Por Dom Manoel Pestana Filho
Fonte: GRAA
O
grande papa Leão XIII entrou no século XX ainda apavorado pela visão
que tivera da formidável presença diabólica em Roma, “para a perdição
das almas”. Desde 1886, mandara a todos os bispos rezar a oração a São
Miguel Arcanjo, escrita por ele, de próprio punho, como também um
exorcismo maior que recomendava a bispos e párocos para recitarem com
frequência nas dioceses e paróquias.
“O século do homem sem Deus”, anunciado
por Nietzsche, transforma-se no século de Satanás, que prepara o seu
reino com a Primeira Guerra Mundial, implanta o comunismo ateu e
tirânico, contra Deus e contra o homem, na revolução bolchevista de
1917, semeia a Europa inteira de ruínas e sangue com a Segunda Guerra
Mundial, fruto dos poderes das trevas; invade toda a terra de ódio,
terror, impiedade, heresia, blasfêmia e corrupção em guerras e
revoluções sem trégua; insinua-se, de início, como fumaça, e, depois,
implanta-se, poderoso, no seio da própria Igreja.
Tudo isto, Nossa Senhora confidenciara
aos videntes de Fátima, exatamente no mesmo ano da tragédia russa; e o
mesmo se diga do 3º capítulo do Gênesis, em que se pinta a vitória da
serpente infernal e a presença de Maria, esmagando-lhe a cabeça.
A Cristandade continuou a rezar as
orações de Leão XIII, estimulada pelos Papas. Pensadores cristãos como,
por exemplo, Anton Böhm (Satã no Mundo Atual, Tavares Martins) e de La Bigne Villeneuve (Satan dans la Cité, Du Cèdre) denunciam a infiltração visível do demônio em todas as estruturas da sociedade. Bernanos surpreende-nos Sob o Sol de Satã.
De súbito, ao aproximar-se o último e
temeroso quartel do século XX, contesta-se a existência dos anjos,
desaparece a oração de São Miguel, suspendem-se os exorcismos, inclusive
o do Batismo, mergulha no silêncio o ministério e a função do
exorcista.
Paulo VI queixa-se da fumaça de
Satanás dentro do templo, quase a ocupar o espaço do incenso esquecido, e
amargura-se com a autodemolição da Igreja. Os seminários desaparecem, a
teologia prostitui-se em cátedras de iniquidade, a liturgia reduz-se,
com certa frequência, a uma feira irrelevante de banalidades
folclóricas. A pretexto de inculturação, a vida religiosa desliza para o
abismo.
“Os poderes do inferno não prevalecerão
contra a Igreja”, é certo. Mas o próprio Senhor prediz o obscurecimento
da fé, o esfriamento da caridade. A visão (do Inferno) de Fátima faz
vacilar o otimismo ingênuo e irresponsável dos que apostam na salvação
de todos, mesmo até dos que a recusam.
(…) Jesus começa a sua missão, tentado
pelo demônio e a expulsão dos maus espíritos torna-se uma das notas mais
relevantes da sua atividade messiânica. “Em meu nome expulsarão os
demônios” (Mc 16,17), diz Jesus, ao despedir-se dos discípulos, notando
que este será um sinal dos que crêem nele. E Satanás, pela ação dos
Apóstolos, caía do céu como um raio… Quando os cristãos de todos os
níveis, apesar dos Evangelhos e do Magistério, principiaram a duvidar da
ação e, depois, da existência do espírito rebelde, aconteceu o que
Jesus havia anunciado (Mt 14,44-45): expulso, ele volta para a casa
“desocupada, varrida e arrumada”, mas indefesa, com sete espíritos
piores do que ele, “e a condição final torna-se pior do que antes”,
exatamente o que está a acontecer.
Hoje, não é só a fumaça de Satanás,
penetrando por uma fenda oculta, mas o diabo, de corpo inteiro, que
irrompe triunfalmente pelas portas centrais. Quem o vai exconjurar das
nossas igrejas, das nossas residências episcopais e paroquiais, dos
nossos centros comunitários, dos nossos seminários e universidades, dos
Senados e das Câmaras Legislativas, dos Palácios do Governo e da
Justiça, dos bancos e das bolsas, dos meios de comunicação, das escolas e
hospitais, das consciências de todos nós?
E, não hesitemos: quem vai expulsar os
demônios dos Palácios Pontifícios, das Congregações e Secretarias, das
Nunciaturas, das Conferências Episcopais e Cúrias, dos Santuários e
Basílicas, das ONU e dos Parlamentos, sem falar desse mundo “posto
maligno”, que viceja “sob o sol de Satã”?
Nós precisamos, urgentemente, de exorcismo!
Dom Manoel Pestana, Prefácio do livro “Um Exorcista Conta-nos” do Pe. Gabriele Amorth
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