[unisinos]
Começa o tão esperado Sínodo ordinário dos bispos que tem como
tema: A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo. Hoje foi a primeira Congregação Geral, na Sala do Sínodo,
na presença de Francisco, com o discurso introdutório do cardeal Peter Erdo, relator geral do encontro.
Em cima da mesa, o arcebispo de Esztergom-Budapeste
colocou os diferentes temas que concentrarão a atenção dos 270 padres e
dos, aproximadamente, 90 especialistas, observadores e representantes de
outras igrejas cristãs até o próximo dia 25 de outubro. Ou seja, os
temas listados no Instrumentum laboris preparado depois da Relatio Synodi da Assembleia de 2014, fruto também das respostas das Conferências Episcopais do mundo.
Portanto: comunhão aos divorciados novamente casados, preparação dos
jovens casais para o matrimônio, controle de natalidade, assistência às
famílias em crise, discriminação de homossexuais, aborto, eutanásia,
uniões civis. Argumentos polêmicos e questões espinhosas, sobre as quais
a Igreja é convidada a manifestar o seu ponto de vista. E a fazê-lo com
o mesmo olhar de Cristo: um olhar - explicou - que não é "de um
sociólogo ou de um fotojornalista", mas dos "olhos do coração".
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Zenit, 05-10-2015.
Mudanças antropológicas
O arcebispo húngaro começou com uma reflexão sobre a atualidade, na
qual se interligam os desafios que dizem respeito à família: dos efeitos
das injustiças sociais, violências e guerras, que levam milhões de
pessoas a deixarem as suas casas, até problemáticas como os salários tão
baixos que mal permitem a sobrevivência de um homem, muito menos a
criação de uma família. O cardeal analiza também outro fenômeno: “a
assim chamada ‘mudança antropológica’ que corre o risco de se tornar um"
reducionismo antropológico ", para o qual a pessoa" em busca de sua
liberdade, procura, muitas vezes, ficar independente de qualquer
ligação": da religião, como "ligação com Deus", dos laços sociais,
especialmente daqueles relacionados a "formas institucionais da vida".
Fuga das instituições e das responsabilidades
Fuga das instituições e das responsabilidades
Contemplamos também uma “fuga das instituições” – diz o cardeal – que
explica o aumento do número de casais que vivem juntos estavelmente,
mas que não querem contrair nenhum tipo de matrimônio nem religioso nem
civil”. Por outro lado, também quem manifesta o desejo de casar-se é
influenciado pelas mudanças antropológicas que “tocam as camadas mais
profundas do ser humano”.
"Tornou-se moda – observa Erdo – planejar até os
mínimos detalhes as núpcias, prevendo tudo, da música ao cardápio, até
as toalhas da mesa. Vemos jovens casais completamente tomados pela
ansiedade e preocupação de realizarem da melhor forma possível estes
detalhes, mas que, ao mesmo tempo, esquecem do verdadeiro significado do
matrimônio”. Nesse contexto, soma-se também a exaltação da idade na
qual se casa, ou seja, o medo dos jovens de assumir responsabilidades e
compromissos definitivos, como, por exemplo, o matrimônio e a família. E
especialmente uma crescente “instabilidade institucional” que se
manifesta na alta taxa de divórcio.
Indissolubilidade do matrimônio
A este respeito, o relator-geral fala de indissolubilidade do
matrimônio, que não deve ser entendida como “jugo imposto aos homens”,
mas sim como “dom”. Em virtude do sacramento do matrimônio, destaca, de
fato, Erdó, “a família cristã torna-se um bem para a
Igreja", e, ao mesmo tempo, se beneficia por causa da sua inclusão no
contexto eclesial, porque "ajudada a nível espiritual e comunitário nas
dificuldades” e “no guardar a unidão matrimonial”.
