IHU - Nas igrejas de Bruxelas, na Bélgica, a revista diocesana Dimanche
grita em toda a primeira página: "A radiotelevisão belga é
anticatólica?". Ela fala de certos noticiários que apresentaram como um
fracasso parcial as recentes marchas contra a lei sobre a eutanásia.
"Mostraram praças vazias – é o protesto – mas ainda faltava meia hora
para o início do encontro...".
A reportagem é de Luigi Offeddu, publicada no caderno La Lettura, do jornal Corriere della Sera, 30-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A mesma pergunta, sob outra forma, foi levantada nos últimos anos a propósito da universidade flamenga de Louvain,
fundada em 1425, com 41.255 alunos matriculados no ano acadêmico de
2012-2013, dos quais 22.364 são mulheres, um dos mais importantes
centros de pesquisa científica mundial e a mais antiga universidade
católica do mundo: "Mas ela ainda é católica?", perguntavam os
conservadores de Bruxelas e principalmente de Roma na era de Joseph Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (e perguntam ainda hoje).
Acusavam e acusam a universidade de abordar "secularmente" demais
temas como os casamentos homossexuais, a fertilização in vitro, o
aborto, a eutanásia. E também de aceitar, no seu grande hospital, que é o
terceiro da Europa, pessoas que pedem a "doce morte" ou progenitores gays que sonham com um filho de proveta.
De sua parte, o Vaticano sempre tentou evitar "desvios", mantendo o controle sobre todas as universidades católicas. As relações entre Roma e Louvain beiraram várias vezes a ruptura.
E, além disso, pelas mesmas razões, a Universidade Católica de Tilburg, na Holanda, mudou de nome várias vezes e hoje se chama Universidade de Tilburg. O mesmo aconteceu em 2004 na Universidade Católica de Nijmegen, também na Holanda.
Mas Louvain é outro caso, o mais sério de todos. Ele tomou um rumo diferente: com Rik Torfs
(foto), professor de direito canônico e reitor eleito há quase um ano,
conhecido liberal que sempre proclamou a sua fidelidade à Igreja
Católica. Ainda antes da sua eleição, a tempestade durava há muito
tempo. Por exemplo, um dia, apareceu no site da universidade – e não
havia sido apagado imediatamente – um anúncio que pedia doadores de
esperma para uma tentativa de reprodução heteróloga (isto é, com um
"pai" escolhido fora do casal unido pelo vínculo matrimonial): uma
iniciativa não exatamente nas pegadas do ensino tradicional da Igreja.
Assim, nos últimos meses, alguns profetizavam o que já aconteceu
outras vezes, com outras instituições católicas: convocação dos
dirigentes ao Vaticano, "correção fraterna" com o pedido de entrar nos
eixos, subsequente e discreta saída de cena dos supostos responsáveis.
Torfs, no entanto, tomou o caminho oposto: "No passado, fui muito crítico à Igreja. À época, éramos convocados a Roma
apenas quando havia problemas. Mas hoje nós é que fomos lá: porque
queremos isso, e porque essa é a nossa Igreja, que faz parte da nossa
tradição".
Talvez, digam alguns agora, o reitor só antecipou a convocação,
deteve o golpe que estava a caminho. Mas a novidade parece ter tido um
efeito, e não negativo, até mesmo sobre a Cúria Romana.
Acompanhado pelo arcebispo de Bruxelas e pelo de Antuérpia, há algumas semanas, Torfs foi ao Vaticano e ficou lá três dias. Oficialmente, encontrou-se com os membros da Congregação para a Educação Católica. Segundo outros boatos não confirmados, talvez viu também o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, isto é, o guardião da disciplina moral e doutrinal.
Mas, em todo o caso, e mesmo sem entrar obviamente nos detalhes
cobertos pela reserva, como foi? "Eu diria que muito bem", responde o
reitor. "Voltamos com o sentimento de um diálogo iniciado e da esperança
de algo totalmente novo. Foram encontros muito positivos. Antigamente, o
conceito era de que nós diríamos isto ou aquilo se o Vaticano
nos dissesse para fazer isso. Agora, começamos e seguimos em frente
sozinhos: e tudo isso no rastro da tradição católica, que não renegamos
em nada e da qual estamos orgulhosos. Mas a nossa universidade não é de
propriedade da Igreja. E nós, como já repetimos, mantemos a nossa
liberdade acadêmica. Ou, melhor, pareceu-me que, mesmo na Cúria Romana, há uma crescente consciência de que a universidade católica só pode existir se tiver a sua autonomia."
