sábado, 26 de fevereiro de 2011

Porque, em 27 de outubro de 2011, não se deve “fazer memória deste gesto histórico” de Assis-1986.

Por Padre Paul Aulagnier, Instituto do Bom Pastor
Em 1º de janeiro de 2011, por ocasião da oração do Angelus, o Papa Bento XVI anunciou sua intenção de renovar a cerimônia inter-religiosa de Assis, de 27 de Outubro de 1986:
No próximo mês de Outubro, irei como peregrino à cidade de são Francisco, convidando os irmãos cristãos das diferentes confissões, os expoentes das tradições religiosas do mundo e, idealmente, todos os homens de boa vontade, a unir-se neste caminho com o objetivo de recordar aquele gesto histórico desejado pelo meu Predecessor e de renovar solenemente o empenho dos crentes de cada religião a viver a própria fé religiosa como serviço para a causa da paz”.
Ele já o havia anunciado em sua mensagem para a Paz para o ano 2011, intitulada: “A liberdade religiosa, caminho para a Paz”. Escreveu: “Em 2011, tem lugar o 25º aniversário da Jornada Mundial de Oração pela Paz, que o Venerável Papa João Paulo II convocou em Assis em 1986. Naquela ocasião, os líderes das grandes religiões do mundo deram testemunho da religião como sendo um factor de união e paz, e não de divisão e conflito. A recordação daquela experiência é motivo de esperança para um futuro onde todos os crentes se sintam e se tornem autenticamente obreiros de justiça e de paz.
Sabemos, no entanto, que o Papa Bento XVI, enquanto ainda Cardeal, não quis assistir a esta “jornada de orações inter-religiosas para a paz”, devido ao risco de sincretismo em uma tal jornada. Ele também desejou, desde que está sobre a sede de Pedro, duas vezes, dar precisões sobre esta jornada, talvez nessa perspectiva de aniversário.
Em uma mensagem dirigida ao bispo de Assis, em 2 de Setembro de 2006, escrevia: “Para que não haja dúvidas acerca do sentido de quanto, em 1986, João Paulo II quis realizar, e que, com uma sua expressão, se costuma qualificar como “espírito de Assis”, é importante não esquecer a atenção que então foi dada para que o encontro inter-religioso de oração não se prestasse a interpretações sincretistas, fundadas numa concepção relativista. [...] Por isso, mesmo quando nos encontramos juntos a rezar pela paz, é necessário que a oração se realize segundo aqueles caminhos distintos que são próprios das várias religiões. Esta foi a escolha de 1986, e tal escolha não pode deixar de ser válida também hoje. A convergência do que é diverso não deve dar a impressão de uma cedência àquele relativismo que nega o próprio sentido da verdade e a possibilidade de a obter”.
Mas, como simples observação: ele não rezou com os judeus e rabinos da sinagoga de Roma por ocasião de sua última visita? Umas são palavras. Outras as atitudes.
E, em visita a Assis, em 17 de junho de 2007, o Papa declarou, outra vez, em sua homilia: “A escolha de celebrar aquele encontro em Assis era sugerida precisamente pelo testemunho de Francisco como homem de paz, para o qual muitos olham com simpatia também de outras posições culturais e religiosas. Ao mesmo tempo, a luz do Pobrezinho sobre esta iniciativa era uma grande garantia de autenticidade cristã, dado que a sua vida e a sua mensagem se baseavam tão visivelmente sobre a escolha de Cristo, que rejeitavam a priori qualquer tentação de indiferentismo religioso, que em nada se relacionaria com o autêntico diálogo inter-religioso. [...] Não poderia ser atitude evangélica, nem franciscana, não conseguir conjugar o acolhimento, o diálogo e o respeito por todos com a certeza de fé que cada cristão, do modo como o Santo de Assis, é obrigado a cultivar, anunciando Cristo como caminho, verdade e vida do homem (cf. Jo 14, 6), único Salvador do mundo”.
