Geraldo Antonio Baptista (à direita), o Rás Geraldinho Rastafari, 53, está preso em Americana (SP)
A Justiça de Americana condenou a 14 anos, dois meses e 20 dias de 
prisão, em decisão proferida nessa segunda-feira (13), Geraldo Antonio 
Baptista, o Rás Geraldinho Rastafári, 53, líder da Primeira Igreja 
Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil, conhecida como "igreja da 
maconha".
Ele foi condenado por tráfico de drogas, com pena ampliada por 
participação de menor, além de associação para o tráfico. A defesa 
afirmou que vai apelar. A decisão prevê ainda que o réu recorra sem 
poder sair da cadeia e pague 2.132 dias multa, o que hoje equivaleria a 
R$ 48,1 mil.
A decisão deve ser publicada nos próximos dias. Geraldinho foi preso em
 flagrante, em 15 de agosto de 2012, quando foram encontrados 37 pés de 
maconha em sua casa. Na ocasião, dois jovens de 18 anos foram presos, e 
um adolescente, apreendido. Ele afirmou que a planta é cultivada para 
uso religioso, o que é permitido pela legislação brasileira, e consumida
 apenas em ocasiões de culto, mas foi enquadrado por tráfico.
A alegação, no entanto, não foi acolhida pelo juiz Eugênio Augusto 
Clementi Júnior, que julgou o caso. Para o magistrado, há "farta prova 
produzida no processo que desmente a alegação da defesa de que o consumo
 da maconha era feito de forma ritual".
"Ainda que, com extrema boa-vontade, se pretendesse atribuir ao direito
 ao livre exercício do culto religioso a propriedade de agir como 
excludente de antijuridicidade, no caso específico do réu isso não é 
possível, porquanto a prova dos autos demonstra que o réu fornecia 
maconha a terceiros fora da realização dos cultos de sua 'igreja'".
Em igreja, maconha vira erva sagrada e entra até na Bíblia.
O juiz defendeu ainda que, mesmo que fosse o caso, a legislação 
brasileira exigiria uma condenação. "A liberdade de culto religioso só 
pode ser invocada se e somente a prática ritualística não entre em 
conflito com a lei penal do país", disse o magistrado. "Se alguém quiser
 sacrificar virgens, como faziam os astecas, a lei brasileira não irá 
permitir. É o mesmo caso", disse.
Outro lado
Marlene Martim, mulher de Geraldinho e comandante da igreja no período 
em que ele está preso, afirmou que a reação entre adeptos e familiares 
foi de choque. "Não imaginávamos que o juiz seria tão cruel na sentença,
 sem levar em consideração a questão religiosa", afirmou.
Ela disse ainda que há uma mobilização nas redes sociais em defesa do 
líder religioso. "Sábado nós iremos realizar uma marcha em Campinas."
 Recurso
O advogado de Geraldinho Rastafári, Alexandre Curi Miguel, afirmou que 
ainda não havia lido a sentença - que tem mais de 40 páginas - na 
íntegra, porém adiantou que a defesa irá apelar da decisão.
"A Justiça de Americana já deu a opinião dela: não existe liberdade 
religiosa. Agora, nós iremos recorrer ao TJ (Tribunal de Justiça) para 
que a decisão seja apreciada por uma Câmara, composta por cinco 
desembargadores", disse.
Miguel afirmou que a defesa irá brigar pela liberdade religiosa e 
defender que a condenação de primeira instância foi "preconceituosa".
"A sentença foi promulgada no dia da Abolição da Escravatura. Está 
claro para a gente a opinião do juiz", observou. "O TJ vai analisar se é
 uma igreja que está sendo apreciada ou um traficante disfarçado de 
líder religioso."
O advogado disse ainda que irá lutar para que Geraldinho aguarde o 
julgamento do recurso em liberdade - o líder religioso ficou preso 
durante toda a apreciação da ação na Justiça local.
A defesa do Ras já impetrou dois habeas corpus no TJ, ambos com 
provimento negado, e um habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de 
Justiça), que teve o pedido de liminar negado, e aguarda o julgamento do
 mérito.
Maconha
 queima neurônio? PARCIALMENTE VERDADE: estudos comprovam que fumar 
maconha antes dos 15 anos de idade diminui o QI, mas essas mesmas 
pesquisas mostram que, após os 20 anos, a maconha não traz problemas 
cognitivos. "Essa diferença tem a ver com a maturação do cérebro, porque
 na adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre os 15 e 
os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar qual o 
impacto. Ainda assim, consideramos uma idade de risco", explica Thiago 
Marques Fidalgo, psiquiatra do Hospital A.C.Camargo
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