sexta-feira, 29 de maio de 2020

Pachamama, Papa Francisco e Pandemia


Por  Luiz Sérgio Solimeo



Em vários pronunciamentos recentes, o Papa Francisco sugeriu que a atual pandemia de coronavírus seria uma vingança da natureza.
Em uma entrevista no dia 22 de março de 2020 ao jornalista espanhol Jordi Évole, este perguntou ao Pontífice se a atual pandemia não seria um “acerto de contas da natureza”.[i] Ele respondeu com um ditado popular que frequentemente repete como um axioma teológico: “Deus perdoa sempre; nós, homens, às vezes perdoamos; a natureza nunca perdoa”. E acrescentou que “a natureza está esperneando[ii] para que cuidemos dela”.[iii]
Falando em 8 de abril ao jornalista inglês Austen Ivereigh, do semanário católico liberal de Londres The Tablet, o Papa Francisco repetiu o mesmo refrão e, depois de comentar várias calamidades naturais, acrescentou: “Não sei se essa é a vingança da natureza, mas certamente são as respostas da natureza”.[iv]

“Pecamos contra a terra: precisamos de uma conversão ecológica”

O Papa Francisco voltou a repetir o referido refrão na catequese especial de 22 de abril, por ocasião 50º Dia da “Mãe Terra,” uma celebração instituída pela ONU:
“Devido ao egoísmo, falhamos na nossa responsabilidade de guardiães e administradores da Terra. […] Pecamos contra a terra […]. E como reage a Terra? […] Deus perdoa sempre; nós, homens, às vezes; a terra nunca. A terra nunca perdoa.[…] Se deteriorarmos a terra, a resposta será terrível”.
Mais adiante, declara: “Fomos nós que arruinamos a obra do Senhor!” Portanto, “ao celebrarmos hoje o Dia Mundial da Terra, somos chamados a reencontrar o sentido do respeito sagrado pela Terra, porque ela não é apenas a nossa casa, mas também a casa de Deus”.
Mas, ao que parece, respeito não é suficiente: “Precisamos de uma conversão ecológica”[v]. [vide quadro – I – no final] “A natureza nunca perdoa: se você lhe dá uma bofetada, ela lhe devolve a bofetada”
Já em janeiro de 2015, em uma de suas peculiares entrevistas aeronáuticas, voando do Sri Lanka para as Filipinas [foto], quando questionado por um jornalista sobre se a mudança climática era inteiramente culpa do homem, o Papa respondeu: “Não sei se é inteiramente, mas na maioria dos casos, em larga medida, é o homem que agride a natureza, continuamente. Tornamo-nos um pouco donos da natureza, da irmã terra, da mãe terra. Recordo — vocês já ouviram isto — o que um velho camponês me disse uma vez: ‘Deus perdoa sempre, nós homens perdoamos por vezes, a natureza nunca perdoa’. Se você lhe dá uma bofetada, ela te devolve a bofetada”.[vi]
Encíclica Laudato Si ‘: a chave para entender o pontificado do Papa Francisco
Essas e outras estranhas declarações antropomórficas — às vezes ininteligíveis e até incongruentes — adquirem significado quando lidas à luz da sua encíclica Laudato Si’.
De fato, essa encíclica nos dá a chave para entender outros pronunciamentos, atos, gestos e atitudes de Francisco[vii], principalmente, a exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia[viii].

A Terra, tratada como um ser vivo



Nesses documentos, o Papa Francisco trata a terra, a natureza e o meio ambiente como se fossem seres racionais, dotados de inteligência, vontade e sensibilidade, exatamente como o homem.
Laudato Si’ afirma, por exemplo: “Esta irmã [a terra] clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.” (n.2). “Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rom. 8, 22)” (n. 2).
Observe-se a caracterização marxista dos “pobres” como os “oprimidos”. A encíclica recomenda uma abordagem ecológica para “ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres” (nº 49). “Estas situações provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo” (nº 53).
Assim, graças a essas faculdades cognitivas e volitivas, bem como à sensibilidade, a Mãe Terra é supostamente capaz de entender o comportamento do homem em relação a ela, e fazer um julgamento moral sobre os atos humanos, achando-os bons ou maus. Da mesma forma, a Terra poderia sentir-se ofendida por ações humanas que ela considera más, e vingar-se delas causando incêndios, inundações, devastação e pandemias, como o coronavírus. (vide quadro – II – no final).

