sábado, 17 de março de 2018

Cardeal Ouellet: A Igreja e a sociedade precisam de reflexão profunda sobre a mulher



16 Mar. 18

VATICANO, (ACI).- O Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação dos Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, destacou que a importância do “tema da mulher” requer que tanto a Igreja como a sociedade “realizem uma inversão colossal de pensamento e de ação”.
Em sua intervenção na Assembleia Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, com o tema “A mulher, pilar da edificação da Igreja e da sociedade na América Latina”, o Cardeal ressaltou “a necessidade de um reconhecimento teológico e prático mais concreto da mulher na Igreja e em nossa sociedade”.
No entanto, reconheceu que “a execução de práticas eclesiais mais abertas a sua presença e influência tarda em realizar-se por razões que não são somente de ordem histórica e cultural”.
Entretanto, destacando a importância deste aspecto, o Cardeal se centrou na “investigação teológica que deve fazer sua parte neste tema, a fim de eliminar tudo o que dificulta a promoção da mulher e valorizar sua dignidade a partir das fontes da revelação cristã”.
Além disso, sobre a questão “debatida da ordenação sacerdotal reservada aos homens”, recordou que este assunto “fez correr rios de tinta e continua suscitando a crítica dos adeptos a uma concepção absolutamente paritária da igualdade entre o homem e a mulher, do ponto de vista dos papeis que lhes são designados nos diferentes âmbitos culturais”.
Porém, assinalou que “não discutirei aqui a questão concreta do ministério ordenado para a mulher, para concentrar-me no fundamento teológico do ‘mistério’ da mulher à luz da Trindade e da relação nupcial de Cristo e da Igreja”.
O Cardeal Ouellet levantou “a questão teológica do fundamento trinitário da diferença sexual”. Ele se perguntou se há “um arquétipo da mulher no mistério íntimo de Deus”. Em seguida, questionou: “Podemos nos apoiarmos na teologia da Imago Dei para afirmá-lo?”.
Inclusive foi além: “Como não cair, então, no grosseiro antropomorfismo, típico de certas religiões, que consiste em projetar em Deus a sexualidade humana?”.
Frente à identificação, herdada da tradição judaica, do homem como imagem de Deus, destacou como “o cristianismo trouxe uma libertação de princípio a esta subordinação da mulher, graças à atitude inovadora de Jesus Cristo com relação à mulher e ao seu impacto sobre o papel ativo na Igreja das origens, como atesta o Novo Testamento”.
Este simboliza “a abertura de uma nova era no reconhecimento da dignidade da mulher e de sua igualdade com o homem”.
Entretanto, o processo de assimilação desta nova visão não foi imediato, mas levou séculos. “Aos poucos, serão superadas as influências culturais que afetam o reconhecimento da igualdade do homem e da mulher”.
Em sua argumentação, recorreu à interpretação do Papa São João Paulo II, que “indicou a relação íntima entre o Espírito Santo, como amor que dá vida, e a mulher, que dá a vida”.
Em seguida, o Prefeito da Congregação dos Bispos se deteve no “arquétipo da maternidade em Deus que a Tradição tende a situar também no Espírito Santo”.
“Ele é confessado no Credo como aquele que ‘dá vida’, e é descrito na Santa Eucaristia como próximo à Mulher, seja da Virgem Maria em todo o seu mistério, desde a Anunciação até Pentecostes e a Assunção, seja da Esposa do Apocalipse, com a qual aspira ao regresso do Senhor Jesus”.
Além disso, destacou que “o Espírito Santo fecunda continuamente esta maternidade de Maria-Igreja através da economia sacramental, especialmente na celebração do mistério pascoal, no qual ele procede à efusão eucarística do Verbo encarnado que, acolhida na fé da Igreja, a constitui como Corpo e Esposa de Cristo. Daí a denominação Ecclesia Mater que está vinculada a sua participação íntima na propriedade nupcial-maternal do Espírito do Pai e do Filho”.
Em sua conclusão, o Cardeal Ouellet ressaltou que “o tema da mulher é de tal importância hoje em dia que requer que a Igreja e a sociedade realizem uma inversão colossal de pensamento e de ação, para iluminar corretamente as escolhas da sociedade e para permitir que a imagem de Deus no homem e na mulher, em dor e desejo de comunhão, alcance a divina semelhança do Amor sem a qual não há nem felicidade possível para a humanidade nem sociedade digna deste nome”.

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