As intenções de Bento XVI são nítidas e honestas… mas não podem impedir, de jure, o risco de sincretismo, relativismo e indiferentismo. Como disse muito bem Romano Amerio, em seu livro “Stat Veritas”, “Não são mais do que palavras… não se pode promover o sincretismo e em seguida advertir que é necessário ter cuidado para evitar evitar o sincretismo” (p. 139).
Não é, tampouco, porque esta reunião ocorre em Assis, onde o Poverello imprimiu sua marca de sua entrega a Cristo, que esta reunião é, de si, garantida por uma justa ortodoxia. É possível ser infiel em Assis.
Além disso, em 27 de outubro de 1986, com João Paulo II, talvez, desejou-se ter “atenção para que o encontro inter-religioso de oração não se prestasse a interpretações sincretistas”, procurando que “a oração se realize de acordo com os caminhos distintos que são próprios das várias religiões”. Talvez tenha sido um desejo leal. Tal desejo não foi e não pôde ser realizado, de modo que é possível falar, a justo título, de jornada pan-cristã de Assis ou de “a ilusão pan-cristã de Assis”.
Com efeito, em Assis, no dia 27 de outubro de 1986, os católicos não rezaram como, por sua vez, os “representantes das outras religiões”, de acordo com os seus próprios ritos e na plena “expressão de sua própria fé”, como deixa entender Bento XVI, mas reuniram-se em “oração ecumênica” com “representantes das confissões e comunidades cristãs” na catedral de São Rufino. Isso foi claramente afirmado pelo Osservatore Romano de 27-28 de outubro de 1986. Lá, o Papa, despojado de toda insígnia de sua primazia, pôs em marcha, sempre na sua qualidade de anfitrião — como será Bento XVI, em 27 de outubro próximo –, uma celebração tipicamente protestante com leitura de passagens da Bíblia, mesclada com cantos e sendo concluída pela “oração universal”, aquela “de toda a Igreja”. Encontrareis este testemunho no Osservatore Romano citado, na página 3.
A saudação dirigida à assembléia, lida pelo “anfitrião” João Paulo II, falou, sem dúvida, das “graves questões que ainda nos separam”. Mas disse também que “o grau atual de nossa unidade em Cristo é, não menos, um sinal para o mundo de que Jesus Cristo é realmente o Príncipe da Paz”. Mais ainda, concluiu que a oração pela paz “deve fazer crescer em nós o respeito de uns pelos outros como seres humanos, como Igrejas e comunidades eclesiais” (Ibid, e DC.n° 1929 do 7 de Dezembro de 1986).
Nenhuma outra distinção, que não seria justificada por seu papel “anfitrião”, foi reconhecida ao Papa pelo cerimonial ecumênico. O que escandalizaria de tal modo Dom Lefebvre que veria ali uma injúria ao Vigário de Cristo. E ainda, a oração final dos “pan-cristãos” na praça da basílica menor de São Francisco foi iniciada por uma mulher “pastora”, enquanto o Papa era apenas o quartoentre tanto sábios”.
Inoportunamente, no dia seguinte do “encontro de Assis”, o Cardeal Etchegaray declarava: “Para mim, a oração da Igreja cristã na catedral de São Rufino foi o momento, o tempo forte, de toda a jornada… A qualidade e a intensidade desta oração foi aquela em que todos pareciam iluminados como que por uma nova efusão comum do Espírito Santo”. Ele se exprimia assim “ridícula, sentimentalmente” no jornal Avvenire, de 2 de novembro de 1986. Recordamos que ele foi o grande organizador da jornada de Assis. É forçoso reconhecer que, na Babel de Assis, os Cardeais e o próprio Papa, de fato, não representaram a Igreja Católica, mas a “Igreja cristã”, englobando aí os não católicós. E quem eram aqueles que compunham esta “Igreja cristã”, que teria tido seu Pentecostes em Assis, segundo a declaração do Cardeal Etchégaray? As “diversas Igrejas e confissões que têm Cristo por fundamento”, explicava-nos o Osservatore Romano, de 27-28 de outubro de 1986. Na prática: a igreja ortodoxa, as “igrejas” reformadas e a Igreja Católica. Evidentemente, esta “Igreja cristã” não era a Igreja Católica, mas uma super-igreja que ultrapassa e inclui a própria Igreja Católica, do mesmo modo que as outras supostas “igrejas”. Que eclesiologia!
