“Mesmo se derramássemos todo o Rio Elba em lágrimas, não seria o suficiente para lamentar os desastres da Reforma: é um mal sem solução”. Por mais estranho que pareça, essas palavras não foram ditas por um católico, mas por Filipe Melâncton, amigo de Lutero e um dos principais realizadores da Reforma. O próprio Lutero, pouco antes de morrer, escreveu sobre a mágoa que sentia a respeito do caos e da proliferação das seitas propagadas por seus ensinamentos:
“Devo confessar que minhas doutrinas produziram muitos escândalos. Não posso negá-los, e isso me assusta, especialmente quando minha consciência traz-me a lembrança de que destruí a situação na qual a Igreja se encontrava, calma e tranquila, sob o papado”.
Se até mesmo alguns líderes protestantes chegaram a ter essa percepção sobre a Reforma, não espanta que os católicos a vejam como uma verdadeira catástrofe. O historiador Paul Johnson chamou-a de “uma das maiores tragédias da história, e a tragédia central do cristianismo”. Ela foi uma catástrofe e um castigo para a Cristandade; um desastre levado até as últimas conseqüências, pois foi o apogeu de uma série de castigos sem precedentes, desatrelados no curso dos dois séculos anteriores.