Mais de sete séculos atrás, Santo Tomás entendeu algo que nós, em grande parte, esquecemos: a injúria pode ter um efeito sério e duradouro sobre a vida das pessoas. Uma palavra dita facilmente se esquece, mas uma palavra impressa perdura — às vezes para sempre.
Nos últimos meses, os gigantes da mídia social Facebook e Twitter
adotaram políticas de censura ainda mais restritivas. Entre muitos
católicos, há uma indignação palpável a essas ações corporativas. Isso é
compreensível. Afinal, a liberdade de expressão é tida como um direito
fundamental por grande parte das nações ocidentais [1].
Mas existe um problema subjacente muito mais preocupante: nos últimos anos, nós, católicos, temos usado essas plataformas de mídia social para cometer uma multidão de pecados.
É fácil ficar furioso com os crimes de outra pessoa, mas de uma coisa podemos ter certeza: quando você estiver diante do tribunal de Cristo, não será questionado sobre as políticas corporativas do Facebook ou do Twitter. Você será questionado se, pessoalmente, se envolveu em pecados como xingamentos, zombaria, mentira, fofoca, calúnia ou difamação.
Alguns de nós, católicos, parecem nunca ter considerado esse fato. Muitos parecem acreditar que as postagens do Facebook
não estão sujeitas a escrutínio moral, mesmo que essas postagens violem
a justiça e a caridade, mesmo que possam ser lidas por todo o mundo.
Qual será nossa defesa? Diremos que nossos pecados foram meramente publicados no Facebook, em vez de comunicados de forma audível — e que isso, de alguma forma, nos absolve de qualquer transgressão?
Mais de sete séculos atrás, Santo Tomás de Aquino abordou este tema na Suma Teológica em uma questão sobre a injúria (II-II 72), que “comporta desonra de uma pessoa” e ocorre “quando se leva algo contrário à honra de alguém ao seu conhecimento e de outras pessoas” (a. 1). Tomás de Aquino argumenta que “a injúria será maior se os defeitos são revelados diante de muitos” [2].
O Catecismo da Igreja Católica faz eco ao Aquinate quando ensina que uma declaração pública falsa sobre os outros, por exemplo, “assume uma gravidade particular” (§ 2476). A lógica é simples e correta: a calúnia particular fala aos que estão ao alcance da voz; a calúnia pública fala ao mundo inteiro.
Com frequência, esses pecados são de natureza objetivamente grave.
Como Tomás declara sem rodeios, “a injúria é pecado mortal” (a. 2). Em
termos de gravidade moral, a postagem de comentários difamatórios pode
ser colocado lado a lado com o consumo de pornografia. Vale a pena
considerar esse fato antes de clicar no botão “publicar”.
O Aquinate entendeu algo que nós, em grande parte, esquecemos: esses pecados podem ter um efeito sério e duradouro. Uma palavra falada pode ser facilmente esquecida, mas uma palavra impressa perdura — às vezes permanentemente.
É uma lição que aprendi da maneira mais difícil.
Anos atrás, confessei sacramentalmente o pecado de difamação e perguntei ao padre como poderia fazer a reparação. Ele explicou que aí estava o problema. Quando você rouba dinheiro, explicou ele, pode devolver o dinheiro. Mas quando você rouba a reputação de alguém (a sua “honra”, diria Santo Tomás), isso é muito mais difícil de reparar. Fui absolvido, mas meu trabalho estava apenas começando.
A partir do momento que saí do confessionário, comecei a trabalhar para realizar essa tarefa de reconciliação. No processo, aprendi que devolver uma reputação geralmente requer muita paciência, criatividade e perdão. Mas há certa beleza e esperança na restituição, e o processo ajuda a nos curar de nossos pecados.
Publico isso hoje como um lembrete para mim e para todos os que lutam contra esses pecados da “liberdade de expressão”; mas também como uma advertência aos que nunca consideraram a seriedade desses pecados. A facilidade e o ímpeto com que nos insultamos e castigamos uns aos outros é arrepiante.
Portanto, quando ouvirmos que o Facebook tem censurado a liberdade de expressão, talvez isso nos inspire a realizar algo que deveríamos fazer o tempo todo: censurar a nós mesmos.
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