sábado, 20 de outubro de 2018

A castidade quase não aparece no documento de trabalho do Sínodo, alerta Arcebispo





19 Out. 18
Por Walter Sánchez Silva


FILADELFIA, pm (ACI).- O Arcebispo da Filadélfia (Estados Unidos), Dom Charles Chaput, advertiu que “a palavra castidade quase não aparece” no documento de trabalho do sínodo dos Jovens que acontece no Vaticano.
“Como uma jovem disse: sob toda a informação social e a verbosidade, o instrumentum laboris (IL – documento de trabalho) se trata, no final das contas e caladamente, de sexo. E é especialmente estranho que a palavra ‘castidade’ quando não aparece no texto do IL. Além disso, a Humanae Vitae e a teologia do corpo estão completamente ausentes”, disse Dom Chaput em uma entrevista concedida a Adam Sosnowski, para uma revista polonesa e que o jornal da Arquidiocese da Filadélfia, CatholicPhilly.com, publicou em 17 de outubro.
A palavra castidade aparece apenas uma vez no texto no numeral 103, que se refere ao testemunho dos consagrados para atrair mais jovens.
No Instrumentum laboris não aparece menção alguma a Humanae Vitae, encíclica de São Paulo VI que advertiu sobre os males da anticoncepção no mundo, assim como a teologia do corpo que São João Paulo II promoveu para um melhor entendimento da sexualidade humana.
Ao ser perguntado sobre uma possível mudança na doutrina da Igreja ou em sua interpretação, o Arcebispo indicou que “nenhum Sínodo tem a autoridade para mudar os ensinamentos fundamentais da Igreja, nem nenhum Papa. Em matéria de interpretação, a luta não declarada do Sínodo de 2018 se refere à moral sexual católica”.
Sobre o momento em que se realiza o Sínodo, o Arcebispo considerou que “é inoportuno. Postergá-lo teria sido sábio, mas o Santo Padre é quem toma essas decisões considerando que preparar um Sínodo é muito complicado e difícil de mudar”.
No último dia 30 de agosto, Dom Chaput disse em uma conferência no Seminário São Carlos Borromeu que escreveu ao Papa Francisco para lhe pedir que cancelasse o Sínodo dos Jovens. “Neste momento, os bispos não teriam absolutamente nenhuma credibilidade ao se referir a este tema”, acrescentou na ocasião.
Na entrevista publicada na quarta-feira por CatholicPhilly, o Prelado disse que nos Estados Unidos “o escândalo originado pelo Arcebispo (Theodore) McCarrik causou muito dano, especialmente na credibilidade dos bispos. A única forma que podemos reparar isso é sendo absolutamente transparentes e honestos sobre o problema dos abusos e nossos esforços para lidar com isso”.
Theodore McCarrik é o Arcebispo Emérito de Washington. Após uma investigação realizada pela Arquidiocese de Nova York, foram consideras críveis as acusações de abusos contra ele. Em 28 de julho, o Pontífice aceitou sua renúncia ao Colégio de Cardeais. Agora, o ex-cardeal vive uma vida de penitência e oração em um convento franciscano no Kansas.
Sobre o tema da homossexualidade, o Arcebispo Chaput assinalou que “não há nada de ruim em falar do tema. Ao contrário, é um assunto natural para o debate, enquanto o ensinamento católico sobre a sexualidade humana seja explicado fielmente e se reconfirme, sem nenhum tipo de compromisso ou ambiguidade”.
“E nisso os elementos do documento de trabalho são lamentavelmente frágeis. A sigla ‘LGBT’ (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) não deve ser usada em um documento da Igreja para descrever as pessoas, pois a Igreja nunca identificou as pessoas por seus apetites sexuais, nem as reduziu a suas inclinações sexuais. A sigla ‘LGBT’ poderia ser aceitável para descrever temas, mas não pessoas”, ressaltou Dom Chaput.
