sexta-feira, 3 de julho de 2015

Vale do Silício celebra legalização do casamento gay, mas com ressalvas


Uma onda de bandeiras arco-íris varreu a internet no fim de semana após o Supremo Tribunal ter anunciado, na sexta-feira (26), a legalização do casamento gay em todos os Estados Unidos. Os internautas comemoraram a decisão em massa, e os gigantes da internet participaram em peso desta celebração, com muitos símbolos multicoloridos, enquanto várias Paradas Gay aconteciam nos quatro cantos do mundo. O Facebook, por exemplo, disponibilizou a seus usuários um filtro arco-íris para ser aplicado em suas fotos de perfil e que o próprio Mark Zuckerberg utilizou.
O Twitter, por sua vez, acrescentou o ícone de um coração em arco-íris aos 7 milhões de tuítes que traziam o marcador (hashtag) #LoveWins ("O amor vence"), lançado pelo presidente Barack Obama.
A reportagem é de Morgane Tual, publicada no Portal Uol, 02-07-2015.
O Google não ficou para trás, com seu logo especial para quando os usuários faziam pesquisas como "gay marriage" (casamento gay) em sua ferramenta de buscas. Seu serviço de vídeos, o YouTube, publicou um vídeo com uma compilação de "saídas do armário" para "celebrar as inúmeras pessoas e comunidades que inspiraram a mudança", diz o texto de apresentação.
Outros serviços como Uber, Snapchat e Vimeo também saudaram a decisão do Supremo Tribunal em seus respectivos sites e aplicativos, assim como Tim Cook, CEO da Apple, que revelou sua homossexualidade em outubro passado.

Casamento gay é bom para os negócios

Esse apoio unânime do Vale do Silício ao casamento homossexual não é novo. Já em 2008 a Proposta 8, que visava proibi-lo na Califórnia, havia sido fortemente contestada entre os gigantes da internet. O Google, por exemplo, manifestou publicamente sua oposição em um post de blog.
"Geralmente não tomamos partido em questões que não dizem respeito ao nosso domínio, sobretudo questões sociais (...). Contudo, os efeitos discriminatórios e alarmantes dessa proposta para muitos de nossos funcionários nos levam a nos opor publicamente à Proposta 8. (...) Não deveríamos suprimir o direito fundamental de quem quer que seja, independentemente de sua sexualidade, de se casar com a pessoa que ama."
Prova de que o tema é delicado no Vale do Silício, alguns anos mais tarde, em 2014, o recém-nomeado diretor-geral do Mozilla, Brendan Eich, foi levado a se demitir por causa de uma história do passado; no caso, uma doação de US$ 1.000 feita, na época, em apoio à Proposta 8.
E nada menos que 273 empresas norte-americanas, entre elas Apple, Google, Facebook, Amazon, Microsoft e Twitter, assinaram juntas em 2013 um documento a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, enviado ao Supremo Tribunal norte-americano. O texto explicava que as diferenças de legislações sobre esse tema nos Estados Unidos eram ruins para seus negócios e "nos forçam a tratar nossos funcionários casados legalmente de uma forma diferente dos outros, sendo que nosso sucesso depende do bem-estar e do moral de todos os funcionários". As empresas também argumentavam que essas diferenças as levavam a efetuar malabarismos administrativos para garantir uma igualdade de tratamento entre os empregados.
Esse posicionamento seria, antes de tudo, "uma questão de imagem de marca", segundo Jane Schacter, professora de direito em Stanford, entrevistada na época pela revista norte-americana "Wired". Para ela, esse posicionamento é um bom golpe de marketing destinado ao seu público-alvo, para lhe passar a seguinte mensagem: "Nós somos o futuro, nós representamos aquilo que avança, não o que vem do passado."
Destoante
De qualquer forma, as empresas do Vale do Silício todo ano desfilam na Parada Gay de San Francisco. Em 2013, Mark Zuckerberg participou da parada, juntamente com 700 funcionários da empresa. A edição de domingo não fugiu à regra, mas um elemento destoante acabou estragando o dia para a maior rede social do mundo.
"Que vergonha, Facebook", lia-se nos cartazes da parada. No cortejo, membros do movimento #MyNameIs (MeuNomeÉ), composto sobretudo por drag queens e pessoas transgênero, protestavam contra a política do "nome verdadeiro" criada pelo Facebook, como têm feito há vários meses. Eles querem poder usar o nome que escolherem na rede social, sobretudo após uma transição, mas o Facebook determina a todos os usuários que usem seu "nome verdadeiro". Várias manifestações já ocorreram em frente à sede do Facebook para criticar essa situação.
"Ainda há internautas denunciando perfis que usam um nome falso para perseguir pessoas que eles acham ofensivas por algum motivo", afirmava no início do mês a Sister Roma, uma das líderes do movimento, ao site especializado "Re/Code".
E na sexta-feira, um 'timing' ruim: enquanto o Supremo Tribunal legalizava o casamento gay, a conta de uma ex-funcionária do Facebook, que é transgênero, foi bloqueada por ter usado um pseudônimo. "Meu nome é real o suficiente para trabalhar no Facebook, mas não para ser usado no site", disse ela indignada na plataforma Medium. O nome que ela escolheu no Facebook seis anos atrás, quando iniciou sua transição, é o mesmo que todo seu círculo de contatos usa --e o mesmo que ela usava em seu crachá quando trabalhava para a rede social. "Ao nos forçar a mudar nossos nomes no site, o Facebook muda o nome pelo qual somos conhecidos na vida real, gostemos ou não", ela critica.
Por fim, alguns internautas criticaram a ambivalência da empresa, que defende publicamente os direitos das lésbicas, dos gays, dos bissexuais e dos transgênero (LGBT), mas permite que discursos homofóbicos se alastrem em sua plataforma.
No entanto, seus "padrões da comunidade", as regras que regem o conteúdo publicado no site, são claros:
"O Facebook remove discursos de ódio, o que inclui conteúdos que ataquem diretamente pessoas com base em: raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, gênero ou identidade de gênero, deficiências graves ou doenças. Organizações e pessoas dedicadas a promover o ódio contra grupos protegidos não têm a presença permitida no Facebook."

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