Entrevista com o cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
Por Jose Antonio Varela Vidal
ROMA, 04 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Na festa da Apresentação de Jesus no Templo, comemorado no sábado (2), a Igreja celebrou o Dia da Vida Consagrada, instituído pelo Beato João Paulo II.
ROMA, 04 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Na festa da Apresentação de Jesus no Templo, comemorado no sábado (2), a Igreja celebrou o Dia da Vida Consagrada, instituído pelo Beato João Paulo II.
Para saber mais sobre as atividades
deste dicastério e falar sobre algumas questões atuais, ZENIT
entrevistou o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, prefeito da
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida
Apostólica.
ZENIT: O que aprofundar no Dia da Vida Consagrada deste ano?
Cardeal Braz de Aviz: A experiência cristã de seguir Jesus é um
caminho para todos os batizados, mas a vida consagrada é uma chamada um
pouco especial, no sentido de que não há um mandamento sobre isso.
Algumas pessoas para seguir Jesus deixam todos os bens e vivem na
pobreza. Outra dimensão é a da virgindade, não porque não dão valor ao
casamento, mas porque ouviu dizer que Deus é maior do que o casamento.
Isto significa seguir a Jesus, como Cristo seguiu o Pai, e Maria seguiu a
Deus na virgindade.
ZENIT: E a obediência?
Cardeal Braz de Aviz: A questão da obediência e do respeito pela
autoridade é uma dimensão muito bela, porque a pessoa escolhe obedecer a
Deus e o faz aceitando a mediação da autoridade humana inspirada pelo
Senhor. Essas são as formas próprias da vida consagrada. Onde nascem
comunidades maduras, nascem os consagrados, porque desde o início da
Igreja tem sido assim. Agora é necessário um retorno à beleza original,
isto é, àquela dos fundadores, caracterizada pelo testemunho profundo,
que mostra como seguir a Deus de modo completo.
ZENIT: Depois de cinquenta anos da publicação do decreto do Concílio Vaticano II sobre a renovação da vida religiosa Perfectae Caritatis, quais são os frutos e quais são as estradas a serem percorridas?
Cardeal Braz de Aviz: O Concílio Vaticano II foi um momento decisivo para aprofundar e desenvolver a vida consagrada. A Caritatis Perfectae
foi uma grande contribuição nesse sentido. A partir daí, houve um apelo
da Igreja a todas as famílias religiosas, de uma atualização dos seus
estatutos e suas regras.
Agora, depois de 50 anos, é evidente que precisamos voltar à
autenticidade do testemunho. Penso também na necessidade de caminharmos
juntos, ajudando-nos reciprocamente para viver mais intensamente a
própria consagração.
E penso ainda, o que ouvimos de nossos pastores, sobretudo dos
últimos Papas, que devemos redescobrir as duas dimensões essenciais da
Igreja: a dimensão hierárquica e a dimensão profética e carismática.
Os carismas e a profecia, não são coisas pequenas, mas algo que vem
junto com o ministério. O ministério continuará a discernir o carisma,
mas deve fazê-lo depois que conhece e ama o carisma.
ZENIT: No mundo moderno onde há uma forte secularização qual é a voz profética dos consagrados?
Cardeal Braz de Aviz: A tarefa do carisma é "transmitir a experiência
de Deus”. Eu tenho que me perguntar: Deus realmente me faz feliz? Ou eu
tenho outras fontes de felicidade? Eu encontro a felicidade em outras
pessoas ou de outras maneiras?
Este é um grande desafio, porque não basta falar, é preciso que o
outro veja em nós que é exatamente assim. E nós não existimos apenas
para ajudar aqueles que têm problemas de saúde, educação e pobreza. Para
o homem e a mulher, os consagrados carregam uma identidade e um exemplo
que é o de seguir o Senhor. E se essa identidade não é percebida, não
conseguimos ir para frente e não conseguimos transmitir aos outros.
ZENIT: Que espaço ocupa e como procedem as novas experiências de vida consagrada, muitas das quais formadas por leigos?
Cardeal Braz de Aviz: Esse tipo de vocação é muito original. É uma
realidade moderna reconhecida pelo Papa Pio XII. É uma forma muito bela
de consagração porque se trata de pessoas leigas. As pessoas são
conscientes de que não são padres ou freiras, mas são profundamente
religiosos porque são consagrados através de votos. Às vezes não têm uma
vida intensamente comunitária como o carisma indica, mas vivem
inseridos nas comunidades locais. Testemunham e vivem como cristãos no
próprio ambiente, nem todos sabem que eles são consagrados.
É uma vocação um pouco especial e muito bonita. O número é crescente,
tanto para os institutos seculares, bem como para a Ordem das Virgens,
que é algo que já estava presente nas primeiras comunidades da Igreja.
ZENIT: Como o senhor avalia a experiência Ordo Virginum ?
Cardeal Braz de Aviz: Avalio muito positivamente. Na Congregação
temos alguém que se preocupa com essa questão e segue diretamente essa
realidade. É algo que está se espalhando, muitos bispos têm visto o
nascimento de vocações e têm apoiado. Nós estamos próximos e queremos
que se desenvolvam.
ZENIT: Por que só para mulheres? Os homens não podem se consagrar assim?
Cardeal Braz de Aviz: O Ordo Virginum é mais para as mulheres, mas há homens consagrados, nesse sentido eu não vejo por que não.
ZENIT: Quais são as questões que o senhor considera relevantes para o futuro próximo?
Cardeal Braz de Aviz: Os temas são vários. Pessoalmente eu vejo certa
atenção em relação à vida contemplativa. A Igreja está muito atenta em
conservá-la e promove-la. É necessário ajudar os mosteiros,
especialmente os que estão se esvaziando, as pequenas realidades que têm
problemas internos.
Devemos resolver o problema de irmãos religiosos não presbíteros.
Aqui, também, se trata de uma vocação especial porque neles aparece mais
forte o carisma.
ZENIT: Qual a mensagem o senhor deixaria para os leitores de Zenit que são consagrados?
Cardeal Braz de Aviz: Gostaria de enfatizar o apelo do Santo Padre
para o Ano da Fé e retomar os ensinamentos do Concílio Vaticano II como
vida verdadeira. Para nós consagrados, o mais importante agora é
acreditar neste dom que Deus nos deu como dom de amor. Não é que somos
pessoas que deixamos tudo e não temos nada. Pelo contrário, somos
pessoas que deixamos tudo para ter muito mais! Deus é a razão da nossa
alegria e da nossa felicidade.
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