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Para a jornalista e professora Magali do Nascimento Cunha, em 'defesa da família e da moral cristã', parlamentares evangélicos valem-se de alianças com deputados católicos e 'se veem com força para pautar temas para além da moralidade sexual'
Graças ao voto conservador para a Câmara Federal e à presença de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Casa, trabalhadores e outros segmentos da sociedade brasileira se mobilizam para impedir o Projeto de Lei 4.330, que expande a terceirização para as atividades-fim das empresas, e a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Muito da onda conservadora que varre a Câmara ganha apoio da bancada
evangélica, que é a terceira da Casa em número de parlamentares e a
primeira a defender os “valores sagrados” da família, contra os direitos
dos segmentos LGBT e dos grupos de direitos humanos.
A reportagem é de Helder Lima, publicada por Rede Brasil Atual, 29-04-2015.
Mas, afinal, o que se passa com a bancada evangélica e como entender a
sua ascensão em um país que hoje vive a contradição de ter um governo
central progressista e um parlamento conservador?
A jornalista e professora Magali do Nascimento Cunha,
da Universidade Metodista de São Paulo, que desenvolve estudos sobre a
bancada evangélica, afirma que a pauta dos evangélicos hoje encontra eco
em outros setores da sociedade e, por isso, a sua repercussão.
“Mais recente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da Frente Parlamentar Evangélica,
que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã
contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais e dos
grupos de direitos humanos, valendo-se de alianças até mesmo com
parlamentares católicos, diálogo historicamente impensável no campo
eclesiástico. Este discurso tem um apelo que atinge não só evangélicos,
mas também católicos e outros grupos sociais mais conservadores que nem
são ligados à religião”.
Em entrevista, a professora faz um balanço destes primeiros tempos da
bancada na nova legislatura, mas adverte que não podemos falar em uma
representação unificada dos evangélicos na Câmara, a despeito de sua
força: “Primeiro porque 'evangélicos' é um segmento social de uma
diversidade que em um parágrafo já não se pode explicar. Falamos de uma
enorme gama de grupos desde os históricos ligados à Reforma Protestante,
os pentecostais relacionados aos movimentos avivalistas nos Estados
Unidos e na Escandinávia, aos grupos independentes nascidos no Brasil
desta ou daquela experiência e que se concretizam em incontáveis
denominações”.
Eis a entrevista.
Por conta do perfil conservador do Congresso, o Brasil está discutindo hoje o PL 4.330, sobre terceirização, e a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Como você vê o peso da bancada evangélica nesse cenário?
A bancada evangélica, desde a sua formação em 1986, nunca teve uma
pauta progressista, ou de esquerda. Os parlamentares evangélicos até os
anos 2010 não eram identificados como conservadores do ponto de vista
sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo.
Seus projetos raramente interferiam na ordem social: revertiam-se em
“praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos,
benefícios para templos. O perfil dos partidos aos quais a maioria dos
políticos evangélicos estava afiliada refletia isso bem com recorrentes
casos de fisiologismo.
Mais recente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da Frente Parlamentar Evangélica,
que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã
contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais e dos
grupos de direitos humanos, valendo-se de alianças até mesmo com
parlamentares católicos, diálogo historicamente impensável no campo
eclesiástico.
Este discurso tem um apelo que atinge não só evangélicos, mas também
católicos e outros grupos sociais mais conservadores que nem são ligados
à religião. É na última legislatura que vemos emergir uma pauta mais
conservadora do ponto de vista sociopolítico e econômico entre os
evangélicos, que são uma frente parlamentar estratégica, a terceira do
congresso em número.
Isto é um sinal de mudança de postura tanto de boa parte dos
parlamentares evangélicos, que se veem com força para pautar temas para
além da moralidade sexual, como de políticos não-religiosos
identificados com o conservadorismo e que veem neste grupo um aliado.
O que temos nos movimentos conservadores é que são causas
reacionárias frente a avanços conquistados por movimentos sociais nas
últimas décadas e estes grupos têm encontrado bastante eco na sociedade.
E o papel de Eduardo Cunha, que é ligado à bancada? Ele é mais responsável do que a bancada pela pauta conservadora que está em discussão com esses projetos?
Eduardo Cunha não está no cargo de presidente da
Câmara porque é evangélico. Está pelo seu histórico de aliado das
empresas de telefonia e de liderança do PMDB. Tornou-se evangélico há
pouco mais de dez anos, o que foi um reforço a mais ao seu poder de
penetração e já mudou de denominação, identificando a força das Assembleias de Deus para onde migrou como membro no final de 2014, deixando a Igreja Sara Nossa Terra, que o vinha apoiando.
Portanto, a pauta de retrocessos é dele como político dos empresários
e da ala mais conservadora do PMDB. O fato de ele ser evangélico
reforça isso e lhe dá mais margem de negociação como integrante
destacado desta que é a terceira bancada da Câmara.
Ao se colocar contra os direitos LGBT, a bancada evangélica está fomentando a homofobia?
Qualquer tema ligado à sexualidade humana desperta paixões,
particularmente quando uma cultura é construída sob os princípios
patriarcais de forma tão intensa como é a cultura latina, em que as
bases cristãs-ocidentais estabeleceram o ato sexual como uma prática
cujo objetivo exclusivo era a procriação, sendo os filhos a continuidade
da família e sua herança.
A moralidade cristã (de evangélicos e católicos romanos) no que diz
respeito ao corpo está baseada nos princípios patriarcais e na repressão
à liberdade e ao prazer.
Portanto, é da natureza desses grupos religiosos cristãos reagir a
todo e qualquer avanço que coloque o patriarcalismo e a moral sexual
tradicional em xeque. A bancada evangélica se apresenta como credenciada
para a defesa dessa moral tradicional e tem católicos como aliados.
Isso é uma pauta homofóbica e que fomenta a homofobia, sim.
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