quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A fascinante e incompreendida “corporeidade” e “materialidade” da fé católica

Por Francisco Vêneto

Deixamos de aproveitar uma parte inestimavelmente rica do imenso tesouro do cristianismo ao não entender a sublimidade da sua dimensão física



Uma das características mais fascinantes do culto católico dedicado a Deus é o fato de que ele engloba coração, mente, espírito e corpo. Mas o fato de englobar também o corpo costuma receber menos importância do que deveria – o que é uma grande pena, pois deixamos de aproveitar uma parte inestimavelmente rica do imenso tesouro do cristianismo.
Sim, o catolicismo tem sólido enraizamento no mundo concreto, tangível. Afinal, Deus não nos criou apenas como almas imortais, mas como unidades indissociáveis de alma e corpo – tanto é que nos ressuscitará em corpo e alma para a eternidade. Vem daí a dignidade intrínseca do nosso corpo, templo do Espírito Santo, e, no entanto, tantas vezes menosprezado por interpretações equivocadas e até heréticas sobre a nossa dimensão corpórea.
Assim como nós fomos criados com alma e corpo, também a nossa fé possui uma dimensão “corpórea”, sensível, tangível. Essa “corporeidade” da fé católica decorre do próprio fato de que, mesmo sendo Espírito puro, Deus está presente e Se manifesta na materialidade da Sua criação.
REVELAÇÃO – Ele intervém na história com a Sua Revelação, que se realiza mediante uma longa série de manifestações sensíveis. Não é à toa, a propósito, que, nas palavras de São João Paulo II logo nas primeiras linhas de sua célebre encíclica Fides et Ratio, “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade“.
ENCARNAÇÃO – Ele mesmo decidiu encarnar-Se, com direito a ter uma Mãe amorosíssima e compartilhá-la com todos nós, Seus irmãos: em Jesus Cristo, Ele Se fez carne, Se fez homem, tornou-Se matéria conosco e foi homem em tudo, exceto no pecado.
SINAIS – Ele instituiu sinais visíveis da Sua graça, como os sacramentos. O batismo, a comunhão, a confissão, a confirmação, o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a unção dos enfermos não são atos “apenas” espirituais, mas também físicos, que, além da intenção, requerem forma e matéria: água, santos óleos, palavra…
EUCARISTIA – Dentre os sacramentos, um é particularmente destacado quando se trata de “materialidade”: Ele próprio continua presente, visível, tangivelmente, sob os véus da Santíssima Eucaristia, que não é um “símbolo” apenas, mas Presença Real: Ele é Corpo e Sangue; Ele Se entrega a nós como alimento, espiritual e fisicamente, na Santíssima Comunhão.
SACRAMENTAIS – A fisicidade da Igreja também se expressa no uso dos sacramentais, objetos abençoados presentes em nosso cotidiano e que podem ser quase “qualquer coisa”, desde um punhado de sal abençoado até um crucifixo, passando por medalhas como a Milagrosa, a de São Cristóvão e a de São Bento, pelo escapulário e pelo rosário, pelas relíquias de santos e do próprio Cristo…
ARTE SACRA E LITURGIA – A dimensão material presente em nossa fé enriquece a nossa experiência real do divino e do sagrado aqui e agora, evocando Deus e a nossa união com Ele mediante as belezas extraordinárias da escultura e da pintura sacra, os acordes sublimes da música sagrada, o maravilhoso conjunto dos objetos e paramentos litúrgicos…
ARQUITETURA SAGRADA – Na arquitetura sacra católica, edifícios inteiros são erguidos como evocação e convite à nossa união com Deus em corpo e alma, espírito e mente. Não é à toa que, todo dia 9 de novembro, a Igreja chega a celebrar a natureza física da nossa fé mediante a festa de São João de Latrão: uma festa litúrgica dedicada a um edifício!
RITOS E TRADIÇÕES – A vida católica é tão concretamente ligada às realidades culturais, geográficas e históricas dos cristãos que, preservando a unidade essencial da doutrina e da fé, admite uma riqueza surpreendente de ritos e tradições litúrgicas: você sabia que a Igreja Católica é formada por nada menos que 24 igrejas “sui iuris“, autônomas e ao mesmo tempo unidas pelo mesmo credo?
SEXUALIDADE MATRIMONIAL – A entrega mútua dos nossos próprios corpos como homens e mulheres em ato de amor exclusivo e indissolúvel mediante a sexualidade vivida e desfrutada sob as bênçãos de Deus é tão sagrada que existe um sacramento dedicado a ela: o sagrado matrimônio. Além disso, a Igreja nos oferece toda a espetacular riqueza da Teologia do Corpo, tão bem apresentada ao mundo por São João Paulo II!
CUIDADO DA CRIAÇÃO – Quando se conhece e se vive em plenitude o tesouro inesgotável da fé católica, que abrange a integralidade do nosso ser sem deixar absolutamente nada de fora, torna-se natural respeitar e cuidar da criação de Deus manifestada materialmente não só na natureza a ser preservada, mas, principalmente, no nossos próximo, que é corpo e alma em unidade querida e criada por Deus.
DIGNIDADE HUMANA – É por isso que, diante de tantas agressões contra o corpo, materializadas em violências de toda ordem, assassinatos, torturas, abortos, eutanásias, vícios autodestrutivos, nem sempre se compreendem e se recebem com clareza os argumentos e exortações de natureza espiritual; é que nos falta algo ainda mais básico: perceber e admirar a maravilha, a sublimidade e a dignidade excelsa da nossa própria corporeidade.

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