fratres in unum
Para a organização do evento, é “uma forma de se identificar em uma sociedade com tantos sinais de secularismo”.
(IHU) A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada no sítio Religión Digital, 18-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reforma conciliar permitiu que elas tirassem o hábito com todas as bênçãos eclesiais há mais de 40 anos. Mas, agora, a organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) proíbe que as freiras que se vestem sem hábito tenham acesso ao encontro que as jovens irmãs vão ter com Bento XVI no dia 19 de agosto, em El Escorial.
A circular emitida na página eletrônica da JMJ afirma: “As postulantes, as noviças e as professas, para poderem participar, terão que portar seu respectivo hábito”. Mas as excluídas não se resignam e escrevem cartas de protesto aos organizadores e ao cardeal de Madri, Rouco Varela, máximo responsável da diocese e do evento.
Na Espanha, existem hoje 54 mil religiosas. A maioria delas, especialmente as de vida ativa (dedicadas à educação, à saúde, à atenção aos pobres e outros carismas) não usam o hábito, ou seja, dão liberdade às irmãs para se vestir como quiserem. Entre elas, as congregações mais importantes em número, história, prestígio e presença social e espiritual, como as salesianas, as carmelitas, as josefinas, as coracionistas ou as jesuitinas.
Incomodadas com a decisão dos organizadores, muitas delas estão enviando cartas de protesto. Com argumentos muito parecidos. Por exemplo, uma salesiana diz estar surpresa com a medida, dado que “nós, na Espanha assim como em outras partes do mundo, não usamos hábito, simplesmente a cruz, tal como indicado por nossas constituições”. E, com base nisso, pede que a organização lhe confirme a obrigatoriedade do hábito para ver o papa no Patio de los Reyes do mosteiro de El Escorial.
Identidade no secularismo
As respostas da organização da JMJ a esta e a outras freiras são também quase copiadas. À freira salesiana, responderam: “No ordenamento vigente da Igreja, os membros de institutos religiosos devem usar hábito”. E citam vários artigos de suas constituições e de seus regulamentos, em que, segundo eles, se especifica: “O hábito religioso deve ser uniforme para todo o instituto. Admite-se o pluralismo no tecido e na cor (preto, cinza, branco), segundo as exigências dos lugares”.
E, depois de invocar “o amor que você professa ao Santo Padre pelos desejos que se vislumbram em querer participar de um encontro com ele”, a JMJ reafirma a obrigatoriedade do hábito talar. E conclui: “Esperamos que você possa compreender isso e verá a experiência gozosa dessa manifestação pública do que significada no mundo a vida consagrada religiosa, também no modo de se identificar em uma sociedade com tantos sinais de secularismo”.
Não parece ser o caso da irmã salesiana, que replica aos organizadores que os artigos de suas constituições que são citados em apoio do hábito “foram modificados desde 1996″ e, desde então, dizem assim: “Consideramos o hábito religioso e o crucifixo como sinais de consagração e de pertencimento ao Instituto. No pluralismo em que vivemos, o uso de hábitos ou somente do crucifixo depende do contexto sociocultural”. E o regulamento dá liberdade às irmãs para usarem “hábito religioso próprio do Instituto, vestes seculares ou outras vestes, segundo as exigências do lugar”.
“Não devemos nos distinguir só pelo hábito”
Apoiada nesses e em outros documentos, a irmã salesiana acusa os organizadores da JMJ por “terem julgado de forma tão leviana as salesianas espanholas e de outros países que não usam hábito, já que, como Dom Bosco dizia, não devemos só nos distinguir pelo hábito, mas sim pela nossa forma de vida”.
Ele a irmã salesiana conclui enfatizando que respeita as religiosas que usam hábito, porque “são um sinal visível em meio a uma sociedade secularizada, mas nós não somos menos por não usá-lo”. E, caso não tenha ficado claro, explica: “Através das nossas obras e palavras, como Jesus, somos também um sinal da presença próxima de Deus em meio aos jovens mais pobres. E é isso o que realmente conta”.
Apesar dos protestos, a organização da JMJ não deu seu braço a torcer, pelo menos por enquanto, e continua exigindo o hábito a todas as postulantes, noviças e freiras jovens que queiram participar do encontro com Bento XVI em El Escorial. Sem hábito, não há papa, embora diga o ditado que “o hábito não faz o monge”. Nem a freira.
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