“Para fazer reinar Jesus Cristo no mundo, nada é mais necessário do
que um clero santo, que seja, com o exemplo, com a palavra e com a
ciência, guia dos fiéis” [1]. Estas são palavras que os Santos Padres
não se cansam de repetir ao orbe católico, desde que foram pronunciadas,
pela primeira vez, pelo papa São Pio X. De fato, o testemunho de um bom
sacerdote é capaz de arrastar centenas de fiéis à Igreja de Cristo,
quer por meio da pregação, quer por meio da administração dos
sacramentos, quer por meio da obediência às normas eclesiais, como o
celibato.
A missão do sacerdote resume-se àquela regra máxima da Igreja, de que falam os santos: Salus animarum suprema Lex –
a lei suprema é a salvação das almas. Por isso o Papa Bento XVI, na
proclamação do Ano Sacerdotal, em 2009, exortou o clero católico a
redescobrir a dimensão eclesial de seu ministério. Somente na comunhão
com a Igreja o sacerdote pode atingir aquela santidade necessária “para
fazer reinar Jesus Cristo no mundo”. Explica-nos o Papa Emérito: “a
missão é eclesial, porque ninguém se anuncia nem se leva a si mesmo,
mas, dentro e através da própria humanidade, cada sacerdote deve estar
bem consciente de levar Outro, o próprio Deus, ao mundo” [2].
Essa realidade não é desconhecida pelo diabo, tampouco por aqueles
que fazem as suas vezes na terra, disseminando o joio no meio do trigo.
Não é para admirar, por conseguinte, que, no combate à Igreja, o
primeiro alvo seja o sacerdócio. “Quando se quer destruir a religião” –
observava o santo Cura d’Ars –, “começa-se por atacar o padre” [3]. Com
efeito, a primeira tentação demoníaca contra os sacerdotes é a de
afastá-los da comunhão eclesial, incentivando-os à dissidência,
aplaudindo hereges e ridicularizando aqueles que se submetem de bom
grado à autoridade do Santo Padre. Trata-se do primeiro non serviam demoníaco: o não à Igreja.
Os argumentos – ou, no caso, as mentiras – são os mesmos de sempre: o
celibato é transformado em símbolo de castração, que fere o direito à
sexualidade e leva à pedofilia; o hábito eclesiástico é tachado de
indumentária antiquada, que afasta o clero do povo; o padre passa a ser
somente o “presidente” da celebração; a obediência a Roma é considerada
clericalismo; as normas litúrgicas são suprimidas em nome de uma falsa
criatividade; o padre, é dito, não pode ficar preso a “regras de orações
medievais”; isto, outros reclamam, não está de acordo com o Concílio
Vaticano II; o padre não é sacerdote, mas presbítero; ele tem uma
mentalidade pré-conciliar etc. Repetidas ad nauseam pela mídia – e por
uma porção de maus teólogos que agem em conluio com ela –, essas ideias
perniciosas vão aos poucos minando a identidade do sacerdote, até ao
ponto de levá-lo a proclamar o segundo non serviam do diabo: o não a Cristo.
Não é preciso gastar muita tinta, porém, para explicar os erros
contidos nestes sofismas. Muito mais sabiamente responderam os santos
padres – vivendo a sua vocação de maneira exemplar –, como também o
Magistério da Igreja – seja nas encíclicas papais, sejo nos outros
inúmeros documentos já publicados a esse respeito. O que é preciso ter
em conta é que a luta que se trava contra o sacerdócio é, na verdade,
uma luta contra a Pessoa de Jesus Cristo. O padre, não nos esqueçamos, é
um Alter Christus (Outro Cristo), dado o caráter impresso em
sua alma pelo sacramento da ordem. Por isso, é compreensível a raiva do
diabo pela castidade dos sacerdotes – “o mais belo ornamento de nossa
ordem”, como elogiava São Pio X –, pois ela remete à virgindade de
Cristo, que também foi guardada até a morte na cruz [4]. É compreensível
o ódio do diabo à batina negra – a “heroica e santa companheira” de Dom
Aquino Correa –, porque o luto recorda o sacrifício redentor da cruz,
pelo qual a morte foi vencida [5].
O remédio às insinuações diabólicas, por conseguinte, não pode ser
outro senão aquele prescrito por Bento XVI, durante o Ano Sacerdotal
[6]:
É importante favorecer nos sacerdotes, sobretudo nas jovens gerações, uma correta recepção dos textos do Concílio Ecuménico Vaticano II,
interpretados à luz de toda a bagagem doutrinal da Igreja. Parece
urgente também a recuperação desta consciência que impele os sacerdotes a
estar presentes e ser identificáveis e reconhecíveis quer pelo juízo de
fé, quer pelas virtudes pessoais, quer também pelo hábito, nos âmbitos
da cultura e da caridade, desde sempre no coração da missão da Igreja.
Enfim, não se há de esquecer a mediação de Nossa Senhora, mãe
solícita dos sacerdotes e a inimiga de todas as heresias. Na sua viagem a
Fátima, em 2010, o Santo Padre não perdeu a oportunidade de confiar à
Virgem, “os filhos no Filho e seus sacerdotes”, consagrando-os ao seu
Coração Materno, para que cumprissem fielmente a Vontade do Pai [7].
Neste ato, o Papa Bento XVI ensinava ao clero do mundo inteiro que o
melhor caminho de santidade e escudo contra o demônio é a intercessão de
Nossa Senhora. É também o ensinamento dum outro padre que, não por
acaso, muito se assemelha às palavras de São Pio X, ao início deste
texto: “foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo,
e é também por Ela que deve reinar no mundo” [8].
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