sábado, 18 de janeiro de 2014

Bento XVI destituiu em dois anos cerca de 400 padres por abusos de menores


17 Jan 2014


Bento XVI destituiu em dois anos cerca de 400 padres por abusos de menores

A agência norte americana de notícias APTN afirma possuir documentos que provam que, entre 2011 e 2012, o Papa Bento XVI expulsou quase 400 sacerdotes por terem molestado crianças. Antes desse período o Vaticano havia revelado que, entre 2008 e 2009, 170 padres tinham sido afastados por abusos sexuais de menores.

Quinta-feira a Santa Sé respondeu perante um painel da ONU em Genebra sobre as medidas que estava tomar contra os padres acusados.

O documento revelado pela APTN foi preparado a partir de dados estatísticos que o Vaticano tem estado a recolher e a tratar para responder perante o comité da ONU para os Direitos Humanos.

Os números hoje revelados pela APTN não foram referidos pelo arcebispo Silvano Tomasi, o Embaixador do Vaticano junto da ONU em Genebra, ao longo de oito horas em que foi interrogado e em que ouviu críticas à ação do Vaticano por parte dos membros do Comité da ONU.

Evolução assinalável

As estatísticas agora divulgadas foram compiladas a partir dos relatórios anuais do Vaticano sobre as atividades dos seus dicastérios. São documentos públicos mas que só se encontram habitualmente nos gabinetes do Vaticano ou em universidades católicas.Entre os dicastérios incluídos nos relatórios encontra-se a Congregação para a Doutrina da Fé, que lida com os casos de abusos sexuais de menores há apenas 12 anos.

De acordo com a APTN, a análise dos relatórios revela desde 2001 uma assinalável evolução dos procedimentos internos da Santa Sé para disciplinar padres pedófilos.

Foi nesse ano que o cardeal Ratzinger, responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, chamou a si todas as acusações credíveis de abusos para revisão.

Até então, os casos eram tratados pelas Igrejas nacionais mas Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, resolveu agir quando percebeu que, em vez de seguirem a lei canónica, que obriga ao julgamento dos acusados em tribunais eclesiásticos, ou de denunciarem os casos à polícia, os bispos mudavam os padres problemáticos de paróquia para paróquia.

Os sacerdotes que chegavam a ser julgados eclesiasticamente podiam ainda recorrer das decisões, arrastando processos durante anos até estes chegarem eventualmente ao Vaticano para apreciação. Nesse período não eram afastados e prosseguiam as práticas de abusos, até porque muitos dos seus superiores recusavam aceitar a veracidade das acusações.

Na época Ratzinger afirmou-se "chocado" com o volume de acusações que recebeu, mais de 3.000 denúncias vindas de todo o mundo, reconhecendo ter ficado perturbado com o que referiu ser o "lixo da Igreja."

Pena máxima: destituição

Durante séculos, o problema dos abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes ou de responsáveis ligados a instituições católicas foi tratado internamente pelas Igrejas nacionais.O Vaticano tem sido nos últimos anos acusado de colocar a lei canónica e os interesses eclesiásticos à frente das leis nacionais, procurando ainda acordos de silêncio com as vítimas.

Ainda perante o comité da ONU em Genebra, esta quinta-feira, o arcebispo Tomasi referiu que a punição penal dos sacerdotes culpados obedece às leis sobre pedofilia do país onde se cometeram os crimes, isentando o Vaticano de responsabilidades sob esse aspecto.

A pena máxima prevista na lei canónica para um sacerdote acusado de abusos sexuais é essencialmente a destituição e o afastamento da prática eclesiástica. Não há detenções nem estão previstas medidas de detenção, por exemplo, que evitem que o pedófilo volte a molestar crianças, sendo o sacerdote julgado de um ponto de vista puramente eclesiástico.

Uma das alterações à lei canónica impostas por Bento XVI visou precisamente levar os bispos a comunicar às autoridades nacionais os casos de abusos sexuais de menores identificados nas suas dioceses e a identidade dos padres acusados.

Em fevereiro de 2013 Bento XVI anunciou a renúncia, ao fim de apenas oito anos de pontificado, numa medida praticamente inédita na história da Igreja de Roma. O agora Papa emérito afirmou então sentir-se "sem forças" para responder às necessidades de liderança da Igreja Católica Romana.

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