quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Anticoncepcional aumenta risco de trombose

Por Patrícia Azevedo Repórter Dom Total

No entanto, médicos afirmam que benefícios do medicamento superam malefícios.



Pílulas trazem 3 a 4 vezes mais chance de desenvolver trombose.


 Intensa dor, inchaço e mudança na coloração das pernas levaram a estudante Luciana Csizmar, de 21 anos, a procurar ajuda médica. “Algo estava errado”, conta. Ela não esperava, no entanto, o diagnóstico que veio a seguir: trombose venosa profunda (TVP). Um coágulo havia obstruído um vaso sanguíneo na região da virilha – causando a dor e o inchaço. Outro foi localizado na panturrilha direita. “Fiquei muito surpresa, pois até então nunca tinha ouvido falar sobre caso de trombose em adolescente e muito menos pelo uso de anticoncepcional”, afirma.

Dois meses antes, Luciana havia começado tratamento com a pílula Tâmisa 20, prescrita por sua ginecologista para regularizar o ciclo menstrual e amenizar cólicas. O medicamento é composto pelos hormônios gestodeno e etinilestradiol. “Gostei da indicação, pois sentia cólicas muito fortes, por vários dias. Mas a médica não pediu exames e muito menos alertou sobre algum risco”, ressalta a estudante.

De acordo com a hematologista Suely Meireles Rezende, professora da Faculdade de Medicina da UFMG, mulheres que utilizam contraceptivos hormonais têm de 3 a 4 vezes mais chance de desenvolver trombose do que mulheres que não tomam pílulas. “E os medicamentos que contêm desogestrel, gestodeno ou drospirenona se associam a maior risco (cerca de duas vezes) em comparação com as que as que contêm levonorgestrel”, completa.

Isso acontece porque os hormônios presentes nos anticoncepcionais podem provocar desequilíbrio das proteínas coagulantes, aumentando as chances de formação de trombos. O risco é bastante conhecido pela medicina, por isso a prescrição de anticoncepcionais deve levar em conta outros fatores que favorecem o desenvolvimento da doença. 

Em nota, o Comitê de Hemostasia e Trombose da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, da qual a professora Suely Meireles faz parte, aponta alguns dos principais fatores:

“São diversas as situações naturais e patológicas associadas à TVP, entre elas o simples avançar da idade, sobrepeso e obesidade, tabagismo, varizes de membros inferiores, imobilização, gestação e puerpério, sedentarismo, para citar as mais comuns. Algumas doenças também são claramente relacionadas à maior chance de trombose como dislipidemias, hipotireoidismo mal controlado, câncer, vasculites, cateteres intravenosos, infecções”. Nesses casos, o uso de anticoncepcional deve ser evitado.

Informação


Em 2013, a França chegou a proibir a comercialização do anticoncepcional Diane 35. A medida foi tomada após o uso de o medicamento ter sido relacionado a 125 casos e quatro mortes por trombose venosa desde 1987, ano em que começou a ser vendido na França. No Brasil, a pílula continuou sendo comercializada, com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o órgão, a bula do medicamento já traz alertas referentes ao risco de trombose arterial ou venosa.

“As informações presentes nas bulas são suficientes. Foi comprovado, a posteriori, que os benefícios do Diane 35 são superiores aos seus malefícios. No entanto, a medicação está recomendada somente para o tratamento de acne moderada a grave”, explica Suely Meireles.

A esteticista Danielle Fortuna, por sua vez, exige atitudes mais rígidas. Ela teve trombose aos 18 anos – em decorrência do uso de anticoncepcional – e criou uma petição online para que os médicos passem a exigir exames em todas as mulheres antes de prescreverem o medicamento. Em contrapartida, sociedades médicas alertam que os testes para detectar o risco de trombose são caros e não têm a capacidade de prever de forma satisfatória o risco de cada paciente.

“Existem vários testes para detecção de trombofilia, mas os mesmos estão indicados em situações especiais. Não existe indicação de realização destes testes em mulheres que iniciarão o uso de anticoncepcionais de forma generalizada. Para tal deve-se levar em conta a história pessoal e familiar de trombose venosa na família”, confirma Suely.

Tratamento


Passado o susto, Luciana Csizmar deu início ao longo tratamento a que são submetidas as vítimas de trombose venosa profunda. Foram cinco dias no hospital, com injeção de anticoagulante, exame de sangues de seis em seis horas e repouso absoluto. “Depois que tive alta, continuei o tratamento em casa com o uso do Marevan. Fazia exames de sangue alternados (de quinze em quinze dias) e depois mais espaçados, durante seis meses. Fazia também caminhadas leves para auxiliar a circulação”, lembra.

Opções


Mesmo com os contratempos citados, a hematologista Suely Meireles garante que os benefícios do uso de anticoncepcionais ultrapassam o risco de trombose venosa. “Qualquer medicação tem seus efeitos adversos. No caso da pílula, o risco absoluto é baixo, ou seja, de um evento trombótico para cada 1.000 usuárias ao ano. Novamente, mulheres que possuem história pessoal de trombose devem evitar o uso de pílulas contendo estrógeno como método anticoncepcional”, alerta a médica.

Para esses casos, são indicadas pílulas à base de progestógenos, DIU, preservativo, diafragma, dentre outros métodos de barreira.

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