quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A solidariedade nasce com Adão

[osservatoreromano]
5 de Fevereiro de 2014

É fundamental reconhecer que a figura central da economia é a pessoa humana.

«Economia» é uma palavra grega que significa «lei da casa» do mundo, na qual devemos considerar primeiramente as pessoas antes de qualquer realidade financeira. Por conseguinte, finanças e economia não são sinônimos – escreve o cardeal Gianfranco Ravasi no discurso que pronunciará a 6 de Fevereiro na universidade Corvinus de Budapeste durante a etapa húngara do Átrio dos gentios.
O elemento fundamental é reconhecer que a figura central que predomina o horizonte é a pessoa humana. As finanças são só um instrumento que deve estar ao serviço da economia, que é a regra da vida social da inteira humanidade. Em momentos difíceis é preciso encontrar alguns valores culturais e éticos fundantes. Uma primeira concepção radical que propomos poderia ser definida como o «princípio personalista». Com efeito, o conceito de pessoa, para cujo nascimento contribuíram também outras correntes de pensamento, adquire no mundo judaico-cristão uma configuração particular através de um rosto que tem um dúplice perfil e que agora representaremos fazendo referência a dois textos bíblicos essenciais que são quase um incipit absoluto da antropologia cristã e da própria antropologia ocidental. O homem possui uma capacidade transcendente que o leva a estar unido «verticamente» com o próprio Deus. A dúplice representação ético-religiosa da pessoa até agora descrita na relação com o próximo e com Deus poderia ser delineada com uma imagem muito sugestiva de Wittgenstein que, no prefácio ao Tractatus logico-philosophicus, ilustra a finalidade do seu trabalho. Ele afirma que era sua intenção investigar os contornos de uma ilha, isto é, o homem circunscrito e limitado. Mas no final o que descobriu foram as fronteiras do oceano. A parábola é clara: se caminharmos numa ilha e olharmos só de uma perspectiva, para a terra, conseguiremos circunscrevê-la, medi-la e defini-la. Mas se o olhar for mais amplo e completo, dirigido também para o outro lado, descobrimos que também àquela linha de confim chegam as ondas do oceano. Substancialmente, como afirmam as religiões, na humanidade existe um entrelaçamento entre a finitude limitada e algo de transcendente, independentemente de como o quisermos definir. O homem só se torna verdadeiramente ele mesmo se estiver com os olhos nos olhos do outro. Numa sugestiva parábola proveniente do mundo tibetano imagina-se uma pessoa que, caminhando no deserto, entrevê ao longe algo de confuso. Por isso começa a ter medo, dado que na solidão absoluta da estepe uma realidade obscura e misteriosa – talvez um animal, uma fera perigosa – só o pode inquietar. Todavia, ao chegar mais perto, o viajante descobre que não se trata de um animal mas de um homem. Mas o medo não passa, aliás aumenta ao pensamento de que aquela pessoa possa ser um salteador. Contudo, foi obrigado a continuar até quando se encontrou na presença do outro. Então, o viajante levanta os olhos e, com surpresa, exclama: «É o meu irmão que não via há tantos anos!».

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