Com efeito, a oração da “Igreja cristã” em Assis não foi a da Igreja Católica, cuja fé se exprime plenamente na Santa Missa, “sacrifício verdadeiro e autêntico”, como ensina o santo Concílio de Trento contra os autores dessas “confissões e comunidades cristãs” reunidas com os católicos em São Rufino. Logo pela manhã de 27 de outubro o Papa João Paulo II celebrou o rito da nova missa, em Perugia, antes de se dirigir a Assis, cujo cerimonial foi ecumenicamente misturado com o de seus “irmãos separados” — e isso Bento XVI, apesar da sua intenção, não poderá fisicamente evitar — para rezar “ecumenicamente” com eles e “sem triunfalismo”, despojado da dignidade do Vigário de Cristo, esquecendo que a Igreja Católica não é senão uma com Cristo, que deve reinar eternamente sobre todas as coisas, todos os bens e todos os seres. Isso lhe cabe de direito divino. Mas isso não poderá ser confessado pelo Papa. No entanto, é sua função!
E mais ainda, em Assis, a Igreja Católica foi posta não no nível das falsas religiões, que dizem-se cristãs ou não, mas abaixo delas. Recorde-se que o Cardeal Etchégaray permitiu a todos “se exprimir na plenitude de sua própria fé” (CD de 7-21 de setembro de 1986), mas isso não foi permitido aos católicos; “que a oração de cada um fosse respeitada”, mas a dos católicos não foi. E quando, pondo em marcha o carrossel final sobre a praça ao pé de São Francisco, declarou triunfantemente: “Estamos reunidos em plena fidalide às nossas tradições religiosas, profundamente conscientes da identidade de cada um de nossos compromisso de fé” (OR citado, p. 4). Era verdadeiro para todos, exceto para os católicos, nem em sua oração nem em seu Pontífice, Ele, no entanto, Vigário de Cristo…
Enfim, enquanto foi concedido aos representantes das falsas religiões, com grande atenção,  reunirem-se de acordo com o seu desejo “para rezar, mas sem rezar juntos” (Rádio Vaticano), os representantes oficiais da única religião verdadeira rezaram juntos com os representantes das falsas religiões pseudo-cristãs. A prática pan-cristã de Assis é suficiente para demonstrar que, entre outras coisas, bastaram vinte anos de falso ecumenismo para que se estabelecesse entre os católicos, a começar pela sua hierarquia, o indiferentismo pan-cristão. Hoje, tudo parece legítimo.
Por todas essas razões, a “jornada de Assis” não pode ser renovada nem ser comemorada; ela não é “comemorável”; ela não é digna da Igreja Católica, ela é “miserável”.
* * *
As reações históricas de Dom Lefebvre e de Dom Antonio de Castro Mayer
Eis a carta que Dom Marcel Lefebvre endereçou, em 27 de agosto de 1986, a 8 cardeais:
Ecône, 27 de agosto de 1986
Eminência,
Diante dos acontecimentos que ocorrem na Igreja e dos quais João Paulo II é autor, diante do que ele se propõe realizar em Taizé e em Assis no mês de outubro, não posso deixar de me dirigir a vós, a fim de vos suplicar, em nome de numerosos de padres e fiéis, que salveis a honra da Igreja, humilhada como nunca esteve durante sua história.
