Lide com o fascínio do poder mantendo o equilíbrio nos trabalhos que realiza em sua comunidade
POR IR. AFONSO MURAD
Quando as pessoas vivem e atuam em grupo, é natural que surjam lideranças. Essas são necessárias para mobilizar, animar, coordenar, canalizar as iniciativas, organizar as idéias, conceber estratégias e transformar sonhos em realidade. Acontece assim em vários espaços, desde um time de futebol em um bairro, até as diversas pastorais e movimentos na Igreja. Liderar é conduzir pessoas, em vista de resultados. Todo (a) líder conquista com o tempo uma certa autoridade, que não é necessariamente formal. É respeitado pelos outros, que levam em conta o que ele diz e faz.
Modos de agir
Uma liderança pode ser positiva, se movida por altos valores humanos e cristãos, ou negativa, ao arrastar pessoas e até multidões para o engano e diversas formas de dependência. Quem é líder exerce um poder que os próprios membros do grupo atribuem a ele. Há líderes que estimulam uma gestão participativa ou compartilhada, na qual as pessoas são protagonistas, desenvolvem suas potencialidades e se comprometem de maneira criativa. Outros exercem uma autoridade centralizadora ou dominadora, que controla o grupo e mantém as pessoas sob seu domínio.
Um exemplo
Em organizações estruturadas, é necessária uma autoridade formal, reconhecida como tal com atribuições claras. Ora, nem sempre a liderança coincide com a autoridade formal. Pode acontecer que alguém ocupe determinado cargo, mas não saiba liderar pessoas. Então, torna-se uma autoridade com pouca expressão. Indivíduos inseguros, quando ocupam funções que concentram muito poder, mas não têm uma autoridade que “vem de dentro”, tendem a se manter no posto usando da força. Isso acontece na família, no ambiente de trabalho e também na Igreja.
A liderança e a autoridade formal podem somar. Se usados adequadamente para o bem, levam grupos e organizações a realizarem seus objetivos com eficácia. E, sobretudo, contribuem para criar um clima humanizador, no qual os seus membros se sentem contentes e felizes. Mas, porque o poder é também tão perigoso?
Testemunho
Quando eu morava em um lar com quintal e horta, tínhamos um grande cachorro para proteger a casa. A cada 10 dias alguém lavava o cão e lhe aplicava substâncias para combater pulgas e carrapatos. Certa vez, perguntei à pessoa que dava banho no cachorro a razão de tamanho cuidado. Ele respondeu prontamente: “se eu não fizer isso, ele pode adoecer. Em vez de ajudar a casa, será um problema a mais”.
Reflexão
O poder, seja em forma de liderança ou de autoridade formal, tem dois lados, como as faces de uma moeda. É necessário em qualquer grupo humano, para dar direção, convergir as diferenças, multiplicar os talentos, etc. Nesse sentido, é fundamental para a gestão. No entanto, o poder sem limites se assemelha às pulgas e carrapatos que se proliferam nos cachorros. Pode transformar-se em um grande problema. O líder ou a autoridade tem que continuamente rever suas motivações, “vigiar e orar”, para que o poder não “lhe suba à cabeça”, não desenvolva a vaidade, a auto-suficiência, a arrogância e o autoritarismo. Também a adoção de uma gestão participativa ou compartilhada ajuda a combater a tentação do poder.
Iluminados pela fé e construindo uma comunidade de irmãos e irmãs, os cristãos são chamados a lidar com o poder como “criaturas novas”, fazendo fluir os processos, como águas que correm nos riachos sem diques. Assim, na gestão eclesial se realizará a proposta de Jesus: “Quem quiser ser maior, seja o servidor de todos”.
Afonso Murad é Irmão Marista e Pedagogo. Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana (Roma). Especialização em Comunicação Social e Gestão com ênfase em Marketing (Fundação Dom Cabral). Autor do livro “Gestão e Espiritualidade”, pela Editora Paulinas.
Contato:amurad@marista.edu.br
Blog:www.afonsomurad.blogspot.com
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