quinta-feira, 29 de maio de 2014

Como no dia do Pentecostes

[osservatoreromano]
27 de Maio de 2014
Adquire um significado profundo e desafiador o facto de que as últimas palavra pronunciadas por Francisco na Terra Santa tenham sido as da homilia na missa celebrada no Cenáculo. Com efeito, uma tradição antiga, identifica este ambiente simples e sugestivo, actualmente caracterizado por uma estrutura medieval com a pequena sala onde Cristo jantou pela última vez com os seus e onde, cinquenta dias depois da Páscoa, o Espírito desceu sobre Maria e sobre os apóstolos dando início ao caminho da Igreja.
No Cenáculo o Papa concelebrou com os bispos da Terra Santa – que estiveram sempre com ele nestes três dias – para tornar visível deste modo também a comunhão entre Roma e as comunidades católicas de diversos ritos, que vivem em situações muito difíceis, mas permanecem vitais. E Francisco recomendou mais uma vez uma Igreja em saída, segundo o exemplo dos apóstolos os quais, do lugar onde estavam reunidos com Maria, saíram para anunciar as obras de Deus.
Esta memória é o fundamento da missão da Igreja, que é preocupação constante do Papa, como foi confirmado também pela conferência de imprensa no voo de regresso. E precisamente a referência a Deus é o fio que liga uma viagem repleta de sinais destinados a ficar gravados na memória de muitos, e não só dos crentes: Francisco que imerge a sua mão nas águas do Jordão antes de abraçar os prófugos palestinos, iraquianos e sírios, a oração diante do muro que divide Belém, a homenagem às vítimas do terrorismo e o inclinar-se para beijar as mãos dos sobreviventes à tempestade indizível do Showman.
Sinais que indicam claramente a «política papal», que defende todos os seres humanos sofredores e que foi definida por Paulo VI – numa meditação escrita poucas semanas depois da eleição - como «iniciativa sempre vigilante em vista do bem do próximo». Compreenderam bem isto os líderes mais sábios da região, que durante a viagem concordaram em reconhecer precisamente a autoridade moral do Pontífice e a ele se tinham dirigido para procurar superar uma situação cada vez mais insustentável. Assim surgiu o convite a vir ao Vaticano feito a Mahmoud Abbas e a Shimon Peres para invocar de Deus a paz.
E foi precisamente a oração, aquela que Jesus ensinou aos seus, que permitiu que se entrasse verdadeiramente na viagem do Papa e se unissem entre eles os dois momentos talvez mais expressivos da peregrinação. O Pai-Nosso, transcrito por Francisco em espanhol – como o aprendeu da sua mãe, explicou - na folha de papel inserida no Muro ocidental, foi de facto recitado na basílica do Santo Sepulcro pelo bispo de Roma juntamente com o de Constantinopla, que se abraçaram recordando e repetindo o encontro de há meio século em Jerusalém de Atenágoras com Paulo VI.
Numa liturgia simples e solene, depois da proclamação do Evangelho em grego e latim, o bispo de Roma e o de Constantinopla recitaram juntos em italiano o Pai-Nosso, repetido sucessivamente em voz alta por todos os presentes, cada um na própria língua. Numa mistura de línguas que não é confusão, mas – como no Pentecostes – celebração, na variedade, de Deus que é amigo dos homens.
g.m.v.

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