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O bispo de Cádiz e Ceuta, Rafael Zornoza Boy, deu um novo e, pelo que parece, definitivo aperto no caso de Álex Salinas, o jovem transexual de San Fernando que pediu para ser padrinho de seu sobrinho. Em um comunicado emitido na segunda-feira (exatamente quando Salinas procurava, sem sucesso, encontrar uma data para o batizado), Zornoza
divulgoi que a solicitação “não pode ser aceita” porque é “evidente”
que “não tem os requisitos para levar uma vida conforme a fé e como
padrinho”, exigidos pelo Código de Direito Canônico. O bispo disse ter consultado a Congregação para a Doutrina da Fé.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 02-03-2015. A tradução é de André Langer.
Assim se manifestou a diocese de Cádiz e Ceuta em um comunicado e assim Álex Salinas confirmou à Europa Press, ele que, na tarde da terça-feira, recebeu um telefonema do próprio Zornoza, no qual disse que “não pode ser” padrinho, de acordo com uma consulta formal feita à Congregação para a Doutrina da Fé.
No dia 06 de agosto, e depois da negativa inicial do pároco da Paróquia de San Fernando, onde aconteceria o batizado, e do bispo para que o jovem fosse padrinho, o pároco, segundo declarou Salinas à Europa Press na época, informou ao jovem de que o próprio dom Zornoza lhe teria comunicado que “não havia impedimentos para que fosse padrinho” por ser transexual.
“Em agosto, o pároco me disse que eu poderia ser padrinho, e isso diretamente da boca do bispo de Cádiz”, recordou Salinas, que acrescentou que o pároco lhe teria dito que “me proporcionaria um encontro com dom Zornoza em setembro”. “Nunca me confirmaram o dia da conversa. Eu telefonava para o pároco e ele não atendia o telefone”, apontou.
Salinas explicou que nesta terça-feira, quando foi até a Paróquia para acertar o dia e a hora do batizado, “recebeu um telefonema do próprio bispo”, no qual lhe disse que consultou “Roma
sobre o assunto e que não pode ser” padrinho. “Mas não me disse os
motivos”, criticou, ao mesmo tempo que indicou sua frustração.
“Colocaram o pirulito na minha boca e depois o tiraram”.
Zornoza, de acordo com o jovem, lhe teria dito “que o
importante é ser bom cristão, mas eles não são”, protestou. “Estou
indignado e me sinto enganado pelo pároco, pelo bispo e por Roma”, lamentou, pois “não foi o que disseram em agosto”. Salinas assinalou que “no momento” não vai entrar com um processo contra a Paróquia.
O bispo, através de um comunicado, garante que “tendo em conta a
relevância midiática que este assunto alcançou” e “as possíveis
consequências pastorais de qualquer decisão”, decidiu fazer uma consulta
na qual se recolhe que “é evidente” que um transexual “não possui o
requisito de levar uma vida conforme a fé e a função de padrinho”, razão
pela qual não pode ser admitido para esta função.
“O próprio comportamento transexual revela de maneira pública uma
atitude contrária à exigência moral de resolver o próprio problema de
identidade sexual segundo a verdade do próprio sexo”, diz o texto, que
cita vários artigos do Catecismo da Igreja Católica.
A diocese também diz que a Congregação para a Doutrina da Fé
“não vê nisso uma discriminação, mas somente o reconhecimento de uma
falta objetiva dos requisitos que por sua natureza são necessários para
assumir a responsabilidade eclesial de ser padrinho”.
A diocese de Cádiz e Ceuta já negou a Salinas, em julho passado, a possibilidade de ser padrinho de seu sobrinho após ir à Paróquia de San Fernando
para marcar a celebração deste sacramento, embora, após a pressão
midiática e social, o jovem tenha recebido a autorização que agora a
Igreja desta diocese lhe nega novamente.
O bispo, por sua vez, sustenta que “a Igreja acolhe todas as pessoas
com caridade querendo ajudar a cada um em sua situação com entranhas de
misericórdia, mas sem negar a verdade que prega, que propõe a todos como
um caminho de fé para ser livremente acolhida”.
De fato, afirma que “o Papa Francisco afirmou
diversas vezes, em continuidade com o Magistério da Igreja, que esta
conduta é contrária à natureza do homem” e que “não é salutar uma
atitude que pretende anular a diferença sexual porque já não sabe
confrontar-se com a mesma”.
