sexta-feira, 13 de junho de 2014

Carne humana para o tráfico

ihu - O alerta foi lançado pelos bispos dos Estados Unidos, que pediram que as autoridades do seu país protejam os menores que viajam sozinhos para a fronteira do México, a maioria sem documentos legais. Os perigos que eles enfrentam na longa viagem representam uma verdadeira emergência humanitária.
A reportagem é de Alver Metalli, publicada no sítio Terre d'America, 05-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"São crianças extremamente vulneráveis aos traficantes de pessoas inescrupulosos e devem ser protegidas", declarou o presidente da Comissão para as Migrações da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos (USCCB), o bispo auxiliar de Seattle, Eusebio Elizondo.
O alerta é mais do que justificado. Ao longo de 2013 até o mês de maio de 2014, o número de menores que se deslocaram pelas pistas tradicionalmente utilizadas pelos emigrantes aumentaram 92%. Em 20 meses, as patrulhas de fronteira dos EUA prenderam e rejeitaram 71.510 menores de idade com menos de 17 anos.
Um número considerável, uma verdadeira anemia humana que afeta Honduras, Guatemala, El Salvador, em primeiro lugar. "É realmente uma crise humanitária que requer uma resposta global e cooperação entre as diferentes entidades do governo dos EUA", comentou Eusebio Elizondo, reconhecendo que se trata de "um problema muito complicado, mas as suas raízes devem ser enfrentadas, seja pelo nosso governo, seja pelos governos da região. Jovens vidas estão em jogo".
Ainda está viva a memória da missa do dia 1º de abril, celebrada pelo arcebispo de Boston, cardeal Seán O'Malley, por Dom Gerald Kicanas (Tucson) e inúmeros outros bispos na fronteira de Nogales, no Arizona. Assim como a das palavras proferidas naquela ocasião.
"Viemos aqui no deserto do Arizona para chorar pelos inúmeros imigrantes que arriscam as suas vidas nas mãos dos coiotes [traficantes humanos] e das forças da natureza para vir para os EUA", disse O'Malley, rodeado pelos bispos das dioceses mexicanas de seis estados fronteiriços com os EUA (Baja California, Sonora, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas), todas envolvidas no drama humano dos migrantes.
Nos mesmos lugares, nos últimos anos, morreram cerca de seis mil latino-americanos que tentavam atravessar a barreira entre as duas nações. O'Malley, no grupo dos oito cardeais criados pelo papa depois da eleição, tinha feito referência justamente aos menores: "Cerca de 25 mil crianças, a maioria da América Central, chegaram aos EUA em 2013, sem estarem acompanhadas por algum adulto".
Ao apelo dos bispos da América do Norte para intensificar a proteção dos menores que se lançam nas rotas da emigração também uniu-se, nos dias de hoje, a voz do veterano sacerdote Pedro Pantoja Arreola, diretor de Posada Belén, de Saltillo, no estado mexicano de Coahuila.
Por mais de uma década, o albergue desse religioso jesuíta é conhecido por dar abrigo a jovens emigrados centro-americanos que empreendem a chamada rota do Golfo, ao contrário de outros mexicanos que preferem a do Pacífico ou das regiões montanhosas da Sierra Madre. Ele recebeu mais de 50 mil jovens desde que a pousada foi aberta no ano 2000 e conhece bem a realidade dos seus hóspedes.
"São cada vez mais os menores que se unem ao fluxo dos migrantes, e o crime organizado também é cada vez mais ativo no recrutamento de adolescentes emigrantes." Pantoja e o seu grupo, incluindo algumas religiosas, foram os primeiros a denunciar o sequestro e o assassinato dos migrantes, o de 2010, com os 72 massacrados na localidade de San Fernando, o de 2011 em Tamaulipas, quase 200 cadáveres encontrados em uma vala comum, o de Cadereyta, com os 49 corpos desmembrados exumados no estado de Nuevo León no dia 13 de maio de 2012.
O padre Pantoja está preparando mais um relatório. E faz claramente mais uma acusação às autoridades mexicanas que não protegem os mais fracos entre os emigrantes, as crianças e os adolescentes justamente. Seiscentos hondurenhos por semana deixam os seus países e "vão direto para o tráfico sexual, de trabalho ou são massacrados no caminho, mas também se tornam, por sua vez, assassinos dos seus compatriotas".
Na Posada de Belén, chegam cerca de 250 menores entre 13 e 18 anos, "que o crime organizado disputa como uma mercadoria, enquanto a sociedade civil não sabe o que fazer". "São marcados para sempre, não têm um futuro digno desse nome."
O sacerdote lamenta que não pode fazer mais. "No nosso refúgio, não podemos mantê-los por tanto tempo; nós os mantemos o máximo possível, de acordo com as condições em que chegam. Mas depois eles retomam a marcha, e a sua casa se torna o vagão de um trem, com todos os perigos que isso significa."

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