na Terra, servindo-se da
mais santa de todas as criaturas.
Enfim, quem é esse Menino tão terno, tão angelical, tão inocente, tão
meigo e tão doce? Dirá a Mãe: Tu és o meu filho, eu te dei à luz. E o
Menino se entretém num diálogo cuja melodia faz encantar a natureza
inteira.
— Se Eu sou o teu filho e me deste à luz, e todas as
coisas vieram de minha onipotência, como, então, Eu, sendo Deus, Filho
do Eterno Pai, posso unir algo que parece contradição? Teria acaso uma
natureza finita, limitada o Eterno, Aquele que sempre existiu?
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Votos de Feliz Natal e bom Ano Novo do IPCO |
— Meu Filho, sim, Tu és eterno, substância e
sustentáculo de tudo; vieste ao mundo tomando a natureza humana para
redimir essa raça perdida pelos nossos primeiros pais.
Tu és o Sacerdote de uma nova lei, que é a lei da bondade cristã.
Enquanto deste a vida a mim, eu Te dei a vida a Ti, pois Tu és o mais
formoso de todos os filhos da raça de Adão.
— Se assim é, ó Mãe, como então Aquele que é a primeira pessoa da Santíssima Trindade me diz: Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei?
— Sim, meu filho, Tu és o primogênito, o mais
excelente ser que a Terra contemplou; se Tu és a substância do Pai
Eterno, és também de minha substância, porque Tu vieste instalar um
sacerdócio perene no mundo segundo a ordem de Melquisedec porque
imolarás essa nova natureza que Te dei.
— Então, Tu és, ó Mãe, a mais formosa de todas as mulheres, porque no teu fiat,
no teu consentimento, soubeste imolar o Verbo de Deus, isto é, a
palavra eterna que se torna homem, reunindo o infinito – Aquele que é
Deus – ao finito – Aquele se fez homem, portanto duas naturezas numa só
pessoa, que é a pessoa do filho.
Tu és a Mãe de Deus, a mais formosa e a mais excelente das criaturas.
Na manjedoura já começa o meu calvário, que é o meu sacerdócio, um
culto que um Deus-Homem oferece à divindade, reparando assim, com a nova
natureza que recebi de ti, o pecado que inundou a Terra.
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“Adoração dos pastores”, Juan Bautista Maino (1612), Museu do Prado |
— Sim, ó meu Deus, o teu trono, o teu cetro, é um cetro de equidade,
de justiça e de amor, pois teu Nome será repetido até os confins da
Terra, e reinarás no mundo inteiro, porque implantarás a religião da
bondade, do perdão, da misericórdia, do heroísmo, da coragem, da
fortaleza, da verdade, da fé, do zelo, da generosidade, da pureza, da
virgindade.
Sendo Deus com o Pai e o Espírito Santo, Tu és também meu Filho, por
pura bondade tua, e por bondade do Espírito Santo, que me desposou e
operou essa obra insigne no amor de um Deus que se faz homem, da palavra
eterna, isto é, o verbo de Deus que quis encerrar em meu ventre e vir à
luz para espancar as trevas e inundar o mundo de grandes realizações.
Genuflexa eu Te adoro, rendo homenagens por todos os homens, pois
Aquele que é criador quis também ser criatura; o que é eterno quis
também ter um começo nesta Terra para implantar a religião que todos os
homens devem abraçar e sem a qual não terão os meios de salvação.
De tal forma, ó Filho amado, esplendor e glória minha, que um Deus em
três pessoas há de realizar em Ti algo com o qual toda a Terra há de
beneficiar-se e o inferno de tremer, pois a eternidade se instalará na
Terra através da Igreja que fundaste e contra cuja perenidade as portas
do inferno não prevalecerão. Pode o inferno rugir, mas de nada
adiantará!

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