Redação (Sábado, 04-01-2013, Gaudium Press) - Transcrevemos hoje artigo do Padre Rodrigo Alonso Solera Lacayo, EP que foi publicado recentemente:
O que acontece com a substância do pão e
do vinho após a Consagração? Onde estão depois de ceder lugar ao Corpo,
Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo? Voltam ao nada?
As perguntas destacadas acima foram
feitas certa vez pelo Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João
Scognamiglio Clá Dias, EP, para incentivar que se escrevesse um artigo
nesta revista sobre a transubstanciação. Mas respondê-las, conforme ele o
fez naquela ocasião, não é fácil...
Diante dos mistérios sobrenaturais,
nossa fé encontra, em geral, pontos de apoio dentro da ordem natural. No
caso da Encarnação, por exemplo, a natureza humana de Jesus é uma porta
que nos torna mais acessível a fé em sua natureza divina. É por este
motivo que São Tomé, ao contemplar Jesus ressuscitado, "viu um homem e
pela fé confessou a Deus, quando disse: ‘Meu Senhor e meu Deus'".1
Contudo, tratando-se da Santíssima Eucaristia, nossa fé não encontra
nenhuma referência natural nem palavras capazes de explicar
convenientemente o milagre. Neste Sacramento não só a divindade de
Cristo está escondida sob os véus de sua humanidade, mas também esta
última se oculta sob os véus do pão e do vinho. Portanto, ao
considerarmos qualquer aspecto da Eucaristia, devemos reconhecer que
estamos, em certo sentido, perante o maior mistério da Fé!
À vista disso, procurar instruir-se mais
sobre a transubstanciação não seria pretender explicar o inexplicável,
explorar o inexplorável e compreender o incompreensível? Não seria
melhor assumir uma atitude de "fé cega" como os Apóstolos, os quais
creram na Eucaristia durante a Última Ceia sem entrar em pormenores
doutrinários?
Essa foi a opinião de vários hereges.
Contra a atitude deles, na aparência razoável, argumenta São Tomás:
"Embora o poder divino opere neste Sacramento de uma maneira mais
sublime e misteriosa do que pode a razão humana atingir, [...] deve-se
envidar esforços para que seja excluída qualquer impossibilidade". 2
Ademais, um estudo piedoso - conforme procuraremos fazer aqui, com a
ajuda da graça - pode ser de sumo proveito para nossa vida espiritual,
pois ilumina nosso entendimento, inflama nossa caridade e nos arma
contra os erros que nos podem desviar a Fé.
I - Pressupostos filosóficos
Não se assuste, caro leitor, se primeiro
consideramos alguns princípios tomados da filosofia. Este artigo não
transmitirá uma avalanche de conceitos e definições! Só veremos os
pressupostos estritamente necessários a partir de exemplos comuns.
A reflexão dos filósofos antigos sobre as mudanças na natureza
Uma das primeiras experiências de nossos
sentidos é que neste mundo os seres estão em constante mudança. O
próprio Divino Mestre apontou para um exemplo disso ao afirmar com
incomparável beleza e simplicidade: "Considerai como crescem os lírios
do campo" (Mt 6, 28).
Basta abrir os olhos para comprovar que essas duas teorias filosficas constituem,na realidade, explicações unilaterais da natureza |
Alguns dos antigos filósofos, analisando
a natureza, concluíram que tudo está submetido a perpétuas alterações,
nada permanece igual. Assim sintetizou Heráclito este ponto de vista:
"De quem desce ao mesmo rio vêm ao encontro águas sempre novas".3
Outros, como Parmênides, sustentaram a tese oposta: abandonaram o
testemunho dos sentidos para afirmar que as mudanças neste mundo são
meras aparências, tudo permanece sempre igual.
Ora, basta abrir os olhos para comprovar
que essas duas teorias constituem, na realidade, explicações
unilaterais da natureza. A solução equilibrada veio de Aristóteles,
segundo o qual em toda transformação algo muda e algo permanece. E
compreender o que muda e o que permanece, do ponto de vista filosófico,
nos será indispensável para considerar a transubstanciação.
