Por Plinio Maria Solimeo
Hoje em dia tudo é pretexto para o aborto,
sobretudo quando o feto apresenta anomalias congênitas tidas como
insanáveis. O que dizer então quando o ultrassom prenuncia um menino
tetraplégico, com os membros e o tronco totalmente paralisados? Que mãe
em nossos dias tem coragem e fé suficientes para permitir que ele nasça?
Pois foi o que ocorreu no início do século
XI com Hermann Contractus, ou Hermano Contraído ou Aleijado, que se tornou um
dos maiores gênios já vistos pelo mundo.Esse menino tão disforme, incapaz de caminhar ou de se movimentar, e consequentemente incapacitado para qualquer estudo, nasceu no dia 18 de julho de 1013 em Altshausen, na Alemanha.
Comenta o site espanhol Religion em libertad, do qual extraímos esta matéria: “Em qualquer civilização não cristã, de qualquer época e latitude, uma pessoa como Hermann teria sido eliminada, ou não teria nascido. Por que seus pais decidiram não eliminá-lo? Por que os monges de Reichenau decidiram não eliminá-lo? Por que ele, nas dramáticas condições de dor física em que vivia, não pediu para ser eliminado? Mons. Luigi Giussani assim nos explica: ‘Porque para ele Deus era incomensuravelmente mais pertinente e existencialmente mais vivo do que para nós. Só Cristo dá um sentido de Deus tão concreto, poderoso, incisivo, dominante e apaixonante’. Sim, só Cristo dá. E uma sociedade que renega este aporte não é uma sociedade mais evoluída ou mais moderna. É apenas uma sociedade mais pobre e mais cínica”.
Quando os monges começaram a lhe ensinar as primeiras letras, perceberam que Herman possuía uma inteligência muito acima da média, o que o levava a aprender a ler e escrever com facilidade. Então o fizeram estudar. Aprendeu latim, grego e árabe e se tornou perito em várias ciências. Fez-se monge aos vinte anos e passou o resto de sua vida na Abadia que o acolhera.
Desdobrando-se em solicitude, os bondosos monges haviam construído para ele uma cadeira transportável que lhe permitia ser levado para onde necessitasse. Nela, entretanto, devia permanecer sempre em uma posição, pois qualquer movimento lhe era doloroso.
Hermann escreveu também obras espirituais dedicadas a religiosas e sacerdotes; tratados sobre a ciência da música; diversas obras sobre geometria e aritmética; as gestas de Conrado II e de Henrique III; compôs o Ofício litúrgico de alguns santos (São Gregório Magno, Santa Afra de Augusta, Santos Gordiano e Epímaco e Wolfgang de Regensburg). Além disso, escreveu sequências sobre a Virgem Maria, a Cruz e a Páscoa.
Quando no final da vida ficou cego, Hermann começou a escrever hinos religiosos, tanto a letra quanto a música, a mais conhecida das quais é asublime antífona Salve Regina (Salve Rainha). Compôs também a letra e música da Alma Redemptoris Mater, que uma alma bem formada não pode ouvir sem profunda emoção.
Comenta Religion en Libertad: “Enquanto compunha o canto da Salve Regina e escrevia o verso gementes et flentes in hac lacrimarum Valle (gemendo e chorando neste vale de lágrimas), Hermann se referia também ao sofrimento que lhe causava sua própria condição física. É incrível que um dos raros hinos que sobreviveram à reforma litúrgica post-conciliar, e que ainda se canta nas igrejas há mais de mil anos, seja precisamente composto por um tetraplégico, um incapaz, uma pessoa que a mentalidade de hoje definiria como ‘indigna de viver’; mais ainda, inclusive ‘indigna de nascer’, e que, com toda probabilidade, na sociedade atual, seria abortada. O fato de que se continue a cantar há mais de um milênio a Salve Regina parece realmente uma dádiva de Deus”.
Continua Religión em Libertad: “Dizia Giussani: ‘Como pode uma existência de sofrimento tornar-se tão rica e amável? Essa energia conferida pela adesão à realidade última das coisas permite utilizar também o que o mundo que nos rodeia considera inutilizável: o mal, a dor, o cansaço de viver, a incapacidade física e moral, o aborrecimento, inclusive a resistência a Deus. Tudo pode ser transformado e mostrar maravilhosamente os efeitos de sua transformação quando se vive em função da realidade verdadeira: se ‘se oferece a Deus’, como reza a tradição cristã. Oferecer a Deus qualquer miséria é o contrário da abdicação, de uma aceitação automática, de uma resignação passiva; é o vínculo, afirmado de maneira consciente e enérgica, da própria particularidade com o universal’. Hermann soube ser uma testemunha luminosa dessa transformação em seu oferecimento a Deus com uma serenidade que causou assombro entre seus contemporâneos”.
Esse gênio santo e sofredor entregou sua bela alma ao seu Criador no dia 24 de setembro de 1054, com apenas 41 anos de idade. Seu fiel discípulo Bertoldo assim descreve seus últimos dias: “Quando, afinal, a bondade amorosa do Senhor se dignou libertar sua santa alma da tediosa prisão do mundo, ele teve uma pleurisia, e sofreu durante dez dias uma grande dor’. Em seu leito de morte, Hermann consolou seu discípulo, que o velava triste, com estas últimas palavras: ‘Não chores por mim, meu amigo. Sinta-te feliz e contente com meu destino. Pensa cada dia que tu também terás que morrer, e esforça-te para estar sempre preparado para esta eventualidade, e reflete sobre tua última viagem, porque não sabes nem a hora nem o dia que me seguirás, a teu queridíssimo amigo Hermann’. Dizendo isto, expirou”, após ter recebido a Sagrada Eucaristia.
Embora tivesse sido imediatamente venerado como santo, o culto a Hermann Contractus só foi oficialmente confirmado pela Igreja em 1863, quando foi beatificado pelo imortal Papa Pio IX.
Texto da OraçãoSalve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre. |
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Fonte - abim
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