Uniões civis e preparação para o matrimônio
A mesma atenção "misericordiosa e realista" - afirma o arcebispo – a
Igreja deve dirigir aos fieis que convivem ou vivem só no matrimônio
civil “pelo fato de não se sentirem preparados para celebrar o
sacramento”. É necessário, segundo o cardeal, uma “sadia pedagogia”,
porque “se a comunidade consegue demonstrar-se acolhedora com estas
pessoas, nas várias situações da vida, e apresentar claramente a verdade
sobre o matrimônio, poderá ajudar tais fieis na decisão do matrimônio
sacramental”.
Acolhida e proximidade com matrimônios e famílias em crise
Desta “íntima” conexão do sacramento do matrimônio com a realidade da
Igreja nasce o dever da comunidade eclesial de “tomar conta também de
todos aqueles que coabitam ou vivem situações matrimoniais e familiares
que não podem transformar-se em matrimônio válido e muito menos
sacramental”. Portanto, os divorciados e casados novamente no civil,
cuja integração na vida da comunidade eclesial – evidencia Erdó
– “pode realizar-se de várias formas, diferente da admissão à
Eucaristia”. É necessário – continua – “um acompanhamento pastoral
misericordioso que, porém, não deixe dúvidas sobre a verdade da
indissolubidade do matrimônio ensinada por Jesus Cristo”.
Comunhão aos divorciados recasados
"A misericórdia de Deus oferece ao pecador o perdão, mas requer a
conversão”; porém, o pecado não é o naufrágio do primeiro matrimônio,
porque “é possível que no fracasso as partes não tenham sido igualmente
culpadas”, esclarece o cardeal, mas sim, “a convivência no segundo
relacionamento”. É isso “que impede o acesso à Eucaristia”, embora se
“tudo isso requer, porém, uma aprofundada reflexão”.
Via penitencial; continência para divorciados e novamente casados
Ao relacionado à assim chamada via penitencial, o arcebispo de Budapeste recorda a Familiaris Consortio de São João Paulo II,
e explica que esta expressão refere-se “a todos os divorciados e
casados novamente, por necessidade dos filhos ou própria, não
interrompem a vida comum, mas que podem praticar na força da graça a
continência vivendo a sua relação de ajuda mútua e de amizade”. “Estes
fieis poderão ter acesso aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia
evitando, porém, o escândalo”, diz o cardeal. E disse que “tal
possibilidade está longe de ser fisicista e não reduz o matrimônio ao
exercício da sexualidade, mas reconhece a natureza e a finalidade,
aplica-a coerentemente na vida da pessoa humana”.
Ajudar separados e divorciados não recasados; filhos “vítimas”
Existem, então, os separados e os divorciados não recasados, que a
Igreja pode ajudar “no caminho do perdão e, se possível, da
reconciliação”. Especialmente, a comunidade eclesial deve contribuir à
escuta dos filhos, “vítimas destas situações”, e “encorajar os esposos
que ficaram sozinhos depois de um tal fracasso, de perseverar na fé e na
vida cristã”. Para tal finalidade, exorta Erdó, “é importante ter, pelo
menos a nível diocesano, centros de escuta” que podem ajudar no momento
tanto antecedente como sucessivo da crise.
Apoio material a famílias "pobres"
Além da ajuda espiritual, o cardeal exorta a criar "estruturas
económicas de apoio" para famílias especialmente afetadas pela pobreza,
desemprego, precariedade de trabalho, falta de assistência
sócio-sanitária ou vítimas da usura. “Toda a comunidade eclesial deve
procurar ajudar as famílias vítimas de guerras e perseguições”, diz.
Homossexuais. Sim para acolhida e respeito...
Em termos de aceitação e de proximidade, Erdo, em seguida, desloca a
atenção para a questão das pessoas com tendência homossexual: tema que
não afeta diretamente a família, mas que pode influenciar a sua vida. O
Sínodo reafirma que "cada pessoa deve ser respeitada em sua dignidade,
independentemente da sua tendência sexual" e deseja "que os programas
pastorais destinem uma atenção especial às famílias em que vivem pessoas
com tendências homossexuais e para essas mesmas pessoas".