Os dois tipos de conversões no universo material
Ao analisarmos as mudanças nos seres em torno de nós, podemos constatar de que não são todas iguais.
De um lado, as coisas podem mudar sem
deixar de ser o que são; por exemplo, uma maçã verde amadurece e
continua sendo a mesma maçã. Este tipo de conversão é acidental porque a
substância, aquilo que a coisa é (uma maçã) permanece igual; só os
acidentes ou formas acidentais, isto é, suas características não
essenciais (tamanho, cor, sabor, etc.), sofrem alterações.
De outro lado, há mudanças muitíssimo
mais profundas e complexas, como a verificada numa árvore destruída num
incêndio. Este segundo tipo de conversão é substancial, pois a árvore
deixou de existir. Não obstante, ainda neste caso algo permanece. Com
efeito, não é verdade que enquanto a árvore era consumida pelo fogo
apareceram fumaça e cinza? Portanto, há uma continuidade, um elemento
comum entre a substância da árvore, a da fumaça e a da cinza, e um
elemento próprio que as distingue entre si.
O elemento comum e primeiro do qual
estão constituídas todas as substâncias materiais - não só a árvore, a
cinza ou a fumaça - denomina-se em filosofia matéria-prima. E aquilo que
cada uma tem de essencial ou próprio, especificando a matéria-prima,
chama-se forma substancial. Nas conversões substanciais permanece
inalterada apenas a matéria-prima como ponto fixo sobre o qual mudam as
formas substanciais e as acidentais.
Vejamos um exemplo com a finalidade de ilustrar estes conceitos:
O homem possui como forma substancial de
seu corpo uma alma racional e espiritual, a qual o diferencia dos
animais não racionais. Além disso, todo homem tem características
particulares que podem variar de um para outro: altura, idade, peso,
etc., porque a matéria-prima e a forma substancial sempre estão unidas
para constituir uma substância, a qual por sua vez está unida a formas
acidentais. Dentre os seres materiais, só o homem possui uma forma
substancial capaz de existir separada do corpo, após a morte. O corpo,
pelo contrário, em nenhum instante fica sem uma forma substancial, pois
sua matéria-prima recebe outra forma tão logo se dá a separação com a
alma, passando a ser um cadáver e depois pó, à espera da ressurreição e
do Juízo Final. A alma humana é, pois, a exceção que confirma a regra,
mas com matizes significativos... De fato, São Tomás observa que uma
alma separada não pode ser chamada de pessoa, a tal ponto ela constitui
uma unidade substancial com o corpo.4
Os princípios considerados nesta
primeira parte nos serão indispensáveis a seguir, mas podemos adiantar
que no singularíssimo milagre da transubstanciação acontece algo
completamente diferente...
II - A doutrina da transubstanciação em São Tomás
É compreensível que algum dos
pressupostos acima não tenha ficado inteiramente claro. Portanto, caro
leitor, não se preocupe se tiver alguma dúvida! O tema é complexo, mas a
proverbial clareza de São Tomás nos terminará por esclarecer tudo,
permitindo-nos adentrar na maravilhosa doutrina da transubstanciação.
Duas heresias sobre a Santíssima Eucaristia
Segundo narra o Apóstolo Virgem, São
João Evangelista, quando Nosso Senhor afirmou que sua Carne é verdadeira
comida e seu Sangue verdadeira bebida, muitos de seus discípulos O
abandonaram, por considerar duras e inaceitáveis essas palavras (cf. Jo
6, 50-66). E o Doutor Angélico equipara essa péssima reação à dos
hereges que se insurgiram, desde então, contra o ensinamento da Igreja
sobre a Eucaristia.5
Para eles, Nosso Senhor estaria neste
Sacramento só de modo simbólico e figurativo, no sentido metafórico
utilizado por São Paulo ao dizer que a pedra da qual Moisés fez brotar
água no deserto era Cristo (cf. I Cor 10, 4). Tal como essa rocha foi um
sinal das graças que fluiriam pela Redenção, a Eucaristia seria uma
mera figura da ação de Nosso Senhor sobre as almas. A prova disso seria o
fato de nossos sentidos não perceberem, após a Consagração, nenhum
traço da presença d'Ele.
