[IHU]
6/8/2011
Em poucas semanas, um obscuro sacerdote de província, embora com um brilhante futuro como professor na prestigiosa Pontifícia Universidade João Paulo II de Cracóvia (repentinamente fechada pelo bispo em 26 de maio passado), converteu-se no inimigo público número um da Igreja polonesa.
A reportagem é de Marek Lehnert e está publicada no sítio Vatican Insider, 04-08-2011. A tradução é do Cepat.
O sacerdote foi acusado de querer atentar contra a unidade eclesiástica. O padre Piotr Natanek, nascido em 1960, reitor da cartuxa de Niepokalanow em Grzechynia, ao sul da Polônia, perto da fronteira com a Eslováquia, é um tipo robusto e aparentemente afável, que, no entanto, demonstrou ser um novo Savonarola. Encontra motivos de crítica que lança contra todos, inclusive a hierarquia. Sua ferocidade nos juízos teria pouca importância se não existisse a lupa da internet. Em poucos dias o sermão do padre Natanek contra as incursões de Satanás na vida da juventude polonesa, filmado em um vídeo por um admirador, foi visto na rede por mais de meio milhão de pessoas. E isto, segundo parece, foi demais para o seu bispo, que é o cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi secretário particular de João Paulo II. Fez examinar o caso por uma comissão teológica constituída para tal fim e depois tomou a decisão de suspender o sacerdote rebelde a divinis por manifesta desobediência: havia recebido já uma advertência e teria tido que ser mais equilibrado.
Quem explica o fato é o próprio dom Stanislaw em uma carta de 20 de julho passado, na qual recorda o padre Natanek, “conhecido por suas controvertidas homilias e mensagens postadas na rede”, que não obedeceu às diretrizes disciplinares de 28 de janeiro de 2010, não fez caso das advertências canônicas de 27 de maio de 2007, de 23 de fevereiro de 2009 e de 9 de abril de 2010; ignorou o convite para uma conversa com seus superiores, segue manifestando suas danosas declarações embora lhe tenham sido proibidas, divulga opiniões não aprovadas pela Igreja com relação à nobreza de Jesus Cristo, baseadas nas revelações privadas e inspiradas em seitas escatológicas alheias ao ensinamento da Igreja católica, e além do mais coloca em dúvida a autoridade dos pastores; para não falar de celebrações de casamento sem o necessário mandato.
O cardeal Dziwisz informou ao padre Natanek que com suas atividades está prejudicando os fiéis que o seguem e a totalidade da comunidade eclesial, razão pela qual merece plenamente a pena prevista pelo cânon 1371 do Código de Direito Canônico e também aquela prevista pelo cânon 1393, por ter reincidido e não ter ouvido as advertências. Como única resposta, quatro dias depois, o sacerdote celebrou uma missa pública durante a qual, sem meias palavras, acusou o seu bispo de ser um maçon.
Ao mesmo tempo, um grupo de seus seguidores escreveu ao núncio apostólico na Polônia, dom Celestino Migliore, uma carta na qual o defendem, afirmando entre outras coisas que “a verdadeira ameaça para a Igreja polonesa não é o padre Piotr Natanek nem outros como ele, mas a própria Hierarquia”. A carta, que teria que chegar inclusive ao Papa, já foi assinada por mais de 1.400 pessoas. “Com grande pesar lhe informamos sobre os contínuos ataques ao padre Natanek por parte das hierarquias da Igreja, inclusive o arcebispo de Cracóvia – escrevem seus defensores – nós, fiéis à Igreja católica, não temos medo do padre Piotr Natanek, como nos sugeriram, mas da hierarquia, que introduz muitas novidades e se afasta da Sagrada Tradição”. O sacerdote rebelde, comparando-se com dom Marcel Lefebvre, excomungado durante o pontificado de João Paulo II (que é outro motivo de seu distanciamento), afirmou aos seus fiéis: “finalmente tereis Santas Missas válidas e dignas”.
Sua inventiva não tem consideração com ninguém e de fato passou do insulto à difamação de prelados mortos. Com respeito ao defunto dom Józef Zycinski, o arcebispo de Lublin que morreu há poucos meses em Roma, conhecido intelectual que apostava na Europa, o padre Natanek “revelou” que “agora o bispo se encontra no inferno, amarrado com a corrente mais forte que existe a Maomé” e “seus lamentos chegam até o céu”.
Às vítimas das chuvas torrenciais e dos vendavais que açoitaram recentemente muitas zonas da Polônia, o sacerdote suspenso a divinis aconselhou que peçam a indenização por danos à cúria de Cracóvia, acusando esta última de ter provocado os desastres. Suas ações teatrais se renovam a cada dia: recentemente, deixou na lona uma equipe da TV comercial TVN, depois de maldizê-la com uma fórmula.
Aos seus fiéis sequazes, o padre Piotr Natanek declara com segurança: “Tenho que conduzi-los ao céu com a coerção, inclusive se tratais de vos opor”. No fundo, sua força, segundo parece, se deve principalmente ao fato de que se fala constantemente dele.
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