sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Sociedades secretas católicas: a Companhia do Santíssimo Sacramento (1)

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Por Roberto de Mattei

 

Uma página pouco conhecida na história da Igreja é a das sociedades secretas católicas que lutaram contra a Revolução nos séculos entre a era do protestantismo e a do modernismo. Entre as primeiras e mais conhecidas está a Companhia do Santíssimo Sacramento, fundada em Paris em 1628 por Henri de Lévis, Duque de Ventadour (1596-1680). Ela reunia as almas mais fervorosas da França com o objetivo de "fazer todo o bem possível e afastar todo o mal possível em todos os momentos, em todos os lugares e para todos os povos". Seu lema era "facere et pati fortia catholicum est": fazer e sofrer grandes coisas é próprio dos católicos (René Taveneaux, A Companhia do Santíssimo Sacramento (1629-1667), Armand Colin, Paris 1960). 

Os ápices da perfeição cristã estão sempre envoltos em uma aura de segredo. Por essa razão, no Monte Tabor, após revelar sua glória aos santos Pedro, Tiago e João, "proibiu-os de contar a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos" (Marcos 9:9). O próprio Jesus, após sua profissão de fé ("Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", Mateus 16:16), ordenou aos discípulos que não contassem a ninguém que ele era o Cristo. 

Portanto, a regra fundamental da Companhia era o segredo, que permitia aos seus membros imitar o caráter oculto de Deus em Jesus Cristo e de Jesus na Eucaristia. O segredo também protegia a espiritualidade e a liberdade de ação de seus membros, muitos dos quais pertenciam à elite social e política da época (nobres, magistrados, clérigos), que a defendiam das manobras de seus detratores e inimigos, mesmo internos. 

A associação tinha sua sede próxima ao convento dos Capuchinhos, no bairro de Saint-Honoré, e era administrada por leigos. Entre eles, devemos mencionar o Barão Gaston de Renty (1611-1649), um dos grandes impulsionadores do renascimento católico francês do século XVII. De 1639 até sua morte, ele foi nada menos que onze vezes superior da Sociedade do Santíssimo Sacramento (cf. Raymond Triboulet, Gaston de Renty, Beauchesne, Paris 1991). Renty era um leigo casado, de grande atividade apostólica e vida interior, e diretor espiritual de muitas freiras, algumas delas de clausura, entre as quais uma do convento carmelita de Beaune, cujas virtudes heroicas foram reconhecidas, a Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento. O jesuíta Jean-Baptiste Saint-Jure nos deixou uma importante biografia do Barão de Renty, na qual o descreve como um modelo de perfeição absoluta (La vie de monsieur Renty, ou le modèle d’un parfait chrétien, Le Petit, Paris 1651). 

As reuniões da associação eram realizadas às quintas-feiras, dia dedicado ao Santíssimo Sacramento do Altar. Após uma oração ao Santíssimo Sacramento, as diversas obras de piedade e caridade eram discutidas e concluídas com o salmo Laudate Dominum omnes gentes. O monarca francês Luís XIII foi informado da existência da Sociedade e solicitou sua aprovação ao Arcebispo de Paris, que, no entanto, a negou. Monsenhor Gianfrancesco Guidi di Bagno, núncio apostólico em Paris entre 1645 e 1656, participou inúmeras vezes das reuniões, apesar de Roma nunca ter reconhecido oficialmente a existência da Sociedade. 

A Sociedade do Santíssimo Sacramento é responsável pela fundação do abrigo geral para mendigos parisienses, o Seminário para Missões no Exterior, e pelo auxílio a inúmeras obras de caridade, incluindo a de São Vicente de Paulo (1581-1660). A organização dedicava-se principalmente à caridade, mas também lutou contra os huguenotes para manter a fé católica na França. Havia quase sessenta filiais em todo o país, cerca de trinta das quais eram desconhecidas dos bispos. Em 1659, a Sociedade realizou seu congresso geral na capital francesa com grande sucesso. "O catolicismo militante reviu suas forças", escreveu Monsenhor Pietro Amato Frutaz (Enciclopedia cattolica, vol. IV (1950), cols. 79-80). No ano seguinte, o segredo veio à tona, e um decreto real assinado pelo primeiro-ministro, Cardeal Giulio Mazzarino, proibiu suas reuniões. De fato, a associação sobreviveu até 1670, e as filiais provinciais duraram ainda mais, sem se extinguir completamente. Seus oponentes, que vinham principalmente dos campos jansenista e antirromano, depreciativamente a chamavam de cabala dos beatificados. 

Apesar de ser liderada por leigos, a Sociedade do Santíssimo Sacramento contava com eminentes figuras religiosas entre seus membros. Além de São Vicente de Paulo, devemos mencionar São João Eudes (1601-1680), o grande apóstolo do culto aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, que por sua vez foi marcadamente influenciado por uma mística secular do século XVII, Maria de Vallées, conhecida como Santa de Coutances, em homenagem à vila normanda onde nasceu em 1590. 

O encontro com a mística foi decisivo para Eudes, com quem manteve contato por toda a vida, auxiliando-a em seu leito de morte e defendendo-a de calúnias e mal-entendidos. O biógrafo de Maria de Vallées foi o Barão de Renty, superior da Sociedade do Santíssimo Sacramento e amigo de São João Eudes. 

A vida espiritual de Maria des Vallées girava em torno da submissão total e altruísta da vontade à justiça divina, que, segundo uma revelação que recebeu, visa pôr fim ao pecado por meio de três dilúvios: o primeiro foi o do Pai, e foi um dilúvio de água; o segundo foi o do Filho, e foi um dilúvio de sangue; e o terceiro é o do Espírito Santo, que será um dilúvio de fogo. Um eco dessa profecia pode ser encontrado na Oração Ardente de São Luís Maria Grignon de Montfort e em seu Tratado sobre a Verdadeira Devoção à Virgem Maria, onde ele afirma que "perto do fim do mundo (...) o Todo-Poderoso e sua Mãe Santíssima formarão grandes santos que superarão em santidade a maioria dos outros santos, como os cedros do Líbano superam os arbustos. Assim foi revelado a uma alma santa cuja vida foi escrita por Monsieur de Renty" (n.º 49). 

As páginas de São Luís Maria Grignon de Montfort capturam a atmosfera que reinava na Sociedade do Santíssimo Sacramento, que continua sendo um modelo válido para as associações, especialmente em tempos de grave crise religiosa e moral. 

(Traduzido por Bruno de la Inmaculada) 

 

Fonte - adelantelafe

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