A tal alegação, São Tomás responde com
clareza: "Que o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo estejam no
Sacramento não se pode apreender pelo sentido, mas somente pela fé, que
se apoia na autoridade divina".6 E o Concílio de Trento definiu de forma
categórica: "Se alguém negar que, no Sacramento da Santíssima
Eucaristia, estão contidos verdadeira, real e substancialmente o Corpo e
o Sangue, junto com a Alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo
e, portanto, o Cristo inteiro, mas disser que estão apenas como que em
sinal ou em figura ou na eficácia, seja anátema".7
"Vitória de São Tomás de Aquino sobre os hereges" - Santuário de Santa Rosa de Lima, Lima |
Outros autores, não ousando negar a
presença real, sustentaram que a substância do pão e do vinho permanece
após a Consagração, junto com o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor.
Segundo estes, assim como a natureza humana de Jesus foi assumida pela
divina do Verbo, na Encarnação, o Verbo Se uniria hipostaticamente à
substância do pão e do vinho na Eucaristia!
A eles responde o Doutor Angélico: "Deus
uniu a sua divindade, isto é o poder divino, ao pão e ao vinho, não
para que eles permaneçam neste Sacramento, mas para que o poder divino
faça deles seu Corpo e Sangue".8 A Santa Igreja confirmou mais tarde
esta doutrina, condenando a opinião contrária: "Se alguém disser que, no
sacrossanto Sacramento da Eucaristia, permanece a substância do pão e
do vinho juntamente com o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo,
[...] seja anátema".9
A substância do pão e do vinho é aniquilada?
Refutados esses erros, alguns autores
defenderam a seguinte tese: depois da Consagração, a substância do pão e
do vinho se reduziria a uma matéria preexistente, mas sem especificar
qual seria!
Analisada sob qualquer prisma, esta tese
é absurda. Se eles aludiam à matéria-prima, é impossível que a
substância do pão e do vinho seja reduzida a esse estado. Conforme
vimos, a matéria-prima só pode existir unida a uma forma substancial e
com acidentes. E se referiam a qualquer outro tipo de matéria, como é
possível que nossos sentidos não a percebam no altar?
Outro erro ainda foi ventilado: a
substância do pão e do vinho voltaria ao nada. A isto responde São Tomás
com candura e bom senso, frutos de sua piedade: "Parece impossível
também que a substância do pão volte totalmente ao nada. Com efeito,
muito da natureza corporal criada teria já voltado ao nada pelo uso
frequente deste mistério. E não convém que, neste Sacramento de
Salvação, alguma coisa seja reduzida ao nada pelo poder divino".10
Mas, então, o que acontece com a
substância do pão e do vinho? Retomemos as perguntas feitas no início do
artigo, desta vez com mais pressupostos para respondê-las. Para isso,
vejamos como a substância do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo se torna
realmente presente na Santíssima Eucaristia.
A um passo de solucionar a questão...
Como pode um objeto passar a estar num lugar onde antes não se encontrava?
Se numa bela manhã caminhamos por um
jardim e nos deparamos com cinza no chão, a qual não estava aí no dia
anterior, como explicar sua presença nesse local? A experiência nos
mostra que isso só é possível por uma mudança de lugar ou pela conversão
de outra coisa em cinza. Em outros termos, ou ela foi levada até lá, ou
uma parte do jardim foi consumida pelo fogo, transformando-se em cinza.
Pois bem, sabemos que pelas palavras da
Consagração o Corpo, Sangue, Alma e divindade de Nosso Senhor começam a
estar onde antes só havia pão e vinho. Mas isso se verifica por uma
mudança de lugar? O Doutor Angélico responde negativamente expondo três
argumentos:
Primeiro, Nosso Senhor deixaria de estar
no Céu cada vez que se celebrasse uma Missa, pois começar a estar num
lugar novo implica deixar o anterior. Segundo, seria impossível celebrar
Missas em diversos lugares ao mesmo tempo, pois uma mudança de lugar
não pode terminar simultaneamente em locais diferentes. Por fim,
qualquer mudança de lugar leva tempo para realizar-se, e a Consagração
do pão e do vinho se verifica no último instante em que são pronunciadas
suas respectivas fórmulas; se a Consagração se verificasse aos poucos,
sob alguma parte da hóstia estariam ao mesmo tempo o Corpo de Cristo e a
substância do pão, e no vinho estariam seu Sangue e a substância do
vinho. Ora, isso não é possível acontecer, como foi explicado acima.
