Conferência de “Luci sull'Est” sobre a perseguição a cristãos no século 21
ROMA, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 (ZENIT.org)
– “A cada cinco minutos, um cristão é assassinado por razão da sua fé. A
cada ano, 105 mil cristãos no mundo são condenados ao martírio: um
verdadeiro holocausto, do qual se fala muito pouco.” Estes são alguns
dos dados fornecidos na conferência de Roma intitulada “Os bons serão
martirizados. As perseguições aos cristãos no século 21”.
O evento
foi realizado na Universidade Pontifícia Lateranense, por ocasião do
20º aniversário do nascimento, em Roma, de “Luci sull' Est”, uma
associação de voluntariado leigo de inspiração católica que, depois da
queda da União Soviética, começou a enviar livros, terços e outros
materiais religiosos aos países ex-soviéticos.
Entre os participantes, destacam-se: o bispo de San
Marino-Montefeltro, Dom Luigi Negri; o eurodeputado Magdi Cristiano
Allam; o diretor de Asia News, Pe. Bernardo Cervellera; e o
representante da OSCE para a luta contra a discriminação dos cristãos e
diretor do Centro de Estudos das Novas religiões (CESNUR), Massimo
Introvigne. O moderador foi o jornalista Julio Loredo.
Autossuficiência do homem
Ao tomar a palavra, Dom Negri afirmou que o martírio dos cristãos é
uma parte importante no mistério da iniquidade, já que não nasce da
maldade, mas de um ódio intelectual, ideológico, da impossibilidade de
acolher a mensagem de Cristo e da “ideologia sobre a autossuficiência do
homem”, “porque todas as ideologias convergem, muito além das suas
diferenças, no fato de que o homem se converteu no deus de si mesmo”.
O bispo de San Marino-Montefeltro falou depois sobre o “carisma do
martírio” como da “maior confirmação do Espírito de Deus”. “A
modernidade – acrescentou – termina no ateísmo, e o ateísmo acaba na
violência. A verdade ideológica não é inclusiva, mas se afirma na
exclusão do que é diferente. Por isso, nos regimes totalitários, os
diferentes eram eliminados.” Em definitiva, uma “lógica férrea, na qual
não entram o satanismo e a corrupção”.
O prelado falou depois de uma ideologia que se apoia nos poderes
fortes, definida por Bento XVI como tecnociência, e concluiu dizendo:
“Os mártires existem e, com sua contribuição, eles nos convidam a ser
cristãos autênticos”, já que “as testemunhas apaixonadas de Cristo são
incansáveis comunicadoras da sua vida divina a todos os homens”.
Emergência humanitária
“A intolerância, a discriminação e a perseguição dos cristãos de hoje
– disse Massimo Introvigne – é uma emergência humanitária que afeta
todos nós; é um problema para a sociedade civil.”
“No livro 'World Christian Trends AD 30-AD 2200', o
investigador David Barrett determina o número dos martírios cristãos no
mundo em 70 milhões, 45 milhões dos quais aconteceram no século 20 –
explicou Introvigne. O número é de 160 mil na primeira década deste
século e se calcula que serão cerca de 105 mil na segunda década. Isso
significa um mártir a cada cinco minutos. São assassinados não por
motivos bélicos, mas religiosos.”
O interessante, acrescentou o diretor do CENSUR, é que “todos sentem
simpatia pelas vítimas, mas também existe um assassino. Só que 'sobre
isso, nós os escutaremos em outro momento', como diziam a São Paulo”.
Entre os assassinos, cabe destacar o fundamentalismo islâmico, como no
Paquistão, onde a apostasia implica na pena de morte e se considera como
blasfêmia não acreditar no Islã.
Referindo-se a isso, Introvigne falou de outros 34 casos de
condenação à morte similares ao de Asia Bibi, ainda que também haja
regimes comunistas, como o da Coreia do Norte e da China, além de
nacionalismos religiosos, como na Índia e na Indochina.
