Rumo a um novo paradigma para a catequese
Brasília,
(Zenit.org)
Por José Barbosa de Miranda
Continuando o artigo anterior,
refletiremos sobre algumas exigências da catequese com adultos,
enfocando a iniciação cristã, mais especificamente, o catecumenato. Já
não vivemos numa sociedade cristã, portanto o atual modelo catequético,
que foi pensado para uma família cristã, não atinge seus objetivos, não
provoca conversão e nem faz discípulos missionários de Jesus. É
necessário repensar o conteúdo e metodologia catequética para uma
sociedade de cristandade.
Algumas sugestões
Algumas sugestões
Catecumenato, que nada tem a ver com o caminho catecumenal, é
proposto no Diretório Geral da Catequese, em seus números 88 a 91, como
modelo de referência para toda a iniciação cristã de adultos,
enfatizando:
Pré-catecumenato onde se realiza a primeira evangelização.Catecumenato propriamente dito, destinado à catequese integral.Purificação e iluminação, tempo de preparação mais intensa para os sacramentos.Mistagogia, tempo dedicado à experiência dos sacramentos pelo ingresso na comunidade.
Essa proposta nem sempre é entendida e às vezes até desviada,
dificultando o anúncio primeiro do evangélico e amadurecimento para a
fé. O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos), em seu introdução,
dá a chave para essa iniciação. A simples instrução não pode ser o
requisito único para se tornar cristão, não pode ser reduzida à simples
catequese doutrinal, mas completada com o itinerário de aprendizagem que
abranja:
Um conhecimento mais profundo da história da salvação.Experiência e
aprendizado com a oração e celebração da fé.Experiência e aprendizado da
vida cristã, pelo engajamento na comunidade.Prática de vida cristã,
pelo testemunho exemplar, caridade e várias formas de apostolado.
Observa-se que o processo de “tornar-se cristão” e “ser discípulo”
faz parte da primeira evangelização, com aprendizado para seguir Jesus. É
preciso primeiro tornar-se discípulo, ter contato com o Cristo, para
depois ser instruído.
Um modelo de iniciação cristã que compromete todas as pessoas
A antiga tradição salesiana, inspirada em Dom Bosco, preocupava-se
com uma formação cristã de base dos jovens para que produzisse
resultados no mundo do trabalho e na própria vida. Embora essas bases
formativas já não sejam muito aplicadas, ainda podem servir de
paradigmas para uma catequese de iniciação cristã de adultos, gerando um
comprometimento com a fé.
No primeiro momento, há de se considerar que o ensino religioso nas
escolas do Brasil, por motivo de leis laicistas e ateias, não pode ser
direcionado a credos, portanto, o aprendizado da oração, da fé, da
Palavra, das celebrações litúrgicas são descartados nas escolas. As
famílias, com raras exceções, já não são, como deveriam ser, “as
primeiras anunciadoras e educadoras da fé” (Apostolicam Actuositatem, n.
11).
A solução seria organizar a “paróquia escolar” fora da grade horária,
possibilitando uma iniciação cristã dentro das linhas do catecumenato.
Mas, a real renovação deve ser feita de acordo com o Diretório Geral
da Catequese, com as paróquias envolvidas na formação permanente de
agentes pastorais, principalmente catequistas, provocando uma verdadeira
renovação catecumenal, como ocorre em muitos lugares.
Como a nossa catequese tradicional está voltada para a
sacramentalidade, sem excluí-la, é necessário repensar sobre a
necessidade de iniciação cristã, envolvendo toda a pessoa. É possível
organizar um verdadeiro catecumenato para adultos e jovens.
A catequese em um mundo diversificado por contextos culturais e religiosos
A catequese de hoje não pode menosprezar a religiosidade de
“supermercado”. São “novas religiões” que estão mais preocupadas nas
soluções imediatas de problemas temporais. São buscas de soluções dos
problemas pessoais sem o verdadeiro Deus, excluindo o sagrado e o
divino, tornando-se como pronto socorro. A relação criatura-Deus, origem
no judaísmo e atualizada no cristianismo, está ausente. Seus princípios
não estão no “amor de Deus, com todo o coração, com toda a mente, com
todas as forças e ao próximo como a si mesmo”. O desafio é levar o
Evangelho para as pessoas desse “supermercado religioso”. É preciso
partir do princípio da empatia, pelo diálogo respeitoso e amigo. Não é o
confronto que gera cristãos responsáveis, mas o diálogo caridoso e
construtivo.
Além dessas religiões sem Deus, de soluções imediatas, deparamo-nos
com as religiões orientais que penetram nas famílias, na escola, na
sociedade, como Islã e muitas outras. A seara é grande, faltam
operários.
O desafio é preparar missionários, catequistas, que conheçam esse
campo, e com grande capacidade para o diálogo, possam desenvolver uma
pastoral cristã e coerente com a fé.
Por último, o desafio se apresenta, também, diante de muitos que se
afastaram da Igreja. Estão algum tempo “desligados” e agora querem
retornar. Normalmente o seu afastamento ocorreu devido a:
Falta do acolhimento, como nos ensina o Evangelho.Escandalizaram-se
porque pessoas da Igreja pregavam uma coisa e testemunhavam outra;Falta
de compreensão em seu aprendizado, na iniciação cristã, cobrando-lhes o
que ainda não tinham;Uma pregação teórica sem o testemunho do agente, do
padre, do diácono, provocando repulsa da fé que ainda não estava
solidificada.
Para esses, também, a comunidade deve se preparar para o reinício da
caminhada. Poder-se-ia chamar de catequese do recomeço, com abertura ao
diálogo, acolhida caridosa, partilha na fé.
Há um vasto campo a ser preparado para semear e colher muitos frutos, mas ele passa pelo primeiro anúncio e depois, a catequese.
Conclusão
Tenhamos a humildade para reconhecer as nossas deficiências, coragem
para nos despirmos das nossas “verdades” e aceitar mudanças atualizadas.
O primeiro passo deve ser aquele que Jesus disse aos seus discípulos:
“Assim também vós, quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei:
somos servos inúteis, fizemos apenas o que deveriam os fazer” (Lc 17,
10).
Se assim procedermos, será possível uma reestruturação catequética,
priorizando a iniciação cristã de adultos para um mundo de cristandade,
como expressamos no nosso primeiro artigo. Antes, se requer uma formação
sólida para catequistas, pois eles ou elas precisam conhecer Jesus
Cristo como ele se revelou, sua mensagem como está nos evangelhos.
O eixo da catequese está todo esquematizado no Diretório Geral da
Catequese e como celebrado, no RICA. Para essa iniciação cristã
comprometedora, tanto padres, diáconos e catequistas, e todo o povo de
Deus, são chamados a preparar essa seara, lançando a boa semente em
terreno fértil, gerando a única Igreja que Cristo fundou.
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