Provocar o discernimento, pela fé, diante do relativismo proposto pela mídia.
Brasília,
(Zenit.org)
Por
José Barbosa de Miranda
Como havíamos abordado no artigo anterior,
trabalharemos agora com a iniciação cristã de adultos. A catequese, já
de algum tempo, não vem criando vínculo com a Igreja. Sua metodologia
está bem ultrapassada. É consenso entre vários agentes catequéticos que
ela está superada. Como abordamos nos primeiros artigos, é precioso
priorizar a catequese com adultos e redescobrir sua transmissão.
ADULTOS COMO PRIMEIROS INTERLOCUTORES DA MENSAGEM CRISTÃ
Repisando o mesmo lugar: a prioridade deve ser os adultos. Ainda não
investimos nisso. Todos sabem, mas poucos fazem! A maioria das paróquias
não direciona a catequese para os adultos. Há uma mistura com a
catequese infantil que é mais voltada para a doutrinação sacramental, do
que para iniciação na vida eclesial.
O Diretório Nacional da Catequese, em seu número 181, deixa clara
essa prioridade catequética com os adultos: “Os adultos são, no sentido
mais amplo, os interlocutores primeiros da mensagem cristã. Deles
depende a formação de novas gerações cristãs, através do testemunho da
família, no mundo social e político, no exercício da profissão e na
prática da vida da comunidade”.
E a Catequese Renovada continua com essa exigência: “É na direção dos
adultos que a evangelização e a catequese devem orientar seus melhores
agentes. São os adultos que assumem mais diretamente, na sociedade e na
Igreja, as instâncias decisórias e mais favorecem ou dificultam a vida
comunitária, a justiça e a fraternidade. Urge que os adultos façam uma
opção mais decisiva e coerente pelo Senhor e sua causa, ultrapassando a
fé individualista, intimista e desencarnada” (CR, 130).
RESTAURAÇÃO DO CATECUMENATO
Com a capacitação de catequistas para a formação adulta de adultos,
retoma-se o primado catequético voltado para a realidade de uma época em
processo de mudanças. O itinerário para essas renovações na catequese
já fora traçado pelo Concílio Vaticano II, em vários documentos. A
constituição sobre a Liturgia usa uma instrução imperativa: “Restaure-se
o catecumenato dos adultos dividido em diversas etapas, introduzindo-se
o uso de acordo com o parecer do Ordinário do local. Desta maneira, o
tempo do catecumenato, estabelecido para a conveniente instrução, poderá
ser santificado com os sagrados ritos a serem celebrados em tempos
sucessivos” (n.64).
O Concílio Vaticano II evoca, a exemplo da iniciação dos cristãos na
Igreja primitiva, a necessidade de se criar ambiente para maturidade na
fé, pela instrução, dando tempo para que suas etapas sejam assimiladas,
compreendidas, serem vividas e testemunhadas. É o momento de
aprofundamento no mistério do Deus que se revela.
São dois aspectos bem distintos que se completam, nesse itinerário:
INSTRUÇÃO COMPLETA.
A fase de iniciação cristã é prioritária. Já abordamos, em artigos
anteriores, sobre a catequese que não inicia e nem dá continuidade. Este
período deve primar pela catequese bíblica, porque ela
é fonte da catequese (cf. CT, 27), como Deus se
revela para remir a humanidade, no seguimento de Jesus, pois “já se cumpriu o
tempo e Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). A catequese sobre a
Igreja e sua missão, como dispensadora dos tesouros celestiais. A
instrução é para “reforçar a opção pessoal por Jesus Cristo, estimular e
educar para a prática da caridade, na solidariedade e na transformação
da realidade, julgando com objetividade e à luz da fé as mudanças
socioculturais da sociedade” (cf. DNC, 183). Essa instrução, além de
aprofundar no mistério de Cristo, deve provocar o discernimento da fé
diante do relativismo proposto pela mídia. “O que antes era certeza, até
bem pouco tempo, servindo como referência para viver, tem se mostrado
insuficiente para responder a situações novas, deixando as pessoas
estressadas ou desnorteadas” (DGAE 2008-2010, 13) Discernir entre o que a
reta doutrina ensina e o que é pregado pelo mundo, oferecendo
verdadeiros parâmetros para escolha. Se hoje muitos aceitam passivamente
o desmonte da família é porque não conhecem a sua vocação e finalidade,
como foi instituída pelo Criador. Se a corrupção está penetrando em
todos os níveis da sociedade, é porque a escala de valores está sendo
relativizada e não há quem a conteste. A instrução é uma catequese
inculturada em mudança de épocas. Ela não pode ser só transmissão de doutrina, mas
de empatia que provoque a conversão, não pode ser um verniz, mas uma
pigmentação que penetre na consciência. A instrução é permanente.
A FÉ E A IGREJA.
A Palavra de Deus alimenta a fé e faz Igreja. O Papa Francisco, em Evangelium Gaudoum, 171, cria
uma linha de consenso que pode ser aplicada à catequese, estabelecendo
uma praxe entre pedagogia da Palavra e mistagogia catecumenal, quando
exorta: “Uma pedagogia que introduza a pessoa passo a passo até chegar à
plena apropriação do mistério. Para se chegar a um estado de
maturidade, isto é, para que as pessoas sejam capazes de decisões
verdadeiramente livres e responsáveis”.
Uma pedagogia catequética que se fundamentada na Palavra de Deus para
alimentar a fé e formar Igreja, gerando uma comunidade responsável e
participativa: “Toda evangelização está fundada sobre esta Palavra
escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada
Escritura é fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se
continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza se não se
deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus
se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial. A Palavra
de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça
interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho
evangélico na vida diária” (EG, 174).
Deste modo se conclui que a atividade catequética é ministério da
Palavra, serviço à evangelização, comunicação da mensagem cristã. É a
base da iniciação à vida cristã e de educação desta mesma vida iniciada,
amadurecimento da fé nas das comunidades eclesiais para o serviço ao
mundo. Por isso, a catequese é ação da igreja, expressão da realidade
eclesial e momento essencial da sua missão, elemento fundamental para a
renovação da igreja.
Com Papa Francisco compreendemos toda atividade catequética, toda
forma de serviço eclesial à Palavra de Deus dirigida ao amadurecimento
pessoal da vida cristã, mediante e dentro da comunidade eclesial, porque
“O mandato missionário do Senhor inclui o apelo ao crescimento da fé,
quando diz: “ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (Mt 28,
20). Daqui se vê claramente que o primeiro anúncio deve desencadear
também um caminho de formação e de amadurecimento” (EG 160).
Toda atividade catequética alicerça origina-se na Sagrada Escritura,
por isso, ela se afirma em um momento significativo dentro do processo
global de evangelização.
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