Imagine Maria Santíssima, Mãe das mães, ao tomar conhecimento de que
seu Filho se encontrava prestes a partir para a vida pública. Ela que já
experimentara a perda de seu Filho em Jerusalém, sabia bem o quanto lhe
custara aquele distanciamento, pois caro Christi est caro Mariae(a carne de Cristo é a carne de Maria). Agora o seu divino Filho vai se ausentar para não mais voltar à casa de Sua Mãe.
Jesus havia completado 30 anos, e, nos desígnios de Deus Pai, chegara
o momento de semear a boa semente da palavra, pois Seu reino não se
circunscrevia à casa de Nazaré. José já havia falecido. O que poderia
passar naquele coração de Mãe a falta do Filho que partia para o campo
de batalha do apostolado e que terminaria a sua vida terrena pendurado
numa Cruz?
Figuremos a solidão de Maria vendo-O partir e acompanhando-O com os
olhos até que desaparecesse. Ela ficou só, pois havia chegado a hora.
Jesus tomou a direção do rio Jordão a fim de se encontrar com João
Batista. Quando O viu, João, maravilhado, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”.
Jesus pede o batismo, e João Batista reluta em concedê-lo. Argumenta
que deveria ser ele batizado por Jesus, e não o contrário. Mas o Divino
Mestre insiste, pois fazia a vontade do Pai. Enquanto isto, Maria
passava rezando pelo Filho. Silenciosa e pensativa, sabia que Jesus não
lhe pertencia, pois deveria redimir o gênero humano. Ela acompanhava com
o coração tudo o que o seu filho fazia e por onde ia.
Poucas semanas depois de estar só, Maria foi convidada para uma festa de casamento em Caná [pintura acima],
pequena cidade da Galileia, distante a duas horas de viagem de Nazaré.
Os noivos eram íntimos amigos de Maria e teriam manifestado grande
alegria pela sua presença. Ademais, encontrariam n’Ela grande apoio para
o casamento, e não queriam dar passo tão decisivo na vida sem sua
presença.
A festa já se desenrolava quando aparece seu Filho rodeado dos
discípulos, maravilhados com tudo quanto Ele dizia. Jesus sabia que Sua
Mãe se achava ali, e trouxe os discípulos para conhecê-La, a fim de
mostrar-lhes o papel de Maria no Reino de Deus, e Ele, qual prófugo,
iniciava a pregação.
A ocasião era mais do que propícia. De Maria Ele nascera e durante 30
anos lhe foi submisso. Com o consentimento d’Ela, Jesus daria ali o
início a uma série de milagres na ordem da natureza, pois o primeiro
milagre na ordem da graça se dera por ocasião da visita de Nossa Senhora
à sua prima Santa Isabel ao santificar São João Batista ainda no ventre
materno.
Cheia de graça e de virtudes, Maria não ficou indiferente diante de
um fato que poderia passar despercebido a muitos, mas muito
constrangedor aos anfitriões: a falta de vinho naquela festa nupcial.
Ela sabia que seu Filho poderia resolver aquela questão, que parecia sem
solução.
Maria, que ainda não havia presenciado milagre de Jesus, com bondade
de mãe dirigiu-se a Ele, e tomando-O pelas mãos sussurrou-Lhe aos
ouvidos: “Eles não têm mais vinho”. Cena simples e encantadora. O Filho, que nada lhe nega, olha para Ela e diz: “Mulher, que há entre Mim e Ti? Minha hora ainda não chegou”.
Palavras misteriosas, pois somente Maria conhece o Filho que tem. Só
Ela consegue penetrar e sentir as palpitações do Seu coração. Portanto,
aquelas palavras tiveram altíssimo significado. Ao chamá-La de mulher,
ressaltava o sexo feminino. Ao chamá-La de mulher, fazia-nos voltar aos
primórdios da humanidade, quando o livro Gêneses trata d’Aquela mulher
ilustre, nobre, excelente e destemida que esmaga a cabeça da serpente.
Faz-nos lembrar da mulher forte do Livro da Sabedoria que com todo
zelo ornou a sua casa e nada lhe faltou. É a mulher forte, intrépida e
corajosa do Apocalipse. É a mulher que São João Evangelista relata
encontrar-se no Calvário aos pés da Cruz em companhia das Santas
Mulheres, e que Jesus, voltando-se para Ela, disse: “Mulher, eis aí teu filho”, e voltando-se para João: “Eis aí a tua Mãe”.
Não há Jesus sem Maria, nem Maria sem Jesus. O Jesus que adoramos e
seguimos é o mesmo Jesus que sempre obedeceu, seguiu, respeitou e amou
Maria. Quem rejeita Maria, rejeita Jesus. Quando Jesus afirma: “Minha hora não chegou”, Maria sabia que para Ela toda hora é hora, ou seja, que Seu Filho não deixaria de atendê-La.
Prontamente foi dizer aos servos para fazer tudo que Ele lhes
ordenasse. Com efeito, Jesus quis ressaltar que o papel de Maria é
misterioso e eficiente. O Filho belo, cativante, elevado, nobre,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem não poderia deixar de operar o
milagre, mesmo que a hora do Pai ainda não tivesse soado.
A mãe tem um poder de intercessão inigualável junto ao filho. Assim
procedendo, Maria contribuía para revelar o seu Filho ao mundo e
cooperar na elevação dos homens a Deus. De fato, Jesus atendeu ao pedido
d’Ela ao transformar a água em delicioso vinho. Este foi Seu primeiro
milagre e seus discípulos creram n’Ele.
Tal prodígio compete a Deus, que é o Senhor dos elementos da
natureza. E Ele fez isto para iluminar a nossa inteligência e esta
receber a virtude da Fé, com a qual vamos acatar os Seus ensinamentos e a
Sua vida. O milagre não é contra a natureza, mas está acima dela. Não
apresenta explicação natural; o que o explica é o poder de Deus para
confirmar o que ensina. Seu objetivo é conduzir os homens à verdadeira
doutrina contida na religião instituída por Ele.
Eis o papel de Nossa Senhora por ocasião do primeiro milagre de Jesus
Cristo, aliás, feito com antecipação para atender ao pedido d’Ela. Quem
rompe com Nossa Senhora rompe com Nosso Senhor Jesus Cristo, a segunda
pessoa da Santíssima Trindade. Quem não tem Maria por mãe não tem Deus
por Pai.
_______________
Pe. David Francisquini é sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário