Coluna do Pe. Antonio Rivero, L.C., professor de Teologia e Oratória no seminário Interdiocesano Mater Ecclesiae de São Paulo
Por Pe. Antonio Rivero, L.C.
SãO PAULO, 01 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Nessa semana falaremos de alguns conselhos práticos que podem ajudar o Pregador Sagrado na sua missão:
Compreender o seu público,
ou seja, aquelas pessoas a quem vamos pregar. Conhecer a idiossincrasia
destas pessoas, suas qualidades, suas fraquezas, seus problemas, seu
modo de ser. A Igreja chama isso de “inculturação”. Um espanhol e um
brasileiro não são iguais; nem um francês e um americano, um alemão e um
africano... É necessário falar com a linguagem das diversas culturas,
fazer-nos tudo a todos para ganhá-los para Cristo, como São Paulo (cf. 1
Cor 9, 20-22). Não podemos ir à América Latina com categorias
europeias. Simplesmente não nos entenderão! Ou pior ainda, nos
recusarão! “Amanhã te escutaremos” parafraseando Atos 17, 32.
Preparar bem cada pregação, sem improvisar, deixando
tudo para a última hora. A pregação não é algo que fazemos a título
pessoal. Não! Pregamos em nome da Igreja. É a Igreja que, nesse momento
explica a Palavra de Deus, através do pregador sagrado. Portanto,
preparar a pregação a partir da oração pessoal. Mas também lendo
comentários dos Papas, de autores espirituais bem sólidos e provados,
sobre esses textos litúrgicos ou sobre esse tema do qual pregaremos. Os
melhores comentários que existem sobre os evangelhos são OS SANTOS
PADRES. Temos que ler muito os Santos Padres. São sempre atuais. São um
verdadeiro tesouro a ser descoberto ainda. É como subir-se em ombros de
gigantes. Um exemplo disso é o Papa Bento XVI. É por isso que as suas
pregações são tão profundas, embora simples.
Ser ordenado e estruturado nas ideias da pregação:
hoje temos que transmitir somente uma ideia na homilia ou na palestra, e
desenvolver essa ideia em dois ou três aspectos bem travados e unidos.
Mas somente uma ideia. Só então é que o ouvinte sairá com uma ideia bem
aprendida e tentará vivê-la no seu dia a dia. Das três leituras
dominicais pode-se tirar perfeitamente uma só ideia, desenvolvida em
dois ou três aspectos. Por exemplo, uma homilia com a liturgia de um
domingo: Deus nos convida à conversão (única ideia, tirada do
evangelho); essa conversão supõe reconhecer-nos pecadores (primeiro
aspecto dessa única ideia, tirada talvez da primeira leitura dominical
ou do salmo responsorial); essa conversão trará como efeito a paz
interior e a reconciliação com Deus (segundo aspecto dessa única ideia,
tirada talvez da segunda leitura dominical). E os dois aspectos devem
estar apoiados nos textos litúrgicos lidos. Uma só ideia! Quem fala de
muitas ideias só consegue dispersar o ouvinte e não deixará nada claro e
nem concreto. Quem diz muitas ideias está manifestando que não preparou
profundamente a sua pregação. Provoca uma autêntica indigestão
espiritual nos que escutam.
Ser criativo ao expor a ideia: essa ideia tem que
ser apresentada com alguma metáfora, imagem, novidade, um fato ou
anedota... Só assim ficam mais facilmente gravadas na alma do ouvinte,
pois aparecerá como novidade e originalidade. Nisso o cardeal vietnamita
Van Thuan, que Deus o tenha, era modelo. Não ser chatos com ideias já
usadas e sem originalidade. É preciso ser atraentes e incisivos. Isso
não se consegue com excentricidades ou com continhos e nem fazendo rir.
Não! Isso se consegue tendo meditado muito e com profundidade na Palavra
de Deus. E observando muito a vida humana.
Distinguir o modelo de pregação que me é pedido e o lugaronde
se dá a pregação: primeiro, distinguir que tipo de pregação devemos
dar, pois uma coisa é pregar uma homilia, outra uma reflexão numa hora
santa com Cristo Eucaristia exposto; uma coisa é uma palestra aberta num
auditório, outra é uma meditação num retiro; uma coisa é dar uma
conferência a jovens e outra pregar a adultos ou a crianças ou a
sacerdotes. E o lugar: porque uma coisa é pregar na capela, outra coisa é
pregar num salão de estar ou num estádio ou numa fábrica. Tudo isso
deve ser levado em conta na hora da pregação.
Sempre ser expressivo: sem forçar o próprio
temperamento, não querendo ser aquele que é mais apaixonado e
dinâmico... mas é preciso ser expressivo. Lembre-se dos três elementos
de toda a pregação: idéias de fundo, forma concreta dessas ideias e expressão (velocidade
e temperatura oratória) destas idéias. É necessário combinar os três
elementos para que a pregação seja perfeita. Todo o nosso ser deve ser
expressivo: voz, gestos, mãos, corpo, olhos, sentimentos, emoções,
silêncio, questionamentos e perguntas diretas... Não devemos ser
tímidos, nem ter medo de falar, nem falar com voz apagada ou monótona,
ou em abstrato ou sem olhar para o auditório. Se fizermos isso o povo
dorme. As pessoas vão odiar a nossas pregações, em vez de gozar com a
pregação sagrada. Fides ex auditu, nos fala São Paulo, “a fé entre pelo
ouvido” (Rm 10, 17).