Mas, poder-se-ia objetar, estes
argumentos não se aplicam ao Corpo glorioso de Nosso Senhor. Na
realidade, porém, nem os Anjos, de natureza puramente espiritual, são
capazes de estar em vários lugares ao mesmo tempo.11 Além disso, embora o
corpo glorioso seja agilíssimo, não se move de modo instantâneo,
precisa sempre passar pelos locais intermediários para ir de um lugar a
outro.12
Portanto, uma vez que na
transubstanciação não ocorre mudança de lugar, podemos concluir com
segurança que a conversão é a única via para explicar a presença real na
Eucaristia: "Resta, pois, afirmar que o verdadeiro Corpo de Cristo
começa a estar neste Sacramento ao se converter a substância do pão na
substância do Corpo de Cristo, e a substância do vinho na substância do
seu Sangue".13
O singularíssimo milagre da transubstanciação
Como vimos na primeira parte, há duas
espécies de conversões naturais. Nas acidentais, a substância permanece
inalterada e só as formas acidentais sofrem alguma modificação; por
exemplo, quando a água fria se torna quente pela ação do calor. E nas
substanciais só permanece inalterada a matéria-prima, a qual, unida a
uma nova forma substancial, constitui outra substância; por exemplo,
quando alguém come uma fruta, esta deixa de ser um alimento e passa a
fazer parte do corpo de quem a comeu.
Pelas palavras da Consagração o Corpo, Sangue, Alma e divindade de Nosso Senhor começam a estar onde antes só havia pão e vinho |
Assim, as modificações naturais, quer
acidentais quer substanciais, constituem uma conversão de forma, ou
seja, uma transformação. Porém, a conversão da substância do pão no
Corpo de Nosso Senhor, e da substância do vinho no seu Sangue, é
realizada de um modo totalmente diverso. Com efeito, pelas palavras da
Consagração, toda uma substância - com sua matéria-prima e forma
substancial - se converte em toda outra substância, permanecendo apenas
os acidentes da primeira. Por isso, "esta conversão não é formal, mas
substancial. Não se classifica entre as diversas espécies de movimento
natural, mas pode-se chamar com o nome apropriado de
‘transubstanciação'".14
Em contraste com as transformações
substanciais, na transubstanciação não procede um novo ser, e sim uma
Pessoa preexistente: Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro,
nascido de Maria Virgem. Por isso, transformar um pedregulho numa águia
é nada em comparação ao milagre operado na Consagração! Embora só Deus
seja capaz de transformar em águia um pedregulho, essa conversão
seguiria o curso das transformações naturais, nas quais uma
matéria-prima recebe outra forma substancial e novos acidentes. Só se o
pedregulho fosse convertido numa catedral preexistente, por exemplo, de
maneira a ela estar contida inteira sob as aparências do minúsculo
seixo, teríamos uma imagem mais aproximada da conversão eucarística.
