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Por Patrícia Azevedo
Repórter Dom Total
No entanto, médicos afirmam que benefícios do medicamento superam malefícios.
Pílulas trazem 3 a 4 vezes mais chance de desenvolver trombose.
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Intensa dor, inchaço e mudança na coloração das pernas levaram a
estudante Luciana Csizmar, de 21 anos, a procurar ajuda médica. “Algo
estava errado”, conta. Ela não esperava, no entanto, o diagnóstico que
veio a seguir: trombose venosa profunda (TVP). Um coágulo havia
obstruído um vaso sanguíneo na região da virilha – causando a dor e o
inchaço. Outro foi localizado na panturrilha direita. “Fiquei muito
surpresa, pois até então nunca tinha ouvido falar sobre caso de trombose
em adolescente e muito menos pelo uso de anticoncepcional”, afirma.
Dois meses antes, Luciana havia começado tratamento com a pílula
Tâmisa 20, prescrita por sua ginecologista para regularizar o ciclo
menstrual e amenizar cólicas. O medicamento é composto pelos hormônios
gestodeno e etinilestradiol. “Gostei da indicação, pois sentia cólicas
muito fortes, por vários dias. Mas a médica não pediu exames e muito
menos alertou sobre algum risco”, ressalta a estudante.
De acordo com a hematologista Suely Meireles Rezende, professora da
Faculdade de Medicina da UFMG, mulheres que utilizam contraceptivos
hormonais têm de 3 a 4 vezes mais chance de desenvolver trombose do que
mulheres que não tomam pílulas. “E os medicamentos que
contêm desogestrel, gestodeno ou drospirenona se associam a maior risco
(cerca de duas vezes) em comparação com as que as que contêm
levonorgestrel”, completa.
Isso acontece porque os hormônios presentes nos anticoncepcionais
podem provocar desequilíbrio das proteínas coagulantes, aumentando as
chances de formação de trombos. O risco é bastante conhecido pela
medicina, por isso a prescrição de anticoncepcionais deve levar em conta
outros fatores que favorecem o desenvolvimento da doença.
Em nota, o Comitê de Hemostasia e Trombose da Associação Brasileira
de Hematologia e Hemoterapia, da qual a professora Suely Meireles faz
parte, aponta alguns dos principais fatores:
“São diversas as situações naturais e patológicas associadas à TVP,
entre elas o simples avançar da idade, sobrepeso e obesidade, tabagismo,
varizes de membros inferiores, imobilização, gestação e puerpério,
sedentarismo, para citar as mais comuns. Algumas doenças também são
claramente relacionadas à maior chance de trombose como dislipidemias,
hipotireoidismo mal controlado, câncer, vasculites, cateteres
intravenosos, infecções”. Nesses casos, o uso de anticoncepcional deve
ser evitado.
Informação
Em 2013, a França chegou a proibir a comercialização do
anticoncepcional Diane 35. A medida foi tomada após o uso de o
medicamento ter sido relacionado a 125 casos e quatro mortes por
trombose venosa desde 1987, ano em que começou a ser vendido na
França. No Brasil, a pílula continuou sendo comercializada, com o aval
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o órgão, a
bula do medicamento já traz alertas referentes ao risco de trombose
arterial ou venosa.
“As informações presentes nas bulas são suficientes. Foi comprovado, a
posteriori, que os benefícios do Diane 35 são superiores aos seus
malefícios. No entanto, a medicação está recomendada somente para o
tratamento de acne moderada a grave”, explica Suely Meireles.
A esteticista Danielle Fortuna, por sua vez, exige atitudes mais
rígidas. Ela teve trombose aos 18 anos – em decorrência do uso de
anticoncepcional – e criou uma petição online para que os médicos passem
a exigir exames em todas as mulheres antes de prescreverem o
medicamento. Em contrapartida, sociedades médicas alertam que os testes
para detectar o risco de trombose são caros e não têm a capacidade de
prever de forma satisfatória o risco de cada paciente.
“Existem vários testes para detecção de trombofilia, mas os mesmos
estão indicados em situações especiais. Não existe indicação de
realização destes testes em mulheres que iniciarão o uso de
anticoncepcionais de forma generalizada. Para tal deve-se levar em conta
a história pessoal e familiar de trombose venosa na família”, confirma
Suely.
Tratamento
Passado o susto, Luciana Csizmar deu início ao longo tratamento a que
são submetidas as vítimas de trombose venosa profunda. Foram cinco dias
no hospital, com injeção de anticoagulante, exame de sangues de seis em
seis horas e repouso absoluto. “Depois que tive alta, continuei o
tratamento em casa com o uso do Marevan. Fazia exames de sangue
alternados (de quinze em quinze dias) e depois mais espaçados, durante
seis meses. Fazia também caminhadas leves para auxiliar a circulação”,
lembra.
Opções
Mesmo com os contratempos citados, a hematologista Suely Meireles
garante que os benefícios do uso de anticoncepcionais ultrapassam o
risco de trombose venosa. “Qualquer medicação tem seus efeitos adversos.
No caso da pílula, o risco absoluto é baixo, ou seja, de um evento
trombótico para cada 1.000 usuárias ao ano. Novamente, mulheres que
possuem história pessoal de trombose devem evitar o uso de pílulas
contendo estrógeno como método anticoncepcional”, alerta a médica.
Para esses casos, são indicadas pílulas à base de progestógenos, DIU,
preservativo, diafragma, dentre outros métodos de barreira.
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