Em Roma, vocês falaram de tudo, até mesmo dos temas mais polêmicos? "Sim. Eles nos ouviram, nós ouvimos." Você acha que a figura do Papa Francisco
também tem um papel em tudo isso? "Certamente sim. E, quando estamos no
Vaticano, percebe-se claramente que alguns não aceitam seguir esse
caminho. E que, em relação ao novo papa, há muita crítica... Mas sim,
sem dúvida, ele tem um grande papel no novo espírito de colaboração que
nós também respiramos."
O porquê de tudo isso ser importante para Louvain também é explicado por um professor italiano de direito canônico da instituição, Marco Ventura, colaborador do Corriere della Sera e do caderno La Lettura: "A liberdade de pesquisa e de ensino é justamente o que permitiu que Louvain fosse a universidade católica europeia com o mais alto ranking do mundo (61ª, segundo a classificação da revista Times).
E, ao mesmo tempo, permitiu que os nossos estudantes de teologia e de
direito canônico encontrassem um ambiente para se formar que não cria um
universo paralelo, mas está solidamente ancorado na realidade e nos
verdadeiros desafios para os fiéis em escala mundial."
O que agravou muitos problemas, explica ainda Ventura, foi também um marco nacional muito particular, com três problemas de fundo: "A crise do enraizamento religioso na Bélgica. A crise da relação com Roma.
E o escândalo da pedofilia em um país onde o Estado ainda financia o
clero, mas não protegeu os pedófilos como aconteceu outros lugares."
Depois, eis o Papa Francisco e a ida de Torfs a Roma: tudo recomposto, portanto; em três dias, vocês curaram as divisões de anos? Nisso, a Bélgica, que antigamente foi o país mais católico da Europa e hoje é o mais secularizado, apenas algumas semanas atrás, o rei Filipe assinou a primeira lei do mundo que estende a eutanásia também para as crianças. E fez isso a partir daquele trono onde, uma vez, se sentou o seu antecessor Balduíno, que, para não assinar a lei do aborto, aceitou – ou, melhor, ele mesmo pediu – ser exonerado por um dia dos seus poderes.
Hoje, no hospital da Universidade Católica de Louvain, alguns pacientes pedem a eutanásia e são atendidos: quantos são? "De 12 a 15 por ano", responde Torfs. Como vocês explicaram ou justificaram isso no Vaticano? "Eu imagino que, no Vaticano, não estão felizes com os casos de eutanásia. Mas a Bélgica é um país plural. Essa última lei também foi aprovada pelo Parlamento."
"Pessoalmente – acrescenta o reitor – eu nunca defendi a eutanásia.
Além disso, eu acho que as crianças nunca deveriam ser submetidas a ela.
Sobre isso, não deveria haver nenhuma discussão. Mas, em Louvain, também não somos ativistas do movimento antieutanásia. Existe uma distinção entre lei e ética. No Vaticano, portanto, explicamos que, naturalmente, em Louvain,
cada médico segue a sua consciência. Temos casos de eutanásia, sim. Mas
muitos dos nossos médicos desafiam a lei, por exemplo, que diz respeito
aos menores. Eles pensam que é negativo aplicá-la às crianças. E também
vimos que, se você falar com os pacientes que pedem a morte, 90% deles
não estão convencidos. Alguns mantêm a sua intenção, mas são uma pequena
minoria. Podemos enviá-los para outros hospitais, mas também pensamos
que, se nós fizermos o que eles pedem, talvez, no fim, seja menos
negativo."
Vocês vão voltar ao Vaticano? "Certamente, vamos manter contatos estreitos, faremos visitas regulares, também temos alguns projetos em conjunto com a Congregação para a Educação."
E a Universidade de Louvain vai manter a sua qualificação de "católica"? "Certamente. E, mais uma vez: estamos orgulhosos disso."
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