Os discursos e atos de João Paulo no Togo, em Marrocos, na Índia, na sinagoga de Roma, provocaram em nossos corações uma santa indignação. O que pensariam disso os Santos e Santas do Antigo e  Novo Testamento? O que faria a Santa Inquisição se ainda existisse?
É o primeiro artigo do Credo e o primeiro mandamento do Decálogo que são pisados publicamente por aquele que está sentado sobre a Sé de Pedro. O escândalo é incalculável nas almas dos católicos. A Igreja é abalada em seus fundamentos.
Se a fé desaparece na Igreja, única arca da salvação, é própria a Igreja que desaparece. Toda sua força, toda sua atividade sobrenatural tem esse artigo de nossa fé por fundamento.
João Paulo II continuará a arruinar a fé católica, publicamente, em especial em Assis, com o cortejo das religiões previsto nas ruas da cidade de São Francisco, e com a distribuição das religiões nas capelas e na Basílica para aí realizarem seu culto em prol da paz como é concebida pela ONU. É o que anunciou o Cardeal Etchegaray, encarregado deste abominável Congresso das Religiões.
É concebível que nenhuma voz autorizada se eleve na Igreja para condenar esses pecados públicos? Onde estão os Macabeus?
Eminência, pela honra do único Deus verdadeiro, de Nosso Senhor Jesus Cristo, protestai publicamente, ide ao socorro dos Bispos, dos padres e dos fiéis que permanecem católicos.
Eminência, se permito-me intervir junto a vós, é porque não posso duvidar de vossos sentimentos a esse respeito.
Este apelo, dirijo também aos Cardeais cujos nomes encontrareis abaixo, a fim de que eventualmente ajais de comum acordo com eles.
Que o Espírito Santo vos ajude, Eminência, e queirais receber a expressão dos meus sentimentos fraternalmente devotados em Cristo e Maria.
Marcel LEFEBVRE, Arcebispo-Bispo emérito de Tulle
Lista dos oito cardeais destinatários
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Giuseppe Siri, arcebispo de Gênova
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Paul Zoungrana, arcebispo de Ouagadougou
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Silvio Oddi, Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, Roma
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Marcelo González Martín, Arcebispo de Toledo
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Hyacinthe Thiandoum, Arcebispo de Dakar
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Alfons Stickler, Bibliotecário da Biblioteca Vaticana, Roma
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal Édouard Gagnon, Presidente do Conselho Pontifício para a Família, Roma
Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardinal Pietro Palazzini, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.
* * *
Declaração de Dom Lefebvre e de Dom Antonio de Castro Mayer após a visita de João Paulo II à Sinagoga e ao congresso de religiões em Assis
Roma nos mandou perguntar se tínhamos a intenção de proclamar nossa ruptura com o Vaticano por ocasião do Congresso de Assis.
Parece-nos que a pergunta deveria, antes, ser esta: o sr. acredita e tem a intenção de declarar que o Congresso de Assis consuma a ruptura das Autoridades Romanas com a Igreja Católica?
Porque é precisamente isto que preocupa àqueles que ainda permanecem católicos.
Com efeito, é bastante evidente que, desde o Concílio Vaticano II, o Papa e os Episcopados se afastam, de maneira cada vez mais nítida, de seus predecessores.
Tudo aquilo que foi posto em prática pela Igreja para defender a Fé nos séculos passados, e tudo o que foi realizado pelos missionários para difundi-la, até o martírio inclusive, é considerado doravante como uma falta da qual a Igreja deveria se acusar e pedir perdão. (nota: os dois bispos não podiam imaginar a avalanche de pedidos de perdão que viria, anos mais tarde, humilhar a Santa Igreja) A atitude dos onze Papas que, desde 1789 até 1958, em documentos oficiais, condenaram a Revolução liberal, é considerada hoje como “uma falta de compreensão do sopro cristão que inspirou a Revolução”.