... "Não" para uniões entre pessoas do mesmo sexo
No entanto, o cardeal reafirma que “não existe fundamento nenhum para
assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões
homossexuais e a família”. Homens e mulheres homossexuais devem ser
ouvidos “com respeito e delicadeza” e é necessário evitar “toda marca de
injusta discriminação”, mas – afirma o cardeal – é “inaceitável” que
“os Pastores da Igreja sofram pressões nesse ponto e que os organismos
internacionais condicionem as ajudas financeiras aos Países pobres com a
introdução de leis que instituam o ‘matrimônio’ entre pessoas do mesmo
sexo”.
A exploração do corpo feminino; paternidade violada
No discurso introdutório teve espaço também para uma denúncia contra a
“exploração e a violência ao corpo das mulheres”, que, em países em
desenvolvimento traduz-se em “abortos e esterilizações forçadas”, em
outros em “consequências negativas com práticas ligadas à procriação”,
como barriga de aluguel e gâmetas, forçadas pelo “desejo de ter um filho
a qualquer custo". A chamada "revolução bio-tecnológica" - diz o
prelado - "introduziu novas possibilidades de manipular o ato gerador",
tornando a vida humana e a paternidade "realidades montáveis e
desmontáveis”.
Imaturidade afetiva. Pornografia. Comercialização do corpo humano
Neste contexto, o arcebispo húngaro coloca também a problemática da
imaturidade e fragilidade emocional, “efeito de uma verdadeira falta de
educação efetiva e afetiva na família, porque os pais não têm tempo para
os filhos, ou até mesmo se divorciam”. E os filhos não “veem o exemplo
dos adultos, encontram-se só com o comportamente dos seus
contemporâneos”. Assim – acrescenta – “a maturidade afetiva é cerceada e
não consegue se desenvolver”. Nesse contexto a pornografia é colocada e
a comercialização do corpo é favorecida por um uso “distorcido” da
internet: “Assim – adverte Erdó – a crise do casal desestabiliza a família e enfraquece os laços entre as gerações”.
Procriação e natalidade
Causa de tal fraqueza, adverte o cardeal, pode se tornar também uma
“visão individualista da procriação” que resulta numa acentuada queda da
taxa de natalidade. Observando que "a abertura à vida é uma exigência
intrínseca do amor conjugal" e que "a geração da vida não se reduz a uma
variável do projeto individual ou de casal”, o prelado pede uma maior
divulgação dos documentos do Magistério da Igreja “que promovem a
cultura da vida diante da sempre mais difundida cultura da morte”.
Contracepção e adoção
Quanto à responsabilidade generativa, o arcebispo disse que "deve-se redescobrir a mensagem da Encíclica Humanae Vitae do Beato Paulo VI,
que enfatiza a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na
avaliação moral dos métodos de regulação da natalidade". E que "a adoção
de crianças, órfãs e abandonados, acolhidos como filhos, é uma forma
específica de pastoral familiar", incentivada pelo Magistério.
Aborto e eutanásia: a vida humana é sagrada
A tarefa da família é, portanto, de "acolher a vida nascitura e
cuidar de sua última fase". No que diz respeito ao drama do aborto a
Igreja - disse Erdo - "reafirma a inviolabilidade da vida humana",
“oferece aconselhamento para mulheres grávidas, apoia as mães solteiras,
cuida das crianças abandonadas e acompanha aqueles que sofreram o
aborto e tornaram-se conscientes de seu erro".
Também "reafirma o direito a uma morte natural, evitando ao mesmo
tempo, tanto o tratamento agressivo quanto a eutanásia". Porque "a
morte, na realidade, não é um assunto privado e individual".
Conclusão: que o Espírito Santo nos mostre o caminho...
Confiando os trabalhos à Sagrada Família de Nazaré, o cardeal pede um
despertar comunitário para enfrentar o desafio da família hoje, pedindo
“a luz do Espírito Santo para que nos indique também os passos
concretos a serem dados”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário