sexta-feira, 15 de julho de 2011

João Paulo II intuiu força pública da religião

As razões de Assis, segundo Andrea Riccardi, fundador de Sant’Egidio
CIDADE DO VATICANO, quinda-feira, 14 de julho de 2011 (ZENIT.org) – No encontro de Assis de 1986 não havia nada de sincretismo nem de compromisso, mas a abertura de uma nova forma de relacionamento entre os crentes das diferentes religiões, capaz de superar os enfrentamentos.
É o que diz Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant'Egidio, movimento que se destaca justamente por ter dado continuidade à iniciativa do Papa através da promoção de encontros inter-religiosos pela paz.
Riccardi, em uma coluna na série de artigos que o L'Osservatore Romano está dedicando à próxima reunião de Assis, salienta que Assis "não tem nada a ver com o sincretismo religioso", mas reflete uma "grande visão" de João Paulo II.
Quando se convocou o primeiro encontro em 1986, diz Riccardi, "a cultura ocidental considerava as religiões como uma realidade que a modernidade teria deslocado ou reduzido à esfera privada da vida".
"O Beato João Paulo II, ao contrário, intuiu a força pública das religiões, apesar da secularização – explica ele. Ele sabia que as religiões poderiam ser atraídas pelas paixões belicistas" naqueles momentos de "Guerra Fria".

Naquele momento, diz Riccardi, havia outros modelos do encontro das religiões: "Muitas vezes, diálogos não respeitosos com a substância da fé – que repousavam sobre a ideia de que as religiões são basicamente iguais – se alternavsm com os apelos de líderes religiosos por uma ou outra causa política".
O que João Paulo II inauguraria, salienta, "estava longe de tais modelos", porque a abordagem de Assis foi "um dia de oração e silêncio, sem discussões ou negociações: diferente de congressos inter-religiosos. Nada poderia estar mais longe da ideia da ONU sobre as religiões".
O eixo central foi a oração pela paz: "Talvez como nunca antes na história da humanidade, a relação intrínseca entre o comportamento autenticamente religioso e o grande bem da paz foi evidente para todos".
"João Paulo II sempre e claramente rejeitou a ideia de Assis como a manifestação de uma espécie de inter-religião, esperada por círculos estreitos", afirma Riccardi.
Assis, no entanto, foi "a representação visual do que o Vaticano ensina com a Nostra Aetate. Em seguida, o Papa proclamou sua fé em Cristo e declarou o seu respeito pelas outras crenças".
Para o Papa polonês, "os momentos simbólicos também foram necessários” para fazer surgir "um renovado compromisso dos católicos pela paz, com atenção para a dimensão fundamental da oração e das relações com os seguidores de diferentes religiões".
A expressão "espírito de Assis", diz o fundador de Sant’Egidio, "em seu sentido próprio ilumina o compromisso da Igreja ao serviço da unidade do povo, que também é entendimento e diálogo entre as pessoas que creem".
Neste sentido, cita o trabalho feito pela comunidade que ele fundou, organizando encontros anuais entre os líderes religiosos em diferentes cidades do mundo, "de Roma a Varsóvia, em 1989 (com uma peregrinação a Auschwitz, da qual participaram os muçulmanos), Malta, Jerusalém, Lion, Bucareste (evento que abriu a viagem de João Paulo II ao país, como afirma o patriarca Daniel), até Chipre e outros lugares".
Riccardi também salienta que este é o compromisso de Bento XVI, citando as palavras do Pontífice no encontro inter-religioso de Nápoles (Itália, 2007), promovido pela Comunidade de Sant’Egidio: "Todos nós somos chamados a trabalhar pela paz e a um compromisso real para promover a reconciliação entre os povos. Este é o autêntico ‘espírito de Assis’, que se opõe a todas as formas de violência e abuso da religião como pretexto para a violência".

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