Donde, a reviravolta completa de Roma, desde o Concílio Vaticano II, que nos faz repetir as palavras de Nosso Senhor àqueles que O vinham prender: “Haec est hora vestra et potestas tenebrarum – Esta é a vossa hora e o poder das trevas”. (Lc. 22, 52-63) Adotando a religião liberal do protestantismo e da Revolução, os princípios naturalistas de J.J. Rousseau, as liberdades atéias da Constituição dos Direitos do Homem, o princípio da dignidade humana já sem relação com a verdade e a dignidade moral, – as Autoridades Romanas voltam as costas a seus predecessores e rompem com a Igreja Católica, e põem-se a serviço dos que destroem a Cristandade e o Reinado Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os recentes atos de João Paulo II e dos Episcopados nacionais ilustram, de ano para ano, esta mudança radical de concepção da fé, da Igreja, do Sacerdócio, do mundo, da salvação pela graça.
O cúmulo desta ruptura com o magistério anterior da Igreja, depois da visita à Sinagoga, se realizou em Assis. O pecado público contra a unicidade de Deus, contra o Verbo Encarnado e Sua Igreja faz-nos estremecer de horror: João Paulo II encorajando as falsas religiões a rezar a seus falsos deuses: escândalo sem medida e sem precedente.
Poderíamos retomar aqui nossa Declaração de 21 de novembro de 1974, que permanece mais atual que nunca.
Quanto a nós, permanecendo indefectivelmente na adesão à Igreja Católica e Romana de sempre, somos obrigados a verificar que esta religião modernista e liberal da Roma moderna e conciliar se afasta cada vez mais de nós, que professamos a Fé católica dos onze Papas que condenaram esta falsa religião.
A ruptura, portanto, não vem de nós, mas de Paulo VI e de João Paulo II, que rompem com seus predecessores.
Esta negação de todo o passado da Igreja por estes dois Papas e pelos Bispos que os imitam é uma impiedade inconcebível e uma humilhação insuportável para aqueles que continuam católicos na fidelidade a vinte séculos de profissão da mesma Fé.
Por isso, consideramos como nulo tudo o que foi inspirado por este espírito de negação: todas as Reformas post-conciliares, e todos os atos de Roma realizados dentro desta impiedade. Contamos com a graça de Deus e o sufrágio da Virgem Fiel, de todos os Mártires, de todos os Papas até o Concilio, de todos os Santos e Santas fundadores e fundadoras de Ordens contemplativas e missionárias, para que venham em nosso auxilio na renovação da Igreja pela fidelidade integral à Tradição.
Buenos Aires, 2 de dezembro de 1986
+ Marcel Lefebvre
Arcebispo-Bispo emérito de Tulle
+ Antonio de Castro Mayer
Bispo emérito de Campos – que concorda plenamente com a presente declaração e a faz sua.
* * *
Pois, tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a Ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual.
Por isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre frequência de ouvintes e para elas convocam, para debates, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão.
Sem dúvida, estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que juogam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império.
Erram e estão enganados, portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada.
Entretanto, quando se trata de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são enganados mais facilmente por uma disfarçada aparência do que seja reto.
Acaso não é justo e de acordo com o dever – costumam repetir amiúde – que todos os que invocam o nome de Cristo se abstenham de recriminações mútuas e sejam finalmente unidos por mútua caridade?
Acaso alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida de suas forças, não procura realizar as coisas que Ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus discípulos fossem “UM” (Jo 17,21)?
[...] Os chamados “pancristãos” espalham e insuflam estas e outras coisas da mesma espécie. E eles estão tão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário, cresceram em fileiras compactas e uniram-se em sociedades largamente difundidas, as quais, embora sobre coisas de fé cada um esteja imbuído de uma doutrina diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos.
Advertidos, pois, pela consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o rebanho do Senhor seja envolvido pela nocividade destas falácias, apelamos, veneráveis irmãos, para o vosso empenho na precaução contra este mal.