“Além do assassinato e da tortura – precisou Introvigne –, existe
entre nós a intolerância, que é um fenômeno cultural: depois, está a
discriminação, que é um fenômeno jurídico, para chegar à violência, que
entre nós e mais raro”, como na França, onde “a polícia explica que se
ataca uma igreja a cada dois dias”.
O caso da China
O Pe. Bernardo Cervellera, observador atento das questões religiosas
nos países orientais, aprofundou na situação da China, da qual,
atualmente, temos uma imagem “turística, com grandes arranha-céus, uma
renda média elevada”, mas onde não se respeitam os direitos humanos e se
leva adiante uma perseguição religiosa “como não se via desde os anos
50”.
O diretor de AsiaNews citou os muitos casos de bispos que
foram detidos pela polícia porque se negaram a aderir à igreja
patriótica. “Recentemente, antes das olimpíadas de 2007, 37 bispos
clandestinos foram submetidos à prisão domiciliar”.
O Pe. Cervellera considerou importante, nesta situação, “o trabalho
realizado por João Paulo II e por Bento XVI, graças ao qual muitos
bispos do partido pediram perdão e voltaram à Igreja”.
“E o fato de que a Igreja esteja mais unida que nos anos 80 explica
também o incremento da perseguição”, um aspecto que testemunha, no
fundo, “um grande fracasso do partido comunista chinês, depois de 60
anos de perseguição”. Contudo, “muito além das perseguições – concluiu
Cervellera –, há esperança. Neste país, atualmente, milhões de pessoas
buscam a fé e cada ano 150 mil chineses pedem para ser batizados”.
Identidade
O eurodeputado e jornalista Magdi Cristiano Allam recordou que, nos
países islâmicos, “de cada 10 perseguidos, 7 são cristãos e, de 1945 até
hoje, 10 milhões de cristãos foram obrigados a deixar suas terras,
junto a um milhão de judeus”.
O político egípcio de origem islâmica explicou que, no caso do Islã, a
perseguição não é fruto da ideologia, mas de razões religiosas e, de
fato, o judaísmo e o cristianismo são considerados heresias, enquanto o
Islã é concebido como a única e verdadeira religião, chamada a converter
todos.
Allam afirmou a necessidade de adquirir a certeza sobre a nossa
identidade e sobre as raízes da nossa civilização: “Se nos tornarmos um
terreno baldio, seremos terra de conquista”.
O ex-diretor do Corriere della Sera, que se converteu ao
catolicismo e foi batizado em São Pedro em 2008 pelo próprio Papa Bento
XVI, considerou que “o relativismo é uma ideologia, porque nega o uso da
razão e proíbe avaliar os conteúdos religiosos, e assim compara as
religiões, considerando-as iguais, prescindindo dos seus conteúdos”.
“A pessoa só é cristã se crê em Jesus Cristo – prosseguiu. Quando se
coloca no mesmo nível Cristo e Maomé, acabamos diminuindo a certeza da
nossa fé cristã, além de não nos declararmos cristãos e de legitimar o
Islã – este é o único núcleo do problema. Ou recuperamos a certeza do
que somos ou a nossa civilização acabará desaparecendo.”
Magdi Allam falou depois das incoerências: “Quando se ultraja outras
religiões, todos se indignam, mas se o Papa é o ultrajado, isso é
considerado liberdade de expressão”. Hoje, achamos que amamos o próximo
odiando-nos entre nós, e na ideologia da falsa bondade, aceitamos que o
próximo exija prescindir de nós mesmos”.
O eurodeputado concluiu recordando que é necessário “ter a certeza de
quem somos, a certeza da verdade”, já que há “valores não-negociáveis,
como a sacralidade da vida e a liberdade religiosa”. Também convidou a
encontrar a força “de testemunhar a certeza em Cristo em uma terra
cristã. Somente se formos fortes por dentro, teremos a autoridade para
pedir liberdade para todos os cristãos do mundo”.
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