quarta-feira, 24 de junho de 2015

Legenda Áurea - Vidas de Santos

[alexandriacatolica]
Por Jacopo de Varazze

Legenda Áurea é uma reunião de biografias de santos escritas no século XIII com a intenção de difundir valores morais edificantes e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O objetivo imediato do autor era fornecer aos frades material para elaboração de sermões, de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente. A coletânea conheceu enorme sucesso na Idade Média e se tornou referência nos estudos religiosos.
Ao selecionar vasto material erudito e popular, Jacopo de Varazze conta a trajetória dos santos de forma envolvente - tendo em vista os que ouviam a pregação - e também eficiente do ponto de vista teológico. Nos relatos, o autor combina simbologia e história, teologia e mitologia. Na história de Santo Antônio, por exemplo, Varazze narra o encontro do santo com personagens pagãos, como um centauro e um sátiro. Ao falar de São Julião e de Judas, compara-os a Édipo. 
O enfrentamento entre romanos e cristãos é freqüente nas narrativas e manifesta de forma palpável o eterno conflito entre o Mal e o Bem. A própria vida cotidiana era, na época, entendida como um combate incessante pela salvação espiritual. A ascese da vida religiosa, feita de jejuns, penitências e privações, também pode ser compreendida por essa crença. Em Legenda áurea, conta-se que, para aplacar o apetite sexual, São Bento jogou-se sobre moitas espinhosas e São Francisco cobriu de neve o corpo nu.
Até o final do século XV, Legenda áurea era uma obra de enorme popularidade e, durante anos, foi mais editada do que a própria Bíblia. Hoje, são conhecidos quase 1100 manuscritos do texto. O autor da obra nasceu em 1226 na pequena cidade de Varazze, próxima a Gênova, e chegou a arcebispo, nomeado pelo papa Nicolau IV. Jacopo de Varazze morreu em 1298, reconhecido pelos seus pares e admirado por seus conterrâneos. 

APRESENTAÇÃO

Uma praça pública de alguma cidade italiana, em 1267. Um frade mendicante faz seu sermão e conta:
Um homem havia tomado emprestado de um judeu certa soma de dinheiro, e na falta de outra garantia jurara sobre o altar de São Nicolau que a devolveria assim que pudesse. Muito tempo depois o judeu reclamou o dinheiro, mas o devedor alegou que já havia pago a dívida. O judeu levou-o a juízo e exigiu que afirmasse sob juramento que havia devolvido o dinheiro. Como se precisasse de apoio para andar, o homem ali compareceu com uma bengala, que era oca e que ele havia enchido de moedas de ouro. Quando foi prestar juramento, pediu que o judeu a segurasse e jurou ter restituído mais do que havia recebido. Após o juramento, reclamou a bengala de volta e o judeu, que não suspeitava da artimanha, devolveu-a. No caminho de volta para casa, o culpado sentiu um sono repentino, adormeceu num cruzamento e uma carroça que vinha em velocidade matou-o, quebrou a bengala, e o ouro que a enchia espalhou-se pelo chão. Avisado, o judeu acorreu ao local e entendeu a artimanha de que havia sido vítima. Tendo alguém sugerido que pegasse seu ouro, recusou taxativamente, a não ser que o morto voltasse à vida pelos méritos do bem-aventurado Nicolau, acrescentando que se tal acontecesse ele receberia o batismo e se tornaria cristão. Incontinente, o morto ressusci­tou e o judeu foi batizado em nome de Cristo. [capítulo 3, item 8]
[...]

Clique aqui e baixe o livro!

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...