[IHU]
27/9/2011
"É Roma que decide se se trata de cisma ou não. A questão não é doutrinal, mas sim
disciplinar. É o que distingue o cisma da heresia". A afirmação é de Jean-Pierre
Chantin, associado ao Centro Nacional de Pesquisa Científica da França -
CNRS (laboratório RESEA-LARHRA) e à universidade de Lyon-III.
Publicou Des “sectes” dans la France contemporaine. Contestations ou
innovations religieuses?1905- 2000 (Ed. Privat, 2004).
A reportagem
é da revista francesa Témoignage Chrétien, nº 3459, 22-09-2011. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a
entrevista.
Se nos
limitarmos ao período recente, de onde vêm os cismas da Igreja Católica?
A partir do
período da Revolução Francesa, observam-se dois tipos de
movimentos: um rejeita a adaptação da Igreja à modernidade. O outro, ao
contrário, considera que a Igreja continua muito atrasada com relação a ela. O
cisma é possível nos dois sentidos. Hoje, temos, de um lado, a Fraternidade São Pio X e, de outro, o
movimento dos padres austríacos que convidam à desobediência sobre os problemas
da ordenação de mulheres e de homens casados, dos divorciados em segunda união
etc. Em todo o caso, é Roma, no entanto, que decide se se trata de cisma
ou não.
A questão
não é doutrinal, mas sim disciplinar. É o que distingue o cisma da heresia. O
poder de decidir se se trata de cisma se reforçou com o Concílio Vaticano I
(1870) e a proclamação da infalibilidade papal. Antes, o papa exercia, sim, uma
grande autoridade, mas as Igrejas locais ou nacionais se permitiam, às vezes,
não convalidar textos provenientes de Roma. Foi assim na França, a
Igreja galicana. Geralmente, as posições se enrijecem – cada um está convencido
de deter a verdade –, e, mesmo que se façam, negociações, o cisma não se
resolve jamais, em todo o caso, no conteúdo.
No entanto,
houve tentativas de solução no passado.
Sim. Tomemos
o exemplo da Igreja constitucional, isto é, aquela parte do clero francês que
aceitou prestar juramente à constituição civil do clero em 1790. Os padres e os
bispos que juraram, reconhecem o papa como autoridade e consideram estar em
comunhão com todos os católicos do mundo. Mas Roma se recusa a
reconhecê-los e mantém todos os poderes aos padres refratários. Quando Roma
retoma o diálogo com a França em 1801 e negocia a Concordata com Napoleão
Bonaparte, coloca-se o problema de saber se esses bispos e padres
constitucionais estão dentro ou fora da Igreja. Roma pede que reneguem a sua
assinatura à Constituição civil do clero, o que alguns fazem, outros não, e
outros ainda pela metade... E se negocia caso a caso.
Mas alguns
bispos e padres rejeitam o princípio do acordo entre Bonaparte e Roma e
formarão aquela que se chamará de "la Petite Eglise". São
anticoncordatários conservadores. Eles consideram que Roma está negociando com
o herdeiro da Revolução Francesa e que a exigência romana da renúncia preventiva
de todos os bispos é teológica e juridicamente infundada. Passa-se de um cisma
"modernista" a um cisma conservador. Ainda hoje, existem
anticoncordatários que esperam Roma reconheça o erro de Pio VII, que
exigiu a renúncia dos bispos... Alguns vão ainda mais longe: na medida em que,
na sua opinião, Roma se equivoca, Roma não é mais Roma, e não há mais papa
depois de Pio VII, ou depois de Pio XII, dependendo das
convicções. É a posição "sedevacantista".
Podemos
dizer que Roma é mais severa com as dissidências modernistas do que com as
dissidências conservadoras?
Não
acredito. Tudo depende dos momentos e do contexto. Em 1801, Roma
negociou com Bonaparte, embora a Revolução tenha confiscado os bens da
Igreja e redefinido uma parte da sua disciplina. Nesse caso, foi a ala
conservadora, que, de fato, foi penalizada. Ao contrário, quando, em 1905,
foram criadas as associações de culto e alguns católicos aceitaram integrar-se
ao sistema, enquanto Roma se recusou, a sanção recaiu sobre aquela que era, de
fato, a ala progressista. Mas isso ocorreu, então, pouco depois da crise
modernista.
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