As organizações que atacam a Igreja por causa do crime da pedofilia são as organizações que defendem a chamada (des)educação sexual
Os jornais publicam pomposamente: "ONU cobra explicações do Vaticano
sobre casos de pedofilia". A acusação é a mesma de sempre. Segundo a
investigadora que integra o Comitê de Direitos da Criança da Organização
das Nações Unidas (ONU), a Santa Sé estaria dificultando os trabalhos
de investigação, pondo o interesse do clero acima do das vítimas. A
declaração foi feita durante a sabatina com um representante da Igreja,
monsenhor Silvano Tomasi, na quinta-feira passada (16), em Genebra, na
Suíça. Do lado de fora, em frente ao quartel-general do Alto
Comissariado de Direitos Humanos da ONU, onde acontecia o encontro, um
senhor empunhava um cartaz em tom de protesto: "Vaticano protege
pedófilos".
As manchetes não surpreendem. Desde que a chaga da pedofilia se
insurgiu dentro da Igreja, a mídia tem feito do caso o seu cavalo de
batalha predileto. A técnica é a mesma usada em épocas passadas, quando
da criação da imprensa01.
Trata-se de desacreditar a moral cristã através de uma campanha
ostensiva de calúnias, em que se publica qualquer assunto referente a um
escândalo ou corrupção eclesiásticos, ao mesmo tempo em que se faz
silêncio mórbido quanto aos esclarecimentos e à verdade dos fatos. A
regra é uma só: acusação em letras garrafais; resposta da Igreja em
notas de rodapé. Não importa tanto a veracidade da notícia, tampouco a
reputação e o interesse dos envolvidos. Desde que isso contribua para o
achincalhamento público da fé católica, vale tudo. Foi assim que se
criou a lenda negra da Inquisição Espanhola02, a ideia segundo a qual a Igreja seria contra a ciência, o mito sobre Galileu Galilei03, a mentira sobre a relação de Pio XII com o nazismo04 e outras estultices repetidas ad nauseam por professores universitários e outros desavisados que creem cegamente em tudo o que sai nos jornais.
É claro que não se está a negar os crimes de pedofilia e
outros tantos erros cometidos por maus cristãos nestes dois mil anos de
história. De fato, a sucessão de Judas Iscariotes ainda vigora
entre as fileiras dos discípulos de Cristo. Os escândalos são
inevitáveis -- diz o evangelista --, "mas ai do homem que os causa" (Cf.
Mt 18, 7). Os casos de abuso de menores por padres, sem sombra de
dúvida, "causaram grande sofrimento e prejudicaram o testemunho da
Igreja"05.
"Estes agravos" -- advertiu Bento XVI, durante a Jornada Mundial da
Juventude de Sidney -- "que constituem tão grave traição da confiança,
devem ser condenados de modo inequívoco."06 Exatamente por isso que o Vaticano mantém uma página em seu site chamada "Abuso de menores: a resposta da Igreja",
na qual se encontra um calhamaço de documentos e informações acerca do
que a Santa Sé tem feito para combater esse crime hediondo07.
Ainda esta semana, o respeitado site italiano VaticanInsider informava
que, sob as ordens do então Papa Bento XVI, mais de 400 clérigos
envolvidos em escândalos sexuais haviam sido removidos de suas funções
entre os anos de 2008 e 201208.
A Igreja Católica sabe muito bem que não se pode "servir a dois
senhores" (Cf. Mt 6, 24). É preciso dizer "sim" ao que "sim" e "não" ao
que é "não" (Cf. Mt 5, 37). Todavia, há-de se concordar que "se
não se é permitido calar-se diante do mal na Igreja, tampouco se deve
silenciar o rastro luminoso de bondade e pureza que a fé cristã traçou
no decurso dos séculos."09
Não se julga a história da arquitetura pelos prédios que caíram. A
Igreja Católica, a bem da verdade, é o berço de todo o patrimônio
cultural e moral do Ocidente110.
Deve-se a ela a ideia de direitos humanos, a noção de caridade, o
desenvolvimento da ciência moderna, a construção das universidades, a
grandiosidade da arquitetura de Bernini e a beleza da pintura de
Michelangelo. Negar esses fatos equivale a amputar a própria identidade.
