sábado, 4 de março de 2017

O Salmo na Missa

[afeexplicada]


Chama-se Saltério o conjunto dos salmos de que a Igreja se serve para as suas celebrações, sobretudo na Liturgia das Horas e na Missa. A Igreja faz do Saltério as entranhas da liturgia, e a espiritualidade sálmica sempre foi considerada fundamento da oração cristã, consciência que se desenvolveu mais ainda com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.
Se observarmos com a devida atenção, vamos notar que nos salmos se encontram todas as vicissitudes da vida, desde os brados de angústia, de aflição, de fracassos e de prantos, até os felizes hinos de glória, de exultação, de vitória, de reconhecimento, como também de admiração e de contemplação das maravilhas de Deus. A Igreja herda, pois, do judaísmo a riqueza e a beleza dos salmos., enriquecendo a vida cristã e a beleza de suas celebrações.

SENTIDO CRISTOLÓGICO DOS SALMOS

A Liturgia, em sentido orante e pedagógico, tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, sempre reza o salmo em dimensão cristológica. Vê-se então que o Saltério é um livro profético e messiânico, na direção de Cristo e que se gravita em torno dele. São, pois, cristológicos todos os salmos, e não apenas os chamados “messiânicos”, como se entendia em passado recente.
L. Maldonado e P. Fernández, comentando os Santos Padres, mostram que o sentido cristológico dos salmos segue uma dupla direção. A mais frequente é a chamada cristologização de “baixo para cima”, ou ascendente. Aqui, na voz do autor sálmico, percebe-se a voz de Cristo dirigida ao Pai (“vox Christi ad patrem”). “No homem perseguido e aflito que protagoniza o salmo, a Liturgia descobre o Cristo paciente, servo de Javé, em sua situação de kénosis”, ou seja, de humilhação e de despojamento. É o caso, por exemplo, do salmo 22(21).
Já a outra linha segue uma direção descendente. É a cristologização de “cima para baixo”. Cristo já não é considerado embaixo, na kênosis, mas em cima, em sua glorificação. A voz então que se ouve no salmo é a da Igreja, ou do fiel, que se dirige a Cristo (“vox ecclesiae ad Christum”). Aqui Cristo não mais aparece como sujeito, mas como destinatário, objeto do salmo. Santo Agostinho, unindo as duas perspectivas, diz: “Psalmus vox totius Christi capitis et corporis”, isto é, “o salmo é a voz do Cristo Total, Cabeça e Corpo”.

A IMPORTÂNCIA DO SALMO NA MISSA

O salmo, na missa, faz parte integrante da Liturgia da Palavra, não podendo por isso ser omitido. É prolongamento da palavra bíblica, em sentido poético, lírico e meditativo, tendo portanto o mesmo valor das leituras bíblicas. Constitui resposta da Igreja, com palavras divinas, à oferta salvífica da leitura proclamada. A natureza do salmo exige que seja cantado ou recitado, não simplesmente lido. No exercício de seu ministério litúrgico, o salmista é convidado a cultivar a espiritualidade sálmica, revelando familiaridade com a dimensão orante do salmo e com seu gênero, como que encontrando nele a sua própria voz e seu próprio sentimento.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...