30/06/2012
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 29-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Havia muita expectativa pelas palavras que Bento XVI pronunciou na manhã dessa sexta-feira durante a homilia da festa de Pedro e Paulo, padroeiros da Cidade Eterna, durante a cerimônia que começou com a entrega dos pálios aos novos arcebispos metropolitanos, sinal do vínculo especial com o bispo de Roma. Alguns pensavam que o pontífice faria referências explícitas aos recentes acontecimentos do Vatileaks.
Ratzinger,
no fundo, fez isso, mas à sua maneira, com uma homilia centrada no
serviço do sucessor de Pedro. Acima de tudo, ele lembrou que "Pedro e Paulo,
embora muito diferentes humanamente um do outro e apesar de não terem
faltado conflitos no seu relacionamento, realizaram um novo modo de ser
irmãos, vivido segundo o Evangelho, um modo autêntico que se tornou
possível justamente por causa da graça do Evangelho de Cristo operante
neles". Somente "o seguimento de Jesus", de fato, "leva à nova
fraternidade".
Depois, o papa, referindo-se ao trecho evangélico do primado, refletiu sobre o significado de ser "rocha". "De que modo Pedro é a rocha? Como ele deve implementar essa prerrogativa, que naturalmente não recebeu por si mesmo?", perguntou-se. Bento XVI
lembrou que Pedro, precisamente, quando não entende a verdadeira missão
de Jesus que deverá passar pelo sacrifício da cruz, chega a repreender o
Messias, que o censura duramente, chamando-o de Satanás: "Afasta-te de
mim, Satanás! Tu és um escândalo para mim".
"O discípulo que, por
dom de Deus, pode se tornar uma rocha sólida, também se manifesta por
aquilo que é, na sua fraqueza humana: uma pedra no caminho, uma pedra
onde se pode tropeçar – em grego, skandalon", disse o papa.
"Aqui aparece evidente – acrescentou – a tensão que existe entre o dom
que provém do Senhor e as capacidades humanas; e, nessa cena entre Jesus e Simão Pedro,
vemos de algum modo antecipado o drama da história do próprio papado,
caracterizada justamente pela copresença desses dois elementos: de um
lado, graças à luz e à força que vêm do alto, o papado constitui o
fundamento da Igreja peregrina no tempo; de outro, ao longo dos séculos,
também emerge a fraqueza dos seres humanos, que só a abertura à ação de
Deus pode transformar".
Os homens da Igreja, a própria "rocha" representada pelo bispo de Roma,
devem estar conscientes da sua fraqueza e do fato de que a eficácia do
seu serviço não depende da sua bravura, das capacidades, das
estratégias. Ao contrário, depende – explicou Ratzinger – do fato de serem seguidores do Nazareno e do fato de estarem abertos à ação de Deus.
Mas o papa também fez referência à promessa de Jesus: as portas do inferno não prevalecerão (non prevalebunt, expressão significativamente aposta também no cabeçalho do L'Osservatore Romano). Pedro "deverá
ser defendido do poder destrutivo do mal" e deve ser "tranquilizado com
relação ao futuro da Igreja, da nova comunidade fundada por Jesus
Cristo e que se estende a todos os tempos, para além da existência
pessoal do próprio Pedro".
Bento XVI explicou que "a autoridade de ligar e desligar", que pertence ao sucessor de Pedro, "consiste no poder de perdoar os pecados. E essa graça, que tira energia das forças do caos e do mal, está no coração do ministério da Igreja". "Ela – acrescentou – não é uma comunidade de perfeitos, mas sim de pecadores que devem se reconhecer necessitados do amor de Deus, necessitados de serem purificados através da Cruz de Jesus Cristo".
Ao término da cerimônia, o papa, no Ângelus,
pronunciou uma frase que confirma mais uma vez a falta de fundamento
dos rumores sobre a sua renúncia: "Conto também com as suas orações para
continuar servindo a Igreja com a mansidão e a força do Espírito
Santo".
A integra da homelia de Bento XVI pode ser lida, em português clicando aqui.
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