Divinizando a Terra

Agora, conceder à terra faculdades de uma criatura racional e colocá-la como juiz e vingadora das ações do homem, não é equivalente a divinizá-la?
Essa divinização da terra parece ser a base “teológica” das cerimônias de adoração do ídolo da deusa Pachamama nos Jardins do Vaticano e na Basílica de São Pedro, centro do cristianismo. Dois bispos carregaram o ídolo num andor em procissão, da Basílica ao Salão do Sínodo. O Papa Francisco participou efetivamente de todas essas ações.[ix]

Elevando Pachamama e destronando o homem

Ao divinizar a terra, o Papa Francisco mudou a doutrina tradicional da Igreja, que sempre considerou o homem como o rei da criação corpórea.
O Gênesis é claro a esse respeito: “Deus os [Adão e Eva] abençoou: ‘Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra’.” (Gênesis 1, 28).
O Pe. José F. Sagües, SJ, em seu tratado sobre Deus e a criação, diz com precisão: “A nossa afirmação […] de que o mundo existe por causa do homem, e certamente para que o sirva em ordem à glorificação de Deus, é de fé divina e católica; e se se toma em relação a cada uma das coisas que existem no mundo, é verdade certa em teologia.”[x]
A qualificação “de fé divina e católica” significa que esta é uma verdade revelada por Deus e proposta pela Igreja para ser crida. Negá-la é heresia[xi].
O Pe. H. Pinard diz: “[…] todos os Padres [da Igreja] e os teólogos consideram o homem de fato como o coroamento providencial do mundo sensível: tudo está ordenado para ele uma vez que sem ele as coisas não atingiriam a sua finalidade; a natureza não teria voz para louvar a Deus […]. O homem foi criado por último, dizem os Padres, precisamente porque convinha, antes de introduzir o rei do universo, que tudo estivesse preparado”.[xii]
Na encíclica Laudato Si’, contrariando o texto do Gênesis e toda a tradição da Igreja, o Papa Francisco declara: “Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas.” (n. 67).
Em seus documentos e declarações, Francisco apresenta continuamente o homem não como o senhor da natureza, do mundo sensível, uma situação da qual ele se serve para dar glória a Deus, mas praticamente inverte essa ordem. O homem deixa de ser considerado o senhor para ser visto como o servo da natureza, à qual deve se submeter.

Pior que a pandemia de coronavírus

Com o presente pontificado, a atual crise da Igreja, que tem suas raízes na heresia modernista e na Nouvelle Théologie, atingiu um grau inimaginável. Seus erros e males atacam a alma mais severamente do que o coronavírus ataca o corpo, colocando em risco a salvação eterna. Razão pela qual a crise da fé representa um perigo muito maior do que a atual pandemia.
Medidas sanitárias drásticas foram tomadas para mitigar a epidemia de coronavírus. No entanto, do ponto de vista espiritual, os fiéis ficam completamente desprotegidos no momento em que mais precisam de assistência.
Ao mesmo tempo em que deificava a natureza e favorecia o culto ao ídolo Pachamama, o Papa Francisco fechava as igrejas de Roma e permitia que bispos de todo o mundo fizessem o mesmo, suspendendo as missas públicas e a distribuição dos Sacramentos.
Poderíamos esperar outra coisa, se na encíclica Laudato Si ‘ o Papa Francisco se refere à Sagrada Eucaristia (Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor) como sendo “um fragmento de matéria”?[xiii]

Manter o ânimo e lutar pela Fé

São Paulo exorta: “Não somos, absolutamente, de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé, para nossa salvação!” (Hb 10, 39).
Confiantes na proteção materna de Maria Santíssima, continuemos a lutar pela integridade da Fé e a restauração da civilização cristã.

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(Quadro – I –)

A TERRA: “CASA DE DEUS”?


A afirmação do Papa Francisco de que a Terra “não é apenas a nossa casa, mas também a casa de Deus” é imprecisa, e pode levar a uma confusão panteísta. A doutrina católica tradicional diz que Deus, “por seu poder e virtude, preenche o céu e a terra, e todas as coisas nela contidas. […] Enquanto Ele mesmo não está confinado em nenhum lugar. […] Ele é, no entanto, como frequentemente é dito nas Escrituras, o que tem sua habitação nos céus”*.
Por exemplo, o Salmo 122,1 diz: “Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus.”[xiv]
O primeiro livro de Reis mostra a onipresença de Deus, que não pode estar contido nos céus ou na terra: “Mas, será verdade que Deus habita realmente sobre a terra? Se o céu e os céus dos céus não vos podem conter quanto menos esta casa que edifiquei!” (1 Reis 8:27).
A oração que Nosso Senhor nos ensinou começa precisamente com esta invocação: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o vosso nome” (Mt 6,9).
*Catecismo do Concílio de Trento (Catecismo Romano). IV Parte: DaOração. Capítulo nono, §18. Nova Versão Portuguesa Por Frei Leopoldo Pires Martins, O. F M. – Serviço de Animação Eucarística Mariana, Anápolis- Goiás- Brasil. http://www.obrascatolicas

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(Quadro – II –)


Dia da Terra, comemorado pelo Papa Francisco: Iniciativa do movimento ecologista naturalista-panteísta.