Pregar a todo homem e ao homem todo: a todo homem: à criança, ao adulto, ao ancião, ao enfermo, ao que sofre, ao ignorante e ao simples, ao complicado e questionador... e a todo o homem: inteligência,
sentimentos, afetos, coração, vontade... E a Palavra de Deus pregada
tem que “tocar” a existência humana em todos os campos: pessoal,
familiar, laboral, profissional, religioso... Por isso, o pregador
buscará aplicar essa Palavra de Deus e “fazê-la caminhar” pelos meandros
da vida dou ouvinte. O ouvinte durante a pregação deveria dizer: “Isso!
É isso que eu preciso, encaixa perfeitamente o que fala esse pregador”.
É assim que o ouvinte se deixará transformar por essa Palavra de Deus
que o pregador soube baixar para a vida deles concretamente. E com
certeza vamos ter essa pessoa em todas as nossas pregações porque nos
entende e entende que a Palavra de Deus explicada é muito atual para a
sua vida, e não algo do passado ou de museu.
Ser simples, respeitoso e positivo ao pregar: não
insistir tanto no que está mal. Apresente mais o bem que por si só
atrai. Não estamos no século de certa apologética agressiva, inflexível,
rigorosa e um pouco arrogante. Hoje temos de conquistar as pessoas com a
bondade, com a simplicidade, com o encanto e a gota de mel. Isso não
significa que não devemos dizer a verdade. É necessário apresentá-la,
mas com bondade e respeito, para que atraia. Quando seja preciso falar
algo forte, duro e negativo (p.e. os que vivem juntados ou divorciados e
casados em segunda união não podem e nem devem comungar, etc...), é
necessário falar em terceira pessoa e nunca interpelar a pessoa em
questão. Não dizer: “Você que está juntado... não deve comungar”. Seria
muito ofensivo. É melhor dizer: “Quem se encontra nessa situação não
deveria se aproximar da comunhão porque...”. E quando se trata de algo
positivo, então sim, interpelar em segunda pessoa: “Que bom que você foi
generoso e fiel! Deus será também com você”.
Sentir com a Igreja em tudo o que ela se propôs para este ano: se
é o ano sacerdotal, não deveria ter nenhuma pregação durante o ano que
não tivesse alguma menção sobre essa circunstância... se é o ano
paulino, o mesmo. Ou o ano dedicado a Jesus Cristo (1997), ou ao
Espírito Santo (1998), ou a Deus Pai (1999), ou o ano da Eucaristia
(2000). Ou o ano da fé, no qual estamos agora. Não se pode caminhar em
paralelo com a Igreja. Os tríduos desse ano e os exercícios espirituais e
os retiros, as homilias deveriam estar focadas e marcadas por essa
circunstância eclesial. Isso é parte do “sentire cum Ecclesia”. Devemos
ir ao passo da Igreja. Também nisso.
Destacar com frequência nas pregações aspectos e virtudes dos santos: os
santos são nossos irmãos que já conseguiram o que nós estamos
procurando: a santidade de vida. Eles nos dão exemplo e nos dizem quais
aspectos são necessários praticar para agradar a Deus, crescer nas
virtudes e alcançar a salvação eterna, que é a graça das graças. Quanto
são edificantes as anedotas dos santos! Compre livros de santos e
leia-os. E assim você vai colocar nas pregações exemplos maravilhosos e
edificantes dos santos nos temas que estará tratando na pregação.
Conclusão: Espero que esses conselhos sirvam para que a sua pregação
seja a cada dia de qualidade, para a glória de Deus e a salvação das
almas. Isso é o que me tem ajudado. Não sei se lhes ajudará, pois todos
somos diferentes.
Na semana passada apresentei aos leitores de ZENIT os pré-requisitos para a Pregação Sagrada. Pode ler clicando aqui. Na próxima semana falaremos mais especificamente do pregador sagrado: catequista, diácono, sacerdote, bispo.
Padre Antonio Rivero nasceu em Ávila, em 1956. Ordenado
sacerdote legionário de Cristo em Roma, em 1986. Tem licenciatura em
Humanidades Clássicas, em Filosofia pela Universidade Gregoriana, e
licenciado e doutor em Teologia Espiritual pelo Ateneu Pontifício Regina
Apostolorum em Roma. Escreveu cinco livros de espiritualidade e já
gravou mais de 200 CDs de formação católica. Dá congressos e
conferências em Los Angeles. Também oferece cursos, retiros e exercícios
espirituais para leigos, religiosas e sacerdotes na Colômbia, Peru e
Brasil. Atualmente exerce seu ministério sacerdotal como professor de
teologia e oratória, e diretor espiritual no Seminário interdiocesano
Maria Mater Ecclesiae do Brasil.
Caso você queira se comunicar diretamente com o Pe. Antonio
Rivero escreva para arivero@legionaries.org e envie as suas dúvidas e
comentários.
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