25 agosto 2014
Por que é tão difícil aceitar que Deus nos ama incondicionalmente?
A vida nem sempre vai sorrir para nós. Às vezes, a tempestade e o
vento parecem ser um obstáculo no caminho e colocam em perigo a
estabilidade dos nossos alicerces: “A barca, porém, já longe da terra,
era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (Mt 14, 24).
Nesses momentos, como os discípulos, temos medo e nos assusta a
possibilidade de perder a vida. Esquecemos que, em meio à escuridão,
Jesus está ao nosso lado, caminhando sobre as águas, disposto a acalmar
nossa ansiedade: “Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os
discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram,
andando sobre o mar, ficaram apavorados e disseram: ‘É um fantasma’. E
gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não
tenhais medo!”.
As palavras de Jesus nos tranquilizam, nos fazem ter esperança,
levantam nosso ânimo. Tiram de nós esse medo doentio que muitas vezes
nos paralisa. Não queremos ter medo, mesmo sabendo ser este um
sentimento frequente no coração. Nossa vida é muito frágil, e uma
decisão precipitada pode mudar tudo. Um acontecimento inesperado, um
diagnóstico com o qual não contávamos.
Uma pessoa me comentou, há alguns dias: “Tenho certeza de queDeus faz
tudo para o nosso bem e permite este sofrimento para santificar o meu
pai. Para que outra coisa estamos aqui, a não ser para aspirar à vida
eterna? Confio em que Deus nos permitirá continuar vivendo estes momentos com confiança em seu amorinfinito”.
Viver assim na turbulência das ondas, na instabilidade do barco da
vida, que parece a ponto de naufragar às vezes, é um autêntico milagre,
um dom de Deus, uma obra feita pelo Espírito Santo em nós.
Mas a verdade é que nem sempre vivemos com a certeza de saber que é
Cristo quem caminha ao nosso lado, e então surgem as dúvidas: “Então
Pedro lhe disse: ‘Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro,
caminhando sobre a água’”. Pedro quer uma prova racional, porque duvida,
ou melhor, quer um milagre, algo extraordinário que aumente sua fé. Não
se conforma com a voz de Cristo, não acredita que realmente seja Ele,
pensa ser um fantasma, ou talvez um fruto da sua imaginação temerosa.
Há muitas pessoas que veem sua vida de fé enfraquecer-se sem poder
fazer nada. Não confiam e não sabem se abandonar; duvidam, não enxergam Deus e
querem controlar tudo. O Pe. Kentenich nos recorda: “Vivemos em uma era
de enfraquecimento da fé e da vida de fé. Especialmente em épocas como
esta, existem muitas pessoas que, para converter-se, esperam milagres,
sinais extraordinários, visíveis, palpáveis”.
A fé enfraquecida busca sinais que nos confirmem se estamos no
caminho certo. Busca fatos extraordinários. Mas o coração quer se
encontrar com Deus, quer caminhar com Ele. A fé quer
ser construída sobre sinais inquestionáveis, sinais surpreendentes que
convençam. No entanto, quando estes acontecem, não é tão fácil aceitar a
gratuidade do amor de Deus, aceitar que Ele se manifesta milagrosamente em nossa vida.
Depender de Deus dessa forma, experimentar um
milagre em nós, parece excessivo. É como se já não pudéssemos ser donos
da nossa vida; como se nos tirassem o controle sobre a dor e sobre a
morte. Diante desse amor gratuito e inesperado de Deus, surge o desconcerto e nos sentimos perdidos.
Por isso, é tão necessário aprender a agradecer na vida, na oração.
Esta é nossa aprendizagem mais importante, a rocha mais sólida. É
difícil receber as coisas sem ter pago por elas antes, sem que sejam
fruto do nosso esforço. É difícil não controlar a vida e ver que tudo é
um dom, um milagre que não exigimos, que nada do que nos acontece é
merecido.
É difícil agradecer pelas coisas que recebemos diariamente como
presente. João Paulo II recordou a necessidade de “ser capazes de
agradecer com a mesma devoção com que sabemos pedir. A gratidão sempre
nos coloca de uma maneira particular diante da Pessoa”. A gratuidade do amor de Deus nos deixa indefesos.
Não merecemos o amor e sentimos que não temos como
pagá-lo. Por isso, perdemos a vida buscando méritos para devolver o
recebido. Pedro não se contentou com o consolo do Senhor sobre as águas,
com a segurança de ver seus passos firmes no meio das águas agitadas.
Por isso, exigiu poder caminhar, também ele, sobre as águas. Por isso,
pediu o milagre do impossível, rebelou-se diante da gratuidade.
Também nós nos sentimos indignos e queremos fazer alguma coisa, quando descobrimos que Deus nos cumulou com um amor que não é correspondido pela nossa entrega…
Fonte: Aleteia
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