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Dado o longo alcance de sua influência, a revolução do papa Francisco promete acelerar.
Por Paul B. Farrell
Aqui está uma prévia da histórica "encíclica sobre as mudanças
climáticas" do papa Francisco, a ser lançada brevemente, completada com
pontos de discussão para o seu próximo discurso à sessão conjunta do
Congresso dos EUA.
Os prováveis títulos da encíclica: "Cuidar da criação ... Nós somos
os guardiães da Criação ... Se destruírmos a Criação ... a Criação vai
nos destruir", uma advertência pública, muitas vezes, repetida pelo
pontífice no ano passado, uma mensagem certa para intensificar a ira dos
negadores da ciência climática pertencentes ao Partido Republicano dos
EUA (também conhecido como GOP), petrolíferas internacionais, Koch Bros,
Exxon Mobil e a maioria das empresas de combustíveis fósseis, bem como
os seus bancos, investidores e capitalistas em todos os lugares. Eis o
porquê:
A muito antecipada encíclica do papa Francisco será transmitida a
todo o mundo para bilhões de pessoas, incluindo 5 mil bispos, 400 mil
sacerdotes e 1,2 bilhão de membros da Igreja Católica Romana. Ela estará
incentivando o seu exército de fiéis a tomar medidas firmes, a combater
as alterações climáticas e as ameaças do aquecimento global ao meio
ambiente.
A encíclica também será traduzida para centenas de línguas e
difundida em todo o mundo. Ao mesmo tempo, o papa Francisco irá
pressionar os chefes de estado e aos líderes religiosos, inspirando
milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, incentivando-as a aderir
a essa revolução.
Essa histórica encíclica também irá definir o cenário para tudo o que
o papa Francisco planejou para o resto de 2015. Ele é um homem com uma
missão para salvar o mundo das aceleradas ameaças aos recursos naturais
do planeta. De forma mais imediata, a encíclica terá os principais
pontos de discussão para o seu discurso à sessão conjunta do Congresso
em setembro, seu discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas em Nova
York e sua mensagem de dezembro para a histórica Conferência do Clima da
ONU, em Paris. Muitos dos seus pontos sobre o ambiente já são bem
conhecidos.
Quando o papa Francisco abordar o Congresso norte-americano, ele vai
enfrentar um grupo hostil de 169 políticos de linha-dura do Partido
Republicano, negadores da ciência climática, que descartam a ideia de
que o aquecimento global é causado pelo homem, em parte porque,
coletivamente, eles receberam mais de 52 milhões de dólares em
contribuições de grandes empresas de petróleo, carvão e combustíveis
fósseis, três vezes mais do que receberam os outros membros do
Congresso, que concordam que a mudança climática é uma ameaçaà
sobrevivência de nossa civilização.
Os negadores do GOP no Congresso incluem católicos como o presidente
da Câmara, John Boehner, o senador da Flórida, Marco Rubio, considerado
um provável candidato presidencial para 2016, assim como o ex-candidato a
vice-presidente, Paul Ryan, presidente do Comitê da Câmara, os quais
estarão ouvindo o Papa Francisco. Sentado com eles estará senador de
Oklahoma, Jim Inhofe, presidente do Comitê de Meio Ambiente e Obras
Públicas, autor de "The Greatest Hoax: How the Global Warming Conspiracy
Threatens Your Future" ("O grande trote: como a conspiração do
aquecimento global ameaça o seu futuro").
Quem também estará ouvindo o papa Francisco é o líder da maioria no
Senado, Mitch McConnell, do Kentucky, que recentemente tentou "minar as
negociações internacionais destinadas a combater a mudança climática" ao
dizer publicamente para que os "outros países não confiem na promessa
do presidente Obama de reduzir significativamente as emissões de carbono
dos Estados Unidos".
E, em mais um ato desesperado, McConnell também enviou uma carta para
os governadores de todos os 50 Estados incentivando-os a ignorar as
leis federais que aplicam os regulamentos de ar limpo da Agência de
Proteção Ambiental "destinados a reduzir as emissões de carbono das
usinas de energia movidas a carvão". Seu estado é grande na mineração de
carvão.
Pontos-chave na histórica encíclica do papa sobre as mudanças climáticas
O sempre sorridente e otimista Papa Francisco, um ex-boxeador, adora
uma boa briga. Mas ele tem o seu alvo real apontado com um laser -
incentivar a ação - convidando centenas de milhões de fiéis católicos,
de fato, convidando todos os sete bilhões de pessoas em todo o mundo,
para participar de uma revolução econômica global.
Aqui estão oito advertências públicas do papa, editadas pela
organização Catholic Climate Covenant, a partir da sua "Exortação
Apostólica", do jornal The Guardian e outras fontes de notícias, nos
avisos sobre as aceleradas mudanças climáticas e os riscos do
aquecimento global para o meio ambiente, além de nossa responsabilidade
individual para "salvaguardar a Criação, pois somos os guardiões da
Criação. Se destruírmos a Criação, a Criação vai nos destruir". Preste
atenção aos avisos do papa:
Nossa perda da bússola moral: "Estamos vivendo um momento de crise; o
vemos no meio ambiente, mas principalmente o vemos no homem. O ser
humano está em jogo: aqui está a urgência da ecologia humana! E o perigo
é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não
é apenas uma questão de economia, mas de ética".