O Dia da Terra, ou Dia da Mãe Terra ‒ comemorado por Francisco ‒ é uma iniciativa do movimento ecologista naturalista-panteísta que começou nos anos setenta. Em 2009, a agnóstica ONU aprovou esse dia como uma espécie de “dia santo” civil. Abaixo se lê no site da instituição:
“Resolução adotada pela Assembleia Geral em 22 de abril de 2009 [sem referência a um Comitê Principal (A / 63 / L.69 e Add.1)] 63/278. Internacional […].
“Reconhecendo que a Mãe Terra é uma expressão comum para o planeta Terra em vários países e regiões e que reflete a interdependência existente entre os seres humanos, outras espécies vivas, e o planeta em que todos habitamos.
“Considerando que o Dia da Terra é comemorado todos os anos em muitos países, decide designar 22 de abril como Dia Internacional da Mãe Terra…
(Assembleia Geral das Nações Unidas, “Resolução adotada pela Assembleia Geral em 22 de abril de 2009” [sem referência a um Comitê Principal (A / 63 / L.69 e Add.1)] 63/278, “Dia Internacional da Mãe Terra”, Sexagésima Terceira Sessão, item 49 (d) da Agenda, 08-48747, 1º de maio de 2009, https://undocs.org/A/RES/63/278).
Além disso, as Nações Unidas publicaram uma mensagem em seu site no último Dia Internacional da Mãe Terra, 22 de abril,que segue a linha das concepções do Papa Francisco:

Quando a Mãe Terra nos envia uma mensagem

A Mãe Terra está claramente fazendo um chamado à ação. A natureza está sofrendo. Incêndios na Austrália, recorde de calor e a pior invasão de gafanhotos no Quênia. Agora, enfrentamos o COVID-19, uma pandemia de saúde mundial ligada com a saúde de nosso ecossistema. […] Recordemos mais do que nunca neste Dia Internacional da Mãe Terra que precisamos mudar para uma economia mais sustentável que funcione tanto para as pessoas quanto para o planeta. Vamos promover a harmonia com a natureza e a Terra.
(Nações Unidas, acessado em 6 de maio de 2020, https://www.un.org/en/observances/earth-day ‒ Nossa tradução)

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Notas:

[i] No original espanhol: “ajuste de cuentas de lanaturaleza”.

[ii]Em espanhol: “pateando.”

[iii]‘Espero que los Pueblos Aprendan la Crise para Revisar Sus Vidas’, Dice el Papa a Jordi Évole”, Religión en Libertad, 23 de março de 2020, https://www.religionenlibertad.com/noticias/197972338/Espero-que-los-pueblos-aprendan-de-la-crisis-para-revisar-sus-vidas-dice-el-Papa-a-Jordi-Evole.html. (Todas as ênfasessãonossas).

[iv]Austen Ivereigh, “Pope Francis Says Pandemic Can Be a ‘Place of Conversion,’” The Tablet, Apr. 8, 2020, https://www.thetablet.co.uk/features/2/17845/pope-francis-says-pandemic-can-be-a-place-of-conversion.

[v]Papa Francisco, “Audiência Geral”, 22 de abril de 2020, http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2020/documents/papa-francesco_20200422_udienza-generale.html.

[vi]INCONTRO DEL SANTO PADRE CON I GIORNALISTI DURANTE IL VOLO VERSO MANILA. Volo Papale. Giovedì, 15 gennaio 2015. http://w2.vatican.va/content/francesco/it/speeches/2015/january/documents/papa-francesco_20150115_srilanka-filippine-incontro-giornalisti.html (Original italiano – Nossa tradução).

[vii]6. Ver Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, “Notas sobre a filosofia e a teologia inaceitáveis ​​da Laudato Si’”, https://docs.wixstatic.com/ugd/71cd9f_03a494a236154791b42cac69986ce6f1.pdf

[viii]Ver Luiz Sérgio Solimeo, Resisting the Grave Errors in Pope Francis’sApostolicExhortation Querida Amazonia( “Resistindo aos Graves Erros da Exortação Apostólica do Papa Francisco Querida Amazônia”), TFP.org, 3 de março de 2020, https://www.tfp.org/resisting-the-grave-errors-in -pope-franciss-apostolic-exortation-querida-amazonia

[ix]Ver Luiz Sérgio Solimeo, Depois do culto à Pachamama, o Papa Francisco agora nega a co-Redenção de Nossa Senhora. IPCO.org. 10 de janeiro de 2020. https://ipco.org.br/depois-de-adorar-pachamama-o-papa-francisco-agora-desrespeita-o-papel-co-redentor-de-maria/

[x]Pe. José F. Sagües, S.J., “De Deo Creanteetelevante”, Sacrae Theologiae Summa, vol. II, tr. II, n. 204.

[xi]Ver Pe. SixtusCartechini, S.J., De Valore NotarumTheologicarum (Roma: TyposPontificiaeUniversitatisGregoriane, 1951; Sainte Croix du Mont, França: TRADIBOOKS, n.d.), p. 83.

[xii]“Création”, in Dictionnaire de Théologie Catholique, vol. III, col. 2172.

[xiii]Papa Francisco, Encíclica Laudato Si ‘, 24 de maio de 2015, n. 236,http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html 21/05/2020 17:26. Ver também Arnaldo Xavier da Silveira, “Notas sobre a filosofia e a teologia inaceitáveis ​​de Laudato Si ‘”

[xiv]Citações bíblicas da Biblia Ave Maria.


Fonte - abim


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