Os franciscanos estavam socorrendo os mendigos enquanto as guilhotinas
de Robispierre ceifavam vidas. Retire a Igreja Católica do mundo e o que
nos resta é a violência da Revolução Francesa. Não nos custa lembrar a
acertada repreensão de Santo Agostinho àqueles tantos filósofos e
políticos que criticavam a presença cristã entre a sociedade11:
"Os que dizem que a doutrina de Cristo é contrária ao bem do Estado dêem-nos um exército de soldados tais como os faz a doutrina de Cristo, dêem-nos tais governadores de províncias, tais maridos, tais esposas, tais pais, tais filhos, tais mestres, tais servos, tais reis, tais juízes, tais contribuintes, enfim, e agentes do fisco tais como os quer a doutrina cristã! E então ousem ainda dizer que ela é contrária ao Estado! Muito antes, porém, não hesitem em confessar que ela é uma grande salvaguarda para o Estado quando é seguida"
O crime de pedofilia dentro da Igreja, por conseguinte, não é mais ou
menos pior do que o que acontece lá fora, no mundo laico. Ambos padecem
da mesma gravidade. Ademais, como demonstrou o respeitado sociólogo
italiano Massimo Introvigne, o número de sacerdotes envolvidos em abusos de menores é baixíssimo se comparado com o de outras comunidades12.
A título de exemplo, vejam-se estes dois casos: na Itália, entre um
período de várias décadas, o número de sacerdotes denunciados e
condenados pelo crime de pedofilia foi de apenas cem, ao passo que seis
mil professores de Educação Física receberam a mesma condenação. A
Alemanha, por sua vez, amargou 210 mil denúncias de abusos, desde 1995,
sendo que deste número, apenas 300 eram relacionados ao clero, o que
equivale a menos de 0,2%.
Certamente, isso não nos dá conforto. Seria absurdo pensar que a
pedofilia dentro da Igreja pudesse ser justificada pelo que ocorre no
meio secular. Ora, a Igreja é mais uma das vítimas! Mas
é curioso perceber o interesse da imprensa pelo que ela chama de
"pedofilia epidêmica" do clero; enquanto ela silencia sobre outros casos
comprovadamente maiores em termos estatísticos. Isso nos leva a
suspeitar de nossos interlocutores, sobretudo quando estes mesmos
indivíduos, que julgam-se os paladinos dos direitos das crianças, não
têm o mínimo pudor de expô-las a programas "infantis" apresentados por
moças em trajes de banho ou de se omitir durante anos a fio diante da
pedofilia de suas estrelas13. Ainda mais, a própria ONU, com suas cartilhas de (des)educação sexual14
-- na qual se ensina impunemente a masturbação e o sexo pré-matrimonial
como saudáveis -- carece de credibilidade para acusar a Igreja de pouca
transparência. E os escândalos de "exploração sexual infantil" no
Congo, em 2006, envolvendo os soldados da missão de paz da organização,
não nos deixam mentir15.
A ONU pede explicações à Igreja, mas quem vai pedir explicações à ONU?
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Sobre esse assunto, recomenda-se que se assista à segunda aula do Curso de História da Igreja. Para que a Revolução Francesa fosse levada a cabo, era necessário destruir o ancien régime, no qual se incluía a Igreja Católica como uma das pilastras mais importantes. Por isso, baseados nas técnicas desenvolvidas por Friedrich Nicolai nas chamadas feiras de livros, os intelectuais iluministas engendraram uma campanha de difamação da Igreja, que ainda hoje faz-se sentir os seus efeitos sobre a mentalidade social
- Documentário: O Mito da Inquisição Espanhola. Via YouTube
- WOODS JÚNIOR, Thomas E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008, 249 p.
- Padre Paulo Ricardo, A difamação contra Pio XII, Parresia n. 49
- Bento XVI, Homilia do Santo Padre na Celebração Eucarística com os Bispos, Seminaristas, Noviços e Noviças, por ocasião da XXIII Jornada Mundial da Juventude (19 de Julho de 2008)
- Ibidem
- Abuso de menores: a resposta da Igreja
- Pope Benedict defrocked 384 priests for abuse of minors in last two years. Via VaticanInsider
- Fé e razão: Bento XVI responde a um cientista ateu. Via Fratres in unum
- WOODS JÚNIOR, Thomas E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008, 249 p.
- Leão XIII, Carta Enc. Immortale Dei (1º de novembro de 1885), n. 27
- Carlos Alberto de Franco. Igreja, uma megacobertura. Via Estadão
- Vítimas de apresentador dizem que quadrilha pedófila agiu em TV inglesa. Via G1
- Jornada Mundial da Juventude e a mídia abortista
- Escândalo sexual no Congo envolve tropas da ONU. Via BBC Brasil
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