[cleofas]
22 de janeiro de 2014
Muitas
pessoas me perguntam se Nossa Senhora e os Santos são oniscientes; e
como é que eles recebem todos os nossos pedidos de intercessão ao mesmo
tempo. Como conseguem isto.
A resposta é fácil de explicar e difícil de entender. Mas vamos lá.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que a Igreja católica nunca teve
dúvida da real intercessão dos Anjos, dos Santos e da Virgem Maria a
nosso favor diante de Deus. Numa das Orações Eucarísticas o sacerdote
reza aos santos “que na presença de Deus não cessam de interceder por
nós”. Desde os primeiros séculos, nas catacumbas, os cristãos celebravam
a santa Missa sobre o túmulo dos mártires do império romano, para
pedir-lhes a intercessão.
Já no Antigo Testamento encontramos a intercessão dos santos. Em
2Mac15, 11ss, vemos Judas Macabeus narrar algo interessante: “Eis o que
vira: Onias [já falecido], que foi sumo sacerdote, homem nobre e bom,
modesto em seu aspecto, de caráter ameno, distinto em sua linguagem e
exercitado desde menino na prática de todas as virtudes, com as mãos
levantadas, orava por todo o povo judeu. Em seguida havia aparecido do
mesmo modo um homem com os cabelos todos brancos, de aparência muito
venerável, e cercado por uma admirável e magnífica majestade. Então,
tomando a palavra, disse-lhe Onias: “Eis o amigo de seus irmãos, aquele
que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de
Deus”. E Jeremias, estendendo a mão, entregou a Judas uma espada de
ouro, e, ao dar-lha, disse:Toma esta santa espada que Deus te concede e
com a qual esmagarás os inimigos.”
São Jerônimo (340-420), doutor da Igreja, disse: “Se os Apóstolos e
mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de
cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já
receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem,
alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para
seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo?
São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que
seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua
morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor
daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?” (Adv.
Vigil. 6) Santo Hilário de Poitiers (310-367), bispo e doutor da Igreja
afirma que: “Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para
permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a
proteção dos santos”.
São Cirilo de Jerusalém (315-386): bispo de Jerusalém e doutor da
Igreja confirma que: “Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de
nós: Patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires; para que Deus, por sua
intercessão e orações, se digne receber as nossas”.
Mas como os Santos e Anjos ficam sabendo de nossos pedidos? É claro
que eles não são oniscientes; somente Deus sabe tudo. A resposta é:
através de Deus. Uma vez que eles estão em comunhão com Deus, participam
de sua natureza divina, podem através de Deus conhecer nossos pedidos.
Mal comparando é com se Deus funcionasse como uma fantástica “central de
informações” a todos eles. Por causa dos méritos dos santos Deus ouve
as suas preces em nosso favor.
É preciso entender que no Além, tudo muda; não podemos mais
raciocinar com nossas categorias humanas deste mundo. Não há mais tempo e
nem espaço, que criam os obstáculos de locomoção, passado, futuro, etc.
A vida em Deus é completamente diferente da realidade deste mundo. O
corpo de Jesus ressuscitado atravessava as paredes do Cenáculo sem
rasgá-las!… A Física pode nos ajudar a compreender um pouco a
relatividade da vida no Além em comparação com nossa vida terrena; não
que a Física possa explicar a eternidade.
Na Teoria Restrita da Relatividade, o físico Albert Einstein, que
ganhou o Premio Nobel pela descoberta do efeito foto-elétrico, mostrou
que mesmo neste mundo toda a realidade física é relativa, especialmente o
tempo, o espaço e a massa. Por exemplo, vejamos o que foi chamado de
“Paradoxo dos gêmeos”: Imagine dois gêmeos de 20 anos cada um. Vamos
supor que um deles fique na Terra, e o outro parta para uma viagem
imaginária, com uma velocidade de 99% da velocidade da luz, até a
estrela Arcturus, que fica a 40 Anos – Luz da Terra (uma distância
percorrida em 40 anos com a velocidade da luz – 300.000 Km/s). Einstein
mostrou que quando o viajante retornar, ele teria 69,4 anos de idade,
enquanto que o que ficou na Terra teria 100,8 anos; isto é, o tempo para
o viajante passou muito mais devagar. Se o gêmeo viajante pudesse
viajar com velocidade igual 100% a da luz, o tempo para ele não passaria
mais, e ele voltaria com a mesma idade que partiu. Estaria fora do
tempo!… Isto explica a eternidade? Não, pois Einstein mostrou também que
um corpo não consegue atingir 100% da velocidade da luz, já que a sua
massa cresceria infinitamente.
Um outro exemplo desta Teoria é este: uma régua de 100 centímetros,
quando medida em repouso; teria apenas 80 centímetros se fosse medida
estando a uma velocidade de 60% da velocidade da luz. Se fosse medida
com uma velocidade igual 100% a da luz (o que é impossível) teria
comprimento zero; não ocuparia mais espaço!…
Com esses exemplos eu não quero afirmar que a Física possa explicar a
vida no Além; não, ela é muito mais complexa e misteriosa. Quero apenas
mostrar que, se já neste mundo, as coisas são relativas, muito mais o
são não eternidade, que “ouvidos jamais ouviram, olhos humanos jamais
viram e coração humano jamais sentiu o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam”. (1Cor 2, 9)
Os Santos, mesmo sem serem oniscientes, recebem, através de Deus os nossos pedidos, e nos atendem. Não perca esta graça!
Prof. Felipe Aquino
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