[...]
Está, portanto, claro que a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se funda na palavra revelada de Deus; começando a ser feita desde o princípio, essa revelação prosseguiu sob a Lei Antiga e o próprio crisot completou-a sob a Nova Lei.
Portanto, se Deus falou – e comprova-se pela fé histórica Ter ele realmente falado – não há quem não veja ser dever do homem acreditas, de modo absoluto, em deus que se revela e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de Deus e para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra, o Filho Unigênito de Deus instituiu na terra a sua Igreja.
[...]
Entretanto, Cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça (Mt 16,18 seg.; Lc 22,32; Jo 21,15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo 3,5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18,18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa (Mt 16,18), a um redil de ovelhas (Jo 10,16) e a um rebanho (Jo 21,15-17).
Esta Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir todos os homens à salvação eterna: “Ide, pois, ensinai a todos os povos” (Mt 28,19).
Acaso faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: “Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?” (Mt 28,20).
Deste modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18).
[...]
Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.
Acaso poderemos tolerar – o que seria bastante iníquo-, que a verdade e, em especial a revelada, seja diminuída através de pactuações?
No caso presente, trata-se da verdade revelada que deve ser defendida.
Se Jesus Cristo enviou os Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos que deviam ser instruídos na fé evangélica e, para que não errassem em nada, quis que, anteriormente, lhes fosse ensinada toda a verdade pelo Espírito Santo, acaso esta doutrina dos Apóstolos faltou inteiramente ou foi alguma vez perturbada na Igreja em que o próprio Deus está presente como regente e guardião?
Se o nosso Redentor promulgou claramente o seu Evangelho não apenas para os tempos apostólicos, mas também para pertencer às futuras épocas, o objeto da fé pode tornar-se de tal modo obscuro e incerto que hoje seja necessários tolerar opiniões pelo menos contrárias entre si?
Se isto fosse verdade, dever-se-ia igualmente dizer que o Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos, que a perpétua permanência dele na Igreja e também que a própria pregação de Cristo já perderam, desde muitos séculos, toda a eficácia e utilidade: afirmar isto é, sem dúvida, blasfemo.
Quando o Filho unigênito de Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem anunciadas pela “testemunha pré-ordenadas por Deus” (At. 10,41). Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na consecução da salvação eterna, que não podem deixar de ser cumpridos, não poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro e claro a doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer perigo de errar.
Afastam-se igualmente do caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente na terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos e disputas para encontrá-lo e possuí-lo que a vida dos homens seja apenas suficiente para isso, com se Deus benigníssimo tivesse falado pelos profetas e pelo seu Unigênito para que apenas uns poucos, e estes mesmos já avançados em idade, aprendessem perfeitamente as coisas que por eles revelou, e não para que preceituasse uma doutrina de fé e de costumes pela qual, em todo o decurso de sua vida mortal, o homem fosse regido.
Estes pancristãos, que empenham o seu espírito na união das igrejas, pareceriam seguir, por certo, o nobilíssimo conselho da caridade que deve ser promovida entre os cristãos. Mas, dado que a caridade se desvia em detrimento da fé, o que pode ser feito?
Ninguém ignora por certo que o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que em seu Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus e que permanentemente costumavas inculcar à memória dos seus o mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros”, vetou inteiramente até mesmo manter relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de Cristo: “Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem digais a ele uma saudação” (2 Jo. 10).
Pelo que, como a caridade se apóia na fé íntegra e sincera como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como no vínculo principal.
[...] Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia seis de janeiro, no ano de 1928, festa da Epifania de Jesus Cristo, Nosso Senhor, sexto de nosso Pontificado.
Pio, Papa XI.

http://fratresinunum.com/2011/02/26/porque-em-27-de-outubro-de-2011-nao-se-deve-fazer-memoria-desse-gesto-historicode-assis-1986/

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