Brasileiros ouvem do Papa que ele virá para a Jornada da Juventude

[odia]

POR Christina Nascimento

Rio -  Em bom português (e sem sotaque), o Papa Francisco garantiu que virá para a Jornada Mundial da Juventude. Religiosos brasileiros ouviram Bergoglio confirmar sua vinda para o evento, no fim de julho. “E ainda cantou o trecho de uma musiquinha brasileira, que não vou revelar qual. É segredo”, brincou o monsenhor Antônio Luiz Catelan, assessor do presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno Assis.

Papa andou de ônibus Foto: Reprodução da Internet

Animado com a disposição do novo Papa, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, disse ontem que estuda levá-lo a uma favela carioca. A programação que foi feita para Bento 16 na cidade previa a ida dele a uma comunidade pacificada, mas a agenda acabou descartada devido à saúde de Joseph Ratzinger.

“Podemos repropor sobre isso e verificar se é possível. Se vai acontecer, não sei. É um costume na Jornda que o Papa, quando tem saúde, visite vários tipos de realidade de cada cidade. E, neste caso, sem dúvida, as favelas são uma realidade local nossa”, disse Dom Orani, antes de celebrar a missa de Ação de Graças ao Papa Francisco na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro.

“O Papa João Paulo 2º visitou (uma comunidade carioca quando esteve no Brasil) e seria interessante que assim ele fizesse. Ainda mais um Papa Francisco, que tem essa característica de amor e carinho com os pobres, os mais necessitados”, afirmou Dom Orani.

Ex-aluno do Papa Francisco, o padre jesuíta Armando Raffo acredita que os católicos podem esperar do novo líder uma relação menos protocolar . “Eu tinha 19 anos e era noviço no Uruguai quando o conheci. O Papa é uma pessoa muito simples, de profunda espiritualidade. Seria interessante se na Jornada ele tivesse uma conversa aberta sobre vários assuntos”, afirmou.

Francisco andou de ônibus com colegas, brindou, fez piada e voltou a hotel para pagar a conta

No primeiro dia de Francisco como Papa, ele andou de ônibus com os colegas cardeais, fez piada ao brindar com champanhe e ainda voltou ao hotel em que se hospedara em Roma, às vésperas do conclave, para pagar a conta, apesar de o estabelecimento pertencer à Igreja, e “dar o exemplo” aos demais religiosos. Sua “simplicidade franciscana” foi amplamente elogiada.

“O Papa João Paulo 2º atraía só com a sua presença. Depois que ele veio a faltar, o novo papa atraía para ser ouvido. E o novo vai continuar chamando a atenção, agora pelo modo de ser”, disse Dom Raymundo Damasceno, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que deu entrevista ontem ao lado de outros dois brasileiros participantes do conclave, dom Odilo Scherer e dom Geraldo Majella Agnelo.

Os cardeais do Brasil contaram que o jantar de comemoração teve champanhe e foi marcado por uma brincadeira do Papa Francisco: “Que Deus os perdoe por terem me escolhido”. Eles também revelaram que, após o primeiro discurso aos fiéis, Francisco se recusou a subir na limousine à sua disposição e voltou de ônibus à Casa Santa Marta, onde os cardeais estavam hospedados.
BATE PAPO EM PORTUGUÊS

Segundo o monsenhor Antônio Luiz Catelan, assessor do presidente da CNBB, que estava no ônibus, o Papa, ao entrar no veículo, olhou vários lugares vazios e disse, em português: “Vou me sentar com o Raymundo.” Segundo Catelan, Francisco tem um português muito bom e não vai precisar tomar aulas para vir ao Brasil. “Ele disse que o Brasil é um país bonito, um povo alegre. E cantou um trechinho de uma musiquinha brasileira que não foi revelar qual foi. É segredo pontíficio”, brincou Catelan.

Ontem, o Papa Francisco fez questão de passar no hotel de Roma onde ficou hospedado durante uma semana, antes do conclave, o Domus Internationalis Paulus VI. Ele buscou pertences e fez questão de pagar suas diárias, apesar de o local ser administrado pela Igreja. O padre Pawel Rytel-Andrianik, que vive no hotel, disse: “Ele nunca pedia carro, mesmo que pudesse. Sempre foi de metrô ou caminhando aos afazeres.”

Amor proibido teria levado ao sacerdócio

Antiga vizinha do Papa, uma senhora de nome Amalia disse ontem à imprensa estrangeira que foi namorada dele quando ambos tinham 12 anos. Os dois moravam no bairro de Flores, em Buenos Aires e, segundo ela, o namoro não foi à frente porque seus pais foram contra. “Se não me casar com você, vou virar padre”, teria dito o pré-adolescente a Amalia, segundo a própria.

A senhora contou também que o garoto lhe deu carta com o desenho de uma casa onde eles iriam morar. “Meu pai me deu uma surra, porque eu me atrevia a ler a carta de um menino e fez todo o possível para nos separar”.

MUNDO REAGE COM A NOVIDADE

DILMA NO VATICANO
A presidenta Dilma Rousseff aceitou convite recebido ontem para comparecer à missa que vai inaugurar o Pontificado de Francisco, na próxima terça-feira, no Vaticano.

RABINO CONVIDADO
Aberto ao diálogo com outras religiões, Francisco convidou o rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, para a cerimônia de terça-feira, de inauguração de seu Pontificado. “Espero fortemente poder contribuir com o progresso que as relações entre hebreus e católicos”, disse o novo Papa em seu comunicado. O presidente Shimon Peres convidou o Pontífice a visitar Israel.
RIVAIS SÓ NO FUTEBOL
Dom Raymundo Damasceno, presidente da CNBB, falou ontem sobre o fato de o novo Papa ser argentino. “A disputa é mais no campo do futebol, entre Pelé e Maradona. Não existe essa disputa no campo religioso”, afirmou.
CASA ROSADA: MAL ESTAR
Segundo o colunista do jornal argentino ‘La Nación’, Mariano Obarrio, o que mais se ouvia nos corredores do palácio presidencial da Argentina era: “Não pode ser”. O relacionamento entre o novo Papa e a presidenta Cristina Kirchner é ruim. Ela teria levado duas horas para felicitar o conterrâneo.
AGENDA LOTADA
O novo Papa — que assume oficialmente na terça-feira — já tem vários compromissos agendados. Hoje de manhã, realiza audiência com todos os cardeais na Sala Clementina. Domingo, recita o Angelus do Apartamento Papal.