O Arcebispo da Filadélfia também denunciou que atualmente as famílias são atacadas pela “ideologia de gênero que é simplesmente uma expressão da mentalidade tecnológica e seu viés ao tratar qualquer matéria, incluindo o corpo, como matéria-prima para a vontade humana. A ideologia de gênero assume ainda uma definição da ‘pessoa humana’ muito diferente da crença cristã”;
“No coração da ideologia de gênero há um ressentimento pela fragilidade e as limitações do corpo. No centro dos ataques contra a família está o ódio e a dependência mútua que as famílias exigem e uma desconfiança do amor na família que sela seus laços como uma unidade. No final, todas as aberrações e disfunções sexuais terminam em um rechaço da criação ou da ordem natural estabelecida”, explicou o Arcebispo.
Além disso, continuou, no mundo de hoje “escondemos a desesperança sob uma capa de ruídos, distrações e apetites consumistas”, pois Deus se tornou estranho “não por algo raro que Deus tenha feito, mas pelo mal que nos causamos a nós mesmos sem que Deus nos detenha”.
Apesar de tudo, “a Igreja sobreviverá e continuará sua missão, mas para fazer isso, primeiro precisa reconhecer que a cultura que ela ajudou a criar já não é útil para ela e as razões. Como Igreja, ainda não vemos nossa realidade clara e criticamente”.
Para citar um exemplo, o Arcebispo assinalou que “o documento de trabalho do Sínodo fala sobre os jovens, os efeitos das redes sociais e o ‘continente digital’, mas não tem ideia das dinâmicas mais profundas que Del Noce menciona”.
O Arcebispo da Filadélfia se refere ao filósofo Augusto Del Noce, que escreveu um ensaio intitulado “Civilização tecnológica e Cristianismo” para explicar que as pessoas de hoje “tentam superar a desesperança com ciência e tecnologia, que produzem muitas boas coisas, mas também nos centram neste mundo afastados do sobrenatural”.
“Como resultado, a dimensão religiosa do homem e nosso senso de transcendente lentamente se seca e desaparece”, assinala.
Desse modo, adverte Dom Chaput, “a civilização tecnológica não segue a religião, ao menos não diretamente. Não necessita dela. Torna Deus irrelevante”.
“O documento de trabalho, em sua forma original, é uma coleção de informação de ciências sociais com muito pouco zelo evangélico. Fala constantemente sobre o acompanhamento, que é importante, mas quase não contém um ensinamento confiável. Não pode e não converterá ninguém. Espero que os padres sinodais possam corrigir isso”.
O Arcebispo também explicou que para fazer frente à cultura midiática de hoje, os católicos “devem viver diferente, praticando o que dizem crer. Não há uma solução rápida. Somos uma família de fé (...) e precisamos atuar como tal”.
Após recordar que os sacerdotes são “pecadores como todo o mundo”, o Prelado disse que “todos somos iguais no Sacramento do Batismo: leigos, religiosos e clero. Mas, como em toda família, temas diferentes tarefas”.
“A cola que unifica tudo isso é o amor. Se não nos respeitamos e não nos amamos uns aos outros, e o mostramos com nossa conduta, tudo se cai”, indicou.
Do mesmo modo, o Arcebispo da Filadélfia ressaltou que a “Igreja nos Estados Unidos ainda é forte comparada à vida católica em quase qualquer outro país ‘desenvolvido’”, mas “estamos perdendo os jovens. Aí há um desafio enorme para o futuro”.
O Prelado destacou o testemunho de São João Paulo II, cuja visita a Denver em 1993 “modelou a fé de uma geração inteira”. “Necessitamos deste tipo de cristianismo agora mais do que nunca: uma combinação de coragem, zelo por Jesus Cristo, inteligência rigorosa e crença sincera”.
“O compromisso de Karol Wojtyla com a dignidade humana, com os nascituros, com a sacralidade de toda vida e sua teologia do corpo são todas coisas que ainda ressoam profundamente nos católicos dos Estados Unidos”, sublinhou.

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