Acelerado colapso ambiental: A "ameaça para a paz surge da exploração
gananciosa dos recursos ambientais. A monopolização de terras, o
desmatamento, a apropriação da água, inadequados agrotóxicos são alguns
dos males que tiram o homem da terra de seu nascimento. As alterações
climáticas, a perda de biodiversidade e o desmatamento já estão
mostrando seus efeitos devastadores nos grandes cataclismos que
testemunhamos".
Exploração de recursos naturais: "O Gênesis nos diz que Deus criou o
homem e a mulher, confiando-lhes a tarefa de habitar a terra e
dominá-la, o que não significa explorá-la, mas nutri-la e protegê-la,
cuidá-la com o uso do seu trabalho".
Falha em respeitar a natureza: "Essa tarefa, que nos foi confiada por
Deus, o Criador, nos obriga a compreender o ritmo e a lógica da
Criação. Mas muitas vezes somos impelidos pelo orgulho de dominação, de
posse, de manipulação, de exploração; nós não nos importamos com a
Criação, nós não a respeitamos".
Ricos e pobres são responsáveis: "Fortalecer e cuidar da Criação é um
comando que Deus dá não só no início da história, mas para cada um de
nós. É parte de seu plano; isso significa fazer com que o mundo cresça
com responsabilidade, transformando-o de modo que ele possa ser um
jardim, um lugar habitável para todos". Todos.
O dinheiro passa por cima da moralidade: Sem um código moral "já não é
o homem que comanda, mas o dinheiro. É o dinheiro vivo que comanda. A
ganância é a motivação ... Um sistema econômico centrado no deus do
dinheiro precisa saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético de
consumo que lhe é inerente". Em vez disso, o papa pede um "novo e
radical sistema financeiro e econômico para evitar a desigualdade humana
e a devastação ecológica".
Nós adoramos o dinheiro. "Criamos novos ídolos. A adoração do bezerro
de ouro antigo voltou em um novo e cruel disfarce através da idolatria
do dinheiro". O papa Francisco adverte que "a economia 'trickle-down' é
uma teoria falida"... não podemos confiar na "mão invisível" do
capitalismo ... o "consumismo excessivo está matando a nossa cultura, os
valores e a ética" ... e "o ideal conservador do individualismo está
minando o bem comum".
O capitalismo está matando o Planeta Terra: O papa Francisco avisa
que o capitalismo é a "raíz" de todos os problemas do mundo: "Enquanto
os problemas dos pobres não são radicalmente resolvidos, rejeitando a
autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando
as causas estruturais da desigualdade, não será possível encontrar uma
solução para os problemas do mundo, ou, nesse sentido, para todos os
problemas", já que os danos ambientais atingem mais o mundo dos pobres.
A revolução está vindo: o papa está empenhado em mudar o mundo de forma rápida
Imaginem o papa Francisco abordando o Congresso hostil do GOP. O
jornal The Guardian minimizou a animosidade de seus inimigos no GOP,
petrolíferas internacionais, os negadores do clima e os governadores
conservadores em sua manchete: "Edital do papa Francisco sobre as
alterações climáticas irá enfurecer os negadores e as Igrejas dos
Estados Unidos".
Enfurecer? Muito mais. O papa está incentivando uma rebelião aberta
contra esses inimigos. Mas, sendo realista, ele sabe muito bem que não
há chance de mudar as mentes dos políticos da direita como McConnell,
Boehner, Inhofe, Ryan e outros republicanos que negam a ciência
climática, altamente dependentes de doações políticas de combustível
fóssil. Então, vai ser interessante vê-los se contorcendo, fingindo
aplaudir ou apenas se sentando estoicamente, como fizeram antes, quando o
presidente Obama falou em uma sessão conjunta. Mas ele está colocando
claramente as bases para uma revolução econômica global, e seus inimigos
sabem disso.
Ainda mais interessante vai ser observar o efeito cascata da
"encíclica sobre as mudanças climáticas" depois que o papa Francisco
falar à Assembleia Geral da ONU ... depois que a Conferência de Paris
anunciar um novo tratado internacional aprovado pela China e centenas de
nações em todo o planeta ... após a mensagem do papa ser traduzida para
mais de mil línguas ... e transmitida para sete bilhões em todo o
mundo, milhares de milhões que já estão enfrentando de forma direta a
mudança climática e os "males que tiram o homem da terra de seu
nascimento".
Dado o longo alcance de sua encíclica, a revolução do papa Francisco
vai acelerar. Então é melhor que os 169 negadores do clima do GOP, do
petrolíferas internacionais, do Império Koch e todos os conservadores de
direita estejam preparados para uma reação poderosa em um futuro
próximo. O grito de guerra do papa Francisco em 2015 é para uma
revolução global, uma convocação para que bilhões de pessoas tenham de
volta o seu planeta roubado por uma indústria de combustíveis fósseis
que não tem bússola moral e é autodestrutiva.
Market Watch, 09-04-2015.
*Tradução de Claudia Sbardelotto.
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