“Meu sobrinho já não se batizará”, destacou na mesma manhã, em uma entrevista à cadeia Ser, Álex Salinas. A família tomou a decisão depois que o bispo de Cádiz comunicou pessoalmente a Álex por telefone que não poderá ser o padrinho do seu sobrinho “por sua condição de transexual”.
“Disse-me que o importante é que fosse um bom cristão. Como podem me
dizer isso se eles não são nem bons cristãos, nem boas pessoas?” Salinas disse que a partir de agora não quer saber mais nada da Igreja e que vai apostatar.
“Eu vou seguir a fé sozinho, amando as pessoas assim como são, não
proibindo-lhes de estar em uma igreja porque sejam gays, lésbicas ou
transexuais”, concluiu.
Segue na íntegra o comunicado do bispo de Cádiz
Em relação às declarações que apareceram em diferentes meios de
comunicação em referência à negação ou aceitação como padrinho de
batismo de uma pessoa que se apresenta como transexual, tenho o dever
pastoral de manifestar pública e definitivamente o seguinte:
Os padrinhos do sacramento do Batismo assumem, perante Deus e sua
Igreja e em relação com o batizado, o dever de cooperar com os pais em
sua formação cristã, procurando que leve uma vida coerente com a fé
batismal e cumpra fielmente as obrigações inerentes. Em vista dessa
responsabilidade, o Catecismo da Igreja Católica pede
que os padrinhos devem ser “cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar o
novo batizado... na sua caminhada na vida cristã” (CIC
n. 1255). Por tudo isso, ao ser uma função eclesial a lei da Igreja
exige, entre outras condições, que só seja admitido como padrinho ou
madrinha quem tenha capacidade para assumir seriamente estas
responsabilidades e tenha um comportamento coerente com elas (Cf. Código de Direito Canônico
c. 874, & 1, 3). Caso não seja possível encontrar uma pessoa que
reúna as qualidades necessárias, o pároco pode conferir o Batismo sem
padrinhos, que não são necessários para celebrar este sacramento.
Diante da confusão provocada entre alguns fiéis ao terem sido
atribuídas a mim palavras que não disse, e pela complexidade e
relevância midiática alcançada por este assunto, tendo em conta as
possíveis consequências pastorais de qualquer decisão a respeito, fiz
uma consulta formal à Congregação para a Doutrina da Fé,
cuja resposta foi: “Sobre este particular comunico-lhe a
impossibilidade de que seja admitido. O próprio comportamento transexual
revela de maneira pública uma atitude contrária à exigência moral de
resolver o próprio problema de identidade sexual segundo a verdade do
próprio sexo. Portanto, é evidente que esta pessoa não possui o
requisito de levar uma vida conforme a fé e a função de padrinho (CIC
c. 873 & 3), não podendo, portanto, ser admitido à função nem de
madrinha nem de padrinho. Não se vê nisso uma discriminação, mas somente
o reconhecimento de uma falta objetiva dos requisitos que por sua
natureza são necessários para assumir a responsabilidade eclesial de ser
padrinho”.
Com efeito, o Papa Francisco afirmou diversas vezes,
em continuidade com o Magistério da Igreja, que esta conduta é
contrária à natureza do homem. Em sua última encíclica acaba de
escrever: “A ecologia humana implica também algo muito profundo: a
necessária relação da vida do ser humano com a lei moral escrita em sua
própria natureza, necessária para poder criar um ambiente mais digno.
Dizia Bento XVI que existe uma ‘ecologia do homem’
porque ‘também o homem possui uma natureza que ele deve respeitar e que
não pode manipular como lhe apetece’. Nesta linha, é preciso reconhecer
que o nosso corpo nos põe em relação direta com o meio ambiente e com os
outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é
necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa
comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo
transforma-se numa lógica, por vezes sutil, de domínio sobre a criação.
Aprender a aceitar o próprio corpo, a cuidar dele e a respeitar os seus
significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana. Também é
necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou
masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o
outro que é diferente. Assim, é possível aceitar com alegria o dom
específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se
mutuamente. Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda
‘anular a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela’” (Laudato si’, n. 155).
A Igreja acolhe todas as pessoas com caridade querendo ajudar a cada
uma em sua situação com entranhas de misericórdia, mas sem negar a
verdade que prega, que propõe a todos como um caminho de fé para ser
livremente acolhida.
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