O Doutor Angélico demonstra com um
belíssimo argumento o caráter singular e admirável da transubstanciação:
"Esta conversão, porém, não se assemelha às conversões naturais, mas é
totalmente sobrenatural, realizada unicamente pelo poder de Deus. Daí,
Ambrósio dizer: ‘É claro que a Virgem gerou além da ordem da natureza. E
o que consagramos é o Corpo nascido da Virgem. Portanto, por que
procuras no Corpo de Cristo a ordem da natureza, uma vez que foi além da
natureza que a Virgem deu à luz o próprio Senhor Jesus?'. E a respeito
do texto de João: ‘As palavras que Eu vos disse', a saber sobre este
Sacramento, ‘são espírito e vida', Crisóstomo explica: ‘São palavras
espirituais, nada têm de carnal nem seguem uma lógica natural, mas são
livres de toda necessidade terrestre e das leis que regem aqui em
baixo'".15
Assim, a substância do pão e do vinho
não permanece na Eucaristia, nem se reduz a outro tipo de matéria e
também não volta ao nada. Conforme o definiu o Concílio de Trento, "pela
Consagração do pão e do vinho realiza-se uma conversão de toda a
substância do pão na substância do Corpo de Cristo, Nosso Senhor, e de
toda a substância do vinho na substância de seu Sangue. Esta conversão
foi denominada, convenientemente e com propriedade, pela Santa Igreja
Católica, transubstanciação".16
Um pormenor de particular importância
Na maioria das vezes, só mencionamos ao
longo deste artigo que o Corpo de Nosso Senhor está neste Sacramento sob
as espécies do pão, e seu Sangue sob as espécies do vinho. Ora, não
está Ele presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade tanto numas quanto
nas outras?
De fato, Cristo está inteiro neste
Sacramento. Contudo, cada uma das partes d'Ele se encontra de dois modos
diversos: pela virtude do Sacramento ou por concomitância natural.
Explica o Doutor Angélico: "Pela força do Sacramento, está sob as
espécies sacramentais aquilo em que diretamente se converte a substância
do pão e do vinho anteriormente existente. Isso vem significado pelas
palavras da forma, que são eficazes neste e nos outros Sacramentos, por
exemplo, quando se diz ‘Isto é o meu Corpo', ‘Este é o cálice do meu
Sangue'. Por uma concomitância natural, está presente neste Sacramento o
que realmente está unido àquilo em que termina a conversão".17
Singular e admirável milagre: durante a Missa Nosso Senhor, por assim dizer, nasce sacramentalmente sobre o altar |
Portanto, sob as duas espécies se
encontram o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor. Mas em
virtude do Sacramento estão respectivamente o Corpo e o Sangue sob as
espécies do pão e do vinho; o restante está nas duas espécies por
concomitância natural.
III - Nossa piedade diante deste singular e admirável milagre
Quando, doravante, estiver próximo da
Consagração numa Missa, lembre-se, caro leitor, desta sublime verdade:
você presenciará o milagre que mais faz estremecer a ordem do universo.
"A mudança do pão no Corpo de Jesus e do vinho em seu Sangue abala toda a
natureza. À voz de Moisés, o Mar Vermelho suspendeu suas ondas; à voz
do sacerdote, a natureza suspende suas leis, os milagres sucedem-se em
cadeia uns aos outros, o mundo é como que sacudido pelo incrível
prodígio da Consagração; e para manter a ordem em meio a essa gigantesca
comoção, é necessário um poder maior, em certo sentido, que o poder de
criar".18
Na transubstanciação, com efeito, há
aspectos mais extraordinários do que na criação, pois nesta só é
complexo explicar como pode algo ser tirado do nada. E por um aparente
paradoxo, enquanto o poder de criar seres do nada é exclusivo de Deus,
Nosso Redentor concede a seus ministros, pela ordenação sacerdotal, a
potestade de consagrar o Santíssimo Sacramento.19
Qualquer um de nós daria a vida para
contemplar a Anunciação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora e a
Encarnação do Verbo. Sem dúvida, também daríamos a vida para ver o
Menino Jesus nos braços virginais de Maria Santíssima, na Gruta de
Belém. Entretanto, não deveria ser menor nosso desejo de assistir,
durante a Missa, ao singular e admirável milagre pelo qual Nosso Senhor,
por assim dizer, nasce sacramentalmente sobre o altar, derramando sobre
nossas almas as mais copiosas graças e bênçãos divinas: "Este Jesus vós
O amais, sem O terdes visto; credes n'Ele, sem O verdes ainda, e isto é
para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque vós estais
certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas almas" (I
Pd 1, 8-9)
Por Padre Rodrigo Alonso Solera Lacayo, EP - In Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2013, n